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PAK-FA: Hesitações e bloqueios

Fonte: Quintus por Clavis Prophetarum

Embora estejam hoje entre os melhores aviões de combate do mundo, os Sukhoi SU-30 são ainda um descendente direto do SU-27 desenvolvido na antiga União Soviética no começo da década de oitenta. Na época, o SU-27 procurava incorporar toda a tecnologia e ser paritário em relação a todo um conjunto de aviões norte-americanos que serviam na USAF, na época, desde o F-15 até ao F-18. Como resposta a estes aviões, o SU-27 provou ser um sucesso absoluto. Por uma fração do custo unitário, os soviéticos conseguiram fabricar um aparelho que conseguia equiparar-se à maioria dos caças ocidentais e que encontrava apenas no F-15 um adversário superior (e mesmo assim, apenas em certos cenários).

Plenamente conscientes da perda de superioridade que decorria da entrada em serviço de aviões como o SU-27 na força aérea soviética e posteriormente da exportação massiva dos seus descendentes SU-30 para várias forças aéreas no mundo, os EUA começaram a desenvolver um aparelho que lhes devolvesse a superioridade qualitativa que caracterizou a sua força aérea durante a maior parte da Guerra Fria, quase sempre graças ao F-15, ao F-14 e ao F-18. Esse novo elemento seria conhecido mais tarde como o F-22A Raptor. Um avião de 5ª geração, stealth como o desajeitado antecessor F-117, exibindo a mesma supermanobrabilidade dos MiG-29 e SU-30 russos, um radar AESA e com a excepcional “fusão de sensores” integrada por um poder computacional nunca antes embarcado num avião de guerra… Além de tudo o mais, o F-22 era ainda capaz de voar em “supercruise” a velocidades acima do Mach 1, em vez das curtas permanências a essas velocidades de outros aparelhos da sua geração. Já que todas estas extraordinárias características tinham um preço, e um preço violento, da ordem dos 339 milhões de dólares por cada unidade fabricada, houve necessidade de procurar encontrar uma espécie de “F-16″ moderno, um aparelho mais barato que o F-22, capaz de ser produzido em grandes números e com uma tecnologia não tão sofisticada que lhe permitisse ser exportado, na mesma linha do F-16 que foi exportado em largos números enquanto o F-117 e o B-2 permaneciam reservados para a USAF, por deterem a mais avançada das tecnologias disponíveis na sua época. Esse aparelho seria conhecido como o F-35 Lightning II e incorporaria algumas características Stealth, um radar AESA menos elaborado do que o do F-22, mas com fusão de sensores, como o novo Super Hornet e o F-22A.

A resposta soviética ao projeto F-22 Raptor - quando ele surgiu em 1986 (ver AQUI) foi o desenvolvimento do projeto MiG 1.44 e, paralelamente, o I-21. Ambos os projetos seriam cancelados por falta de fundos. Após o fim da Guerra Fria, a necessidade de desenvolver um aparelho que devolvesse à Rússia pelo menos a paridade com o F-22A tornou-se evidente, tanto mais porque as verbas resultantes de um conjunto sólido e crescente de aviões Sukhoi se revelavam cada vez mais importantes e porque importava manter estas exportações nas décadas seguintes, com uma oferta consistentemente atualizada surgiu a necessidade de reativar os adormecidos projetos MiG 1.44 e I-21. Os fundos eram contudo ainda uma limitação, daí a busca de parceiros internacionais, e nestes, a Índia, um antigo cliente de aviões de combate russos surgiu imediatamente como o mais lógico e natural dos parceiros. É certo que na Índia há uma espécie de tradução nacional para programas que arrancam, consomem tempo e recursos e depois… não dão em nada. Temos um exemplo disto mesmo no MBT indígena Arjun e no consequente recuo para o T-90S russo… Sinais de que o mesmo pode estar agora mesmo a acontecer com o ressurgimento destes programas russos da guerra fria surgem também agora… É que se a Índia apareceu ao lado da Rússia no desenvolvimento do PAK-FA, e tenha mesmo sido assinado um “protocolo de entendimento” entre as duas nações, um ano depois, em Novembro de 2008, ainda não existe um contrato formal entre os dois Estados. A Rússia diz que vai voar o primeiro PAK-FA já em 2009, mas muitos analistas suspeitam, tendo em conta os problemas encontrados com os novos motores… Agora, que um terceiro provável parceiro, o Brasil, que em tempos foi dado como certo também já se afastou haverá ainda impulso suficiente para continuar a alimentar o programa PAK-FA?

Em termos internacionais, a Rússia deve imperativamente construir um substituto ao SU-30 e garantir a prazo um mercado de exportações muito rentável. Rentabilizar todo o investimento realizado antes nos MiG 1.44 e no I-21, e todo aquele já introduzido depois no PAK-FA é portanto uma opção muito razoável e provavelmente até incontornável. E este é o momento para o fazer. Os EUA têm ainda apenas 62 F-22A e prevêm construir apenas 182. É portanto possível construir a prazo um aparelho que torne a colocar a Rússia numa situação de paridade (ou quase paridade) com a USAF, com a introdução de grandes números de PAK-FAs. Simultaneamente, a obstinação norte-americana em recusar exportar o F-22 pode fazer com que alguns dos seus mais fiéis aliados, que o reclamam, olhem noutras direções em busca de soluções… E assim, o PAK-FA apresentasse com um digno sucessor do SU-30. Por isso, não se compreendem bem as hesitações indianas, nem sequer a falta de interesse russo no programa!

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