Ataque de vírus a molécula causa os sintomas da doença.
Ao impedi-lo, cientistas conseguiram controlar a inflamação.
Marília Juste do G1, em São Paulo

ma nova técnica pode conseguir amenizar os sintomas da dengue, reduzir a febre e conter a hemorragia sem afetar a resposta do sistema de defesa do organismo à infecção. A descoberta foi divulgada na edição desta semana da publicação científica “Nature” e, se tudo der certo, deve começar a ser testada em seres humanos dentro de três a cinco anos.

A dengue não é uma dor de cabeça exclusiva do Brasil. A doença é a infecção transmitida por artrópodes (o grupo que inclui insetos, centopéias e aracnídeos, entre outros) mais comum entre humanos. Ao todo, ela atinge 50 milhões de pessoas em mais de cem países de clima tropical todos os anos. E com o aquecimento global, a expectativa é que os casos aumentem em todo o mundo.

O tratamento da dengue é sintomático. A única coisa a fazer é esperar que a infecção se resolva sozinha. O que parece simples, mas não é, porque os primeiros sinais do vírus são muito parecidos com os de uma gripe. O gráfico abaixo mostra um pouco mais sobre a doença.

Embora os cientistas ainda estejam longe de uma vacina efetiva, a descoberta feita pelo grupo da Universidade Nacional Yan-Ming, em Taipei, Taiwan, promete. A equipe de Shie-Liang Hsieh identificou uma maneira de reverter a febre hemorrágica causada pela doença.

A molécula, chamada de CLEC5A, é um alvo dos diferentes vírus da dengue. É a interação com ela que faz a doença desencadear o processo da febre. Ao bloquear essa ação, os cientistas conseguiram evitar a inflamação sem atrapalhar em nada a resposta do organismo à doença. E melhor ainda: só com essa intervenção, 50% das cobaias se livraram completamente do vírus.

Hsieh acredita que a descoberta pode ajudar também pacientes com outras formas de dengue que não a hemorrágica. “Ela é capaz de reduzir os sintomas da infecção por dengue como um todo. A doença geralmente causa dores intensas devido à inflamação e um anticorpo anti-CLEC5A pode reduzir o processo inflamatório e aliviar o problema”, afirmou ele ao G1.

“É a primera vez que se levanta a possibilidade de controlar a inflamação sem atenuar a imunidade”, explica Hsieh, que levanta ainda mais um benefício da novidade. “Baseado na semelhança de todos esses vírus [da dengue e de outras doenças, como a febre do Nilo Ocidental e a encefalite japonesa], esse anticorpo deve poder ser aplicado contra outros exemplares dessa família também”, afirmou.

Por enquanto, os resultados só foram obtidos em camundongos, e ainda faltam muitos passos antes que possam ocorrer testes em seres humanos. Segundo Hsieh, deve levar de três a cinco anos até que esses testes sejam feitos. Só depois disso, se a efetividade e a segurança da terapia forem comprovadas, a técnica pode virar um novo tratamento a ser seguido pelos pacientes.