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O F-18 Super Hornet para o Brasil
Entrevista com Bob Gower, vice-presidente para a linha de produtos F-18 dentro da divisão Global Strike Systems da Boeing a Agência Linha de Defesa

Fonte: Base Militar

Ao concluir sua visita ao Brasil, Bob Gower, vice-presidente para a linha de produtos F-18 dentro da divisão Global Strike Systems da Boeing, deu uma longa e ampla entrevista à ALIDE sobre o F-18E/F Super Hornet e suas perspectivas de sucesso na concorrência F-X2.

Alide: O
mercado global de caças se encontra aparentemente “encantado” pelas novas capacidades agregadas pelos assim chamados “Caças de 5ª geração” como o F-22, F-35 e o futuro PAK-FA. No ponto de vista da Boeing, qual a oportunidade de mercado para um caça médio-pesado de 4ª geração como o F-18E/F.

Bob Gower: Uma coisa precisa ficar bem clara, termos como “quarta” e “quinta geração” são meros rótulos de marketing usados pelos vários fabricantes para tentar distinguir seus produtos... Para nós, muito mais importante é a maneira pela qual a aeronave se posiciona em relação às capacidades da ameaça que se confronta com ela. O F-18E/F é o que nós chamamos de um “balanced approach”, uma proposta “equilibrada”. Nele, se por um lado, temos uma ênfase menor nas formas exteriores “stealth”, nós colocamos uma atenção renovada nos seus aviônicos de última geração. Com isso, nossa “conectividade” é hoje espetacular, superior a tudo que existe ofertado no mercado. E tenho certeza que nossos clientes concordam conosco, pois, há muito tempo que não recebemos tantos pedidos de informação (RFIs) e de proposta (RFPs).

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Outro ponto importante é que toda vez que alguém coloca um sistema de defesa novo em operação, os cientistas e técnicos do lado oponente imediatamente reagem com o desenvolvimento de novas armas e sensores para contrapor-se a esta ação inicial. Para nós, o diferencial de verdade está na arena dos múltiplos sensores e na fusão destes dados todos para melhor orientar o combatente sentado no cockpit. Para a Boeing, os múltiplos sensores, sejam eles internos ou externos, são o melhor caminho para o futuro. A integração completa dos sensores faz com que um alvo identificado por um sensor infra-vermelho (IRST) possa ser re-avaliado em tempo real por um estreito feixe do nosso radar AESA. Assim ganhamos tempo, expomos menos o piloto ao MAGE inimigo, e provemos mais certeza de informação para que o piloto possa tomar suas decisões.

Alide: Existe alguma credibilidade nas informações veiculadas recentemente sobre versões avançadas, “stelthificadas”, do F-18 em desenvolvimento, para além dos modelos E/F.

BG: Desde o início da década de 80, uma série de programas de pesquisa e de desenvolvimento de novas tecnologias buscava produzir os componentes e tecnologias que seriam necessários para equipar os novos modelos de caças que viriam a substituir o F-16 e F-18 clássicos além outros modelos então em operação. A partir de 1993 o programa JAST consolidou todo estes esforços e assim acabou viabilizando o F-22, o F-35 e também o F-18E/F Super Hornet. Enquanto os dois primeiros modelos focaram mais no aspecto de furtividade (stealth), no caso do Super Hornet, o direcionamento foi conduzido para o lado de novos sensores e de conectividade ampliada. A US Navy já definiu um “Road Map” (plano de implementação gradual de melhorias) para o F-18, com seu orçamento já plenamente garantido. Os planos atuais determinam que o F-18E/F permanecerá em serviço nos EUA até, no mínimo, o ano de 2035. Como eu disse antes, nossa estratégia para este modelo é verdadeiramente “equilibrada”, prevendo a adição, ao longo dos anos, de uma grande quantidade de melhorias por todos os sistemas. Quando a US Navy nos pediu uma solução para substituir os F-18C/D nós já estávamos bem adiantados (“ahead of the game”) e tínhamos várias soluções possíveis nas mãos. O F-18 E/F inicial, o chamado “Block 1”, visava implementar de saída uma série de melhorias de performance e de capacidade de carga de armamento. Sua nova fuselagem era [cerca 20%] maior que a dos F-18 clássicos, carregava [33%] mais combustível internamente e novas armas. Preparado para o futuro, esse modelo apresentava novas turbinas [35%] mais potentes e muito maior capacidade de refrigeração (cooling) e de fornecimento de eletricidade. Para simplificar e reduzir o risco do programa, o “Block 1” foi entregue com os mesmos aviônicos que eram padrão no último lote de F-18C/D. O F-18 do “Block 2” veio em seguida, agregando a esta nova célula, toda a aviônica moderna que faria parte das nosso avião proposto durante a disputa JSF. O desenvolvimento do Block 2 demandou um investimento de USD 4,9 bilhões adicionais da US Navy.
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Alide: As novas funções de “ataque eletrônico” presentes no radar AESA APG-79 compensam a falta de características “stealth” da célula?

BG: Sem dúvida alguma, o novo radar muda completamente tudo o que sabemos sobre a guerra eletrônica (EW). Todas as táticas terão que ser revisadas nos próximos anos, especialmente pelo fato do piloto passar a ter uma percepção muito ampliada sobre o que esta ocorrendo naquele momento no campo de batalha aérea. O sistema AESA faz com que haja uma redução marcante na assinatura eletrônica do avião, quando comparado com os radares de antenas apontadas mecanicamente. Quando os primeiros esquadrões de Super Hornet operacionais retornaram de seus deployments no Oriente Médio, já estava claro que novas táticas teriam que ser escritas para extrair a máxima vantagem dos novos sistemas eletrônicos embarcados.

Alide: A Suíça recentemente descartou o Super Hornet da concorrência para substituir seus veteranos Northrop F-5E. O que ocorreu neste caso?

BG: Na realidade, a coisa não foi bem assim. Nós mesmos decidimos por não continuar no processo porque os requerimentos técnicos exigidos apontavam para um nicho abaixo do mercado-alvo do F-18E/F. Os suíços, na realidade, até desejavam que continuássemos na concorrência, mas, eles não estavam no mercado visando adquirir o “melhor caça disponível”, queriam apenas um novo caça leve para substituir seus F-5E.

Alide: Qual é o ritmo da produção atual do Super Hornet?

BG: Bem, este ritmo muda ano a ano, de acordo com as necessidades dos clientes e da empresa. No ano passado, por exemplo, fabricamos um total de 44 unidades. Para este ano, a previsão é de entregarmos 45 aviões. Devido à venda para a Austrália e da entrada em produção do EA-18 Growler, estamos acelerando a produção para alcançar um patamar de mais de 50 aeronaves por ano. Mas, se novas vendas ocorrerem, para o Brasil, por exemplo, poderemos aumentar, ainda mais, este ritmo.

Alide: A recente compra de Super Hornets pela Austrália foi peculiar ao envolver apenas células bi-places. Para a área comercial da Boeing, isso demonstra algum tipo de nova tendência de mercado?

BG: Não creio que possamos ver aí alguma “tendência de mercado”. Na realidade, a escolha por aviões de caça bi-places ou mono-places tem muito mais a ver com a cultura operacional peculiar de cada força aérea. No caso específico da Austrália, estes aviões foram comprados para substituir os General Dynamics F-111, que, como você bem sabe, é um avião de ataque bi-place. Na RAAF existe uma percepção de que o segundo tripulante é importante e útil para auxiliar na compilação de todas as centenas de informações que chegam ao piloto durante o procedimento de ataque ao solo.

Alide: Os F-18s Clássicos venderam muito bem para vários clientes internacionais de destaque como: Canadá, Austrália, Espanha, Finlândia, Suíça, Malásia e Kuweit. Destes, apenas a Austrália parece ter decidido adquirir a nova versão E/F. A Boeing encara os demais clientes do Hornet como potenciais para adotarem o Super Hornet?

BG: Para este grupo de clientes, especificamente, nosso foco principal está em apoiar a operação dos seus Hornets atuais. Pelo que nós percebemos, nenhum deles, além da Suíça sobre qual já falamos anteriormente, se encontra no momento de adquirir novos caças neste momento.

Alide: O novo caça de guerra eletrônica
EA-18G Growler já se encontra disponível para exportação? Ele está sendo oferecido ao Brasil?

BG: Bem, nas próximas semanas está previsto começar o período de avaliação operacional do Growler na US Navy. A conclusão desta fase deve ocorrer apenas no final de 2009. Os clientes estrangeiros, por definição, só passam a demonstrar interesse num novo produto quando ele conclui esta fase de Avaliação Operacional nas forças armadas americanas. Por isso, estamos esperando o interesse surgir em 2009, e a partir deste momento, estaremos prontos a oferecer e suportar este produto para clientes no exterior.

Alide: A Boeing se encontra disputando tenazmente a concorrência MMRCA na Índia. Como no Brasil, lá eles esperam uma proposta profunda de transferência de tecnologia, incluindo até a fabricação das aeronaves pela indústria local. Quais as semelhanças e diferenças entre os requerimentos de transferência de tecnologia da Índia e do Brasil?

BG: É verdade, ambos os países incluíram cláusulas de transferência de tecnologia nas suas concorrências, mas, os objetivos específicos aparentemente são bem distintos. Enquanto a Índia foca sua intenção na construção local dos aviões selecionados, o Brasil busca um conjunto estreito de tecnologias que avancem o potencial de sua indústria de uma forma mais ampla, bem além dos limites do programa F-X. O Brasil tem uma indústria bastante avançada e de competência reconhecida no mundo aeroespacial. Eu vejo o Brasil buscando estabelecer relações industriais internacionais de natureza mais igualitária (“peer-to-peer”) ao invés de se bastar com um formato mais simples, algo como “pai-filho”. Dentro do “Request for Information” havia um item que especificava cerca de 10 tecnologias-chaves que o Brasil deseja adquirir. Algumas destas teriam que ser absorvidas por órgãos de pesquisa do setor, como o CTA/ITA. Outras, naturalmente, seriam mais da alçada da Embraer, e outras, ainda, viriam a ser úteis para alguma das várias empresas médias de componentes para a indústria de defesa/aeroespacial que começam a se destacar no Brasil. Eu acho inclusive que esta estratégia da FAB para obter novas tecnologias está, sem dúvida, sendo implementada de uma maneira particularmente inteligente. Parece que o objetivo deles é “aprender a pescar” e não apenas “obter os peixes”. A Força Aérea Brasileira está buscando maneiras de capacitar a indústria local para aprender a projetar e desenvolver suas próprias “caixas”. Um elemento importante é lembrarmos que a tecnologia avançada também tem seu “prazo de validade”. Se a indústria local não tiver como aproveitar essa tecnologia dentro de um prazo curto, o valor da transferência pode diminuir, ou mesmo, vir a desaparecer.

Alide: No F-X inicial a Boeing optou por não participar da concorrência logo no seu início. Porque isso ocorreu? O que mudou para que a Boeing estivesse interessada em participar agora?

BG: Isso ocorreu há muito tempo, numa época em que eu não fazia parte do grupo ainda. Mas o que sei, é que, naquele momento, o Super Hornet ainda se encontrava bem no início da produção, numa fase natural de qualquer programa industrial onde se conjugavam capacidades operacionais ainda restritas e de altíssimos custos. Tendo isto em vista, ficou evidente para a Boeing que dificilmente nós conseguiríamos atender ao requerido dentro do orçamento previsto para o F-X. Desde então, nosso custo unitário caiu sensivelmente desde a época dos aviões do “Block 1”, e as características operacionais melhoraram demais. Isso esta acontecendo com o F-35, e sem dúvida irá passar também com o PAK-FA russo. No nosso caso, diferentemente do que ocorreu naquela época, nós acabamos de entrar no ponto ideal de custo benefício, o verdadeiro “sweet-spot”. Esta é a nossa melhor hora, já entregamos mais de 360 Super Hornets, nos encontrando quatro meses adiantados em relação ao cronograma de entrega acertado. Desta vez, o cronograma do F-X2 está muito agressivo, nós retiramos o documento de solicitação de informações (RFI) no dia 12 de junho e a data para sua apresentação era apenas 45 dias depois, no dia 30 de julho. O RFI do F-X2, com cerca de 100 páginas impressas, foi muito bem escrito e organizado. Não foi muito difícil para nós responder ao RFI, uma vez que a maioria do que nos foi solicitado já estava apurado para a participação em outras concorrências. O RFP deve ser muito mais detalhado, por isso mais extenso. Como comparação, nossa resposta ao RFP da Índia tinha nada menos que 8.000 páginas. A FAB está de parabéns por sua objetividade, assim ela evitou que árvores demais fossem sacrificadas apenas para preparar nossa resposta. Nossa expectativa, pelo que conversamos com a FAB, é que o RFP venha a ser emitido ainda antes do fim do ano. Se tudo correr assim, as datas de anúncio do vencedor do F-X2, previstas pela imprensa para abril de 2009, seriam bastante alcançáveis.

Alide: Que tipos de off-sets serão ofertados ao Brasil caso o programa F-18E/F seja escolhido vencedor do F-X2?

BG: A Boeing tem uma excelente história em relação à aplicação de programas de off-set. Ao longo dos anos nós já cumprimos cerca de 30 bilhões de dólares, apenas em programas de off-set em vendas internacionais, e isso, sempre dentro dos prazos acertados. Neste caso em especial, os termos do off-set ainda não foram devidamente detalhados no RFI, esperamos que isto venha a ser explicado em profundidade no RFP.

Alide: Os caças americanos têm sido repetidamente percebidos no Brasil como “propostas inviáveis”, especialmente, devido às restrições impostas pelo Departamento de Estado para a transferência de tecnologia militar avançada. Esta proposta do Super Hornet para a FAB poderá atender, por completo, às exigências de acesso aos códigos fontes dos sistemas embarcados?

BG: Sim, ela poderá. A relação política entre os EUA e o Brasil, duas potências econômicas de grande importância no mundo, segue numa tendência de melhora contínua. Embora a Boeing esteja aqui apresentando o produto e esclarecendo dúvidas, caso ele venha a ser concluído, este negócio será realizado como venda “governo a governo”, ofertado dentro do formato Foreign Military Sales (FMS). Caberá ao governo americano a compra destes aviões da Boeing para sua posterior revenda ao Brasil. Sem o apoio absoluto e completo do governo americano, nós não teríamos nada o que fazer aqui agora.


Alide: Ventila-
se na imprensa brasileira que o pedido inicial seria para 36 células, com o número total alcançado entre 100 e 120 aeronaves. O que diz no RFI?

BG: Exatamente, o RFI estipula 36 células e nada mais. Nós estamos nos focando exclusivamente nestas 36 aeronaves, o que vier depois nós consideraremos e responderemos no futuro.

Alide: Tendo em vista a origem naval do Super Hornet, existe alguma conversa em andamento no sentido de padronização da frota de caças da FAB e da Marinha do Brasil? Complementando, o F-18E/F poderia operar desde o convôo do navio-aérodromo São Paulo?


BG:
Responden
do primeiro a sua segunda pergunta: sim, o Super Hornet pode operar desde o porta-aviões brasileiro. Inclusive, nós concluímos que o Super Hornet pode operar até mesmo de porta-aviões menores que o São Paulo, usando apenas ski-jump como auxílio. Isso foi apurado, recentemente, para atender às necessidades expressadas pela Marinha Indiana. Mas, como disse antes, nosso foco neste momento é a seleção do novo caça da FAB, considerações sobre caças da Marinha ficarão para depois.

Alide: A Força Aérea Brasileira usa um padrão de datalink local, distinto dos sistemas padronizados pela OTAN. O F-18 receberia estes sistemas na fábrica, ou eles seriam instalados, posteriormente à entrega, já no Brasil?

BG: Esta questão é uma das que ficou para ser detalhado/decidido dentro do Request for Proposal (RFP) a ser emitido no futuro pela FAB. Mas não vejo isso como nenhum “bicho de sete cabeças”, uma vez que é um requerimento relativamente comum. O que, sim, constava do RFI era um questionamento detalhado sobre os tipos de datalinks que já se encontram habilitados/disponibilizados na nossa aeronave.

Alide: O Congresso dos Estados Unidos já autorizou a venda dos F-18E/F e de seu armamento para o Brasil?

BG: Como falamos antes, como esta será uma venda via o programa FMS, o fato de que o governo americano já nos autorizou para a venda do Super Hornet Block 2 ao Brasil é prova clara do conforto do governo americano com este negócio e com o Brasil como parceiro na esfera militar.
As Forças Armadas devem receber do governo 6 bilhões de reais para gastar com armas. A questão — o país ganha com isso?


Fonte: Revista Exame -Por Angela Pimenta

Desde que deixaram o poder, nos anos 80, os militares brasileiros não aguardavam o 7 de Setembro com tanta ansiedade. No próximo Dia da Pátria, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deverá anunciar uma nova política para equipar as Forças Armadas com a compra e o desenvolvimento de novos equipamentos bélicos — um pacote de gastos estimado em 6 bilhões de reais até o fim de 2010. “Esse é um projeto de Estado, não de governo”, disse Jobim a EXAME. “O Brasil precisa de uma estrutura de defesa compatível com seu novo papel de destaque no cenário internacional.” Longe de ser apenas uma aspiração da caserna, o programa de reaparelhamento das Forças Armadas tem amplo apoio do governo Lula, do Congresso e de uma azeitada engrenagem de lobby pró-indústria nacional. Segundo Jobim, a idéia é favorecer empresas brasileiras e consórcios com parceiros estrangeiros dispostos a transferir tecnologia. Tudo com o suporte de linhas de financiamento do BNDES.

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O investimento nas Forças Armadas tem três objetivos imediatos: exibir músculo militar aos países vizinhos, induzir à criação de um parque industrial bélico brasileiro e fomentar a exportação de armas para países da América Latina, da África e da Ásia. “O Brasil tem cerca de 500 empresas em condições de produzir equipamentos modernos, como aviões, tanques, navios, mísseis e sistemas de software para vigilância”, diz Jairo Cândido, diretor do departamento de defesa da Fiesp. A preferência pela produção nacional ficou clara no ano passado, quando a Aeronáutica suspendeu a importação de 36 caças supersônicos, a um custo de 2,2 bilhões de dólares, para fabricá-los no Brasil, num consórcio que deverá juntar a Embraer a um fornecedor estrangeiro a ser definido. “Se tivermos de optar entre uma aeronave supermoderna e outra um pouco menos avançada, mas que proporcione capacitação tecnológica, vamos ficar com esse modelo intermediário”, diz Jobim. O mesmo critério tem norteado as primeiras licitações militares, retomadas graças ao aumento da arrecadação federal. É o caso do contrato de quase 50 milhões de reais conquistado pela Iveco, do grupo Fiat, no ano passado, para desenvolver uma nova geração de tanques Urutu 3.

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Várias nações do mundo atuam na área militar com a meta colateral de desenvolver tecnologia que acaba servindo para outras indústrias — como é o caso de Estados Unidos e Reino Unido. Nesse sentido, a opção pela indústria local em detrimento de importações não chega a ser uma invenção do governo Lula. É claro que essa escolha sobrecarrega o contribuinte, que não deve estar lá muito convencido da necessidade de gastar tanto dinheiro em armas — vale lembrar que toda a história do Brasil em guerras pode ser contada em alguns minutos. O maior problema, porém, é que não dá para saber de antemão qual o saldo tecnológico do pacote imaginado por Jobim. Afinal, essa não é a primeira vez que o país alimenta a pretensão de desenvolver uma indústria bélica forte. Durante o regime militar, o Brasil gastou bilhões de dólares a fundo perdido para tentar construir um setor de armamentos. Nos sonhos mais delirantes, estávamos caminhando para ser uma potência nuclear.

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O governo, claro, diz que desta vez a história será diferente. A favor do pacote de Jobim está o fato de os investimentos planejados se concentrarem no ainda pouco explorado nicho do mercado de combate a guerrilhas. Na próxima década, o Exército planeja ter 1 200 tanques em áreas de fronteira, como a Amazônia. Outra prioridade do governo — e da Petrobras — é a proteção da megarreserva petrolífera de Tupi, na região sudeste da costa brasileira. Uma das medidas tomadas para reforçar a defesa oceânica foi acelerar o desenvolvimento de um submarino de 6 000 toneladas movido a energia nuclear, um polêmico projeto iniciado em 1979 e que andou engavetado nos últimos anos. Desenvolvido pelo Centro Tecnológico da Marinha, o reator nuclear do submarino custará 1 bilhão de reais e — na hipótese otimista do governo — deverá ser concluído em 2015 (depois, portanto, de 36 anos de trabalho). Para proteger a superfície costeira, Marinha e Aeronáutica contarão com helicópteros Cougar a ser fabricados pela Helibras, uma parceria entre a empresa francesa Eurocopter e o governo mineiro, e também com um lote de 99 caças Super Tucanos encomendados à Embraer. Do lado das empresas, contratos como esses são vistos como oportunidades para valorizar o produto nacional e abrir portas. “O reaparelhamento das Forças Armadas ajudará muito na expansão das nossas exportações”, diz Luiz Carlos Aguiar, vice-presidente do mercado de defesa da Embraer. “No caso do Super Tucano, a venda para a Aeronáutica já facilitou contratos com Colômbia, México, Grécia e Índia.”

comentário do bom site DEFESANET:

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Modernização das armas

O reaparelhamento das Forças Armadas já começou com encomendas a diversas empresas brasileiras e estrangeiras, e deve gerar novos negócios até o final do governo Lula com o desenvolvimento de grandes projetos.

Força
Equipamento e Fornecedor
Valor
Exército 270 tanques alemães Leopard 1A5 (KMW) R$ 270 milhões
Marinha 2 navios-patrulha (Estaleiro Inace, do Ceará)
R$ 140 milhões
Aeronáutica 99 caças Super Tucano (Embraer) R$ 640 milhões
As três armas 50 helicópteros Super Cougar (Helibras)
R$ 3,2 bilhões
Exército Tanque Urutu 3 (Exército e Iveco)
R$ 49 milhões
Marinha Reator do submarino nuclear (Consórcio Marinha, USP, INB, Equipamentos Jaraguá)
R$ 390 milhões
Aeronáutica Caça supersônico (Consórcio Embraer e empresa estrangeira a ser definida)
R$ 3,5 bilhões
Fonte: Ministério da Defesa

É fato que, desprestigiadas com cortes de verbas nas últimas três décadas, as Forças Armadas se encontram em estado de penúria. Hoje, menos de 40% dos caças da Aeronáutica estão aptos a combater, e só metade dos 21 navios de guerra da Marinha pode navegar. “A situação é insustentável para uma potência emergente com tantos vizinhos instáveis”, diz o cientista social Luís Alexandre Fuccille, da Unicamp. Resta saber se o presente do governo aos militares será capaz de fazer tudo o que promete o ministro Jobim.

Leia mais:

Jobim vai a França e Rússia discutir reequipamento - Tema central da viagem será desenvolvimento de submarino nuclear - Roberto Godoy e Tânia Monteiro
http://www.defesanet.com.br/md1/pac_10.htm

Jobim vai à Europa para discutir tecnologia militar -Eliane Cantanhêde - Folha de São Paulo - Janeiro 2008 http://www.defesanet.com.br/md1/pac_8.htm

Editorial - Brasil obsoleto e vizinhos armados - JB 02 Janeiro 2008
http://www.defesanet.com.br/md1/pac_7.htm

Grupo do PAC da Defesa é lançado no Palácio do Planalto
http://www.defesanet.com.br/md1/pac_defesa.htm

Jobim diz no Amazonas que quer construir estratégia nacional de defesa
http://www.defesanet.com.br/md1/solimoes.htm

As Forças Armadas e a nação - Mangabeira Unger - 2005 http://www.defesanet.com.br/md/fsp_23ago05.htm

Antonov An-124 traz os três primeiros F-5
da Jordânia para o Brasil

Revista ASAS - EXCLUSIVO, por Claudio Lucchesi, com apoio de Victor Bilbao, 20 de agosto de 2008

Na noite de ontem (19 de agosto), exatamente às 22h51, pousou no Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos (Cumbica), um cargueiro Antonov An-124-100 Ruslan da companhia aérea Volga-Dnepr, que após a aterrisagem, foi estacionar no pátio do 4º ETA, na Base Aérea de São Paulo (BASP), onde imediatamente se procedeu ao descarregamento de sua preciosa carga – os três primeiros caças Northrop F-5E Tiger II adquiridos da Jordânia pela Força Aérea Brasileira (FAB).

ASAS acompanhou com exclusividade a chegada do An-124 e seu descarregamento, registrando com total ineditismo a chegada destes primeiros F-5E “jordanianos” (no total, foram adquiridas 11 aeronaves).

Os aparelhos que chegaram ontem ainda exibiam as cores da Real Força Aérea da Jordânia (RFAJ). O primeiro foi retirado do cargueiro por volta das 23h50. Junto com as aeronaves vieram tanques externos sobressalentes, motores e todo o “arsenal” de peças relacionado às aeronaves. Em terra, ao chegar, o Antonov An-124 teve apoio da Swissport, empresa especializada em serviços aeroportuários.

Em nome de toda a equipe de ASAS, aproveitamos para agradecer o apoio dado pelo Comando da Aeronáutica, o Centro de Comunicação da Aeronáutica (Cecomsaer), a Base Aérea de São Paulo (BASP) e o ILA (Instituto de Logística da Aeronáutica), na realização deste trabalho jornalístico.


Em Vídeo: