Veterano em plena forma: Como anda o M3-A1 Stuart, tanque trazido dos EUA durante a 2ª Guerra

Marcelo Fenerich - Estadão

- Atualmente um objeto raro até no Exército Brasileiro, o M3-A1 Stuart foi o carro de combate leve mais importado pelo País durante a Segunda Guerra Mundial. Nos anos 40, mais de 400 unidades vieram dos Estados Unidos, mas sobraram pouquíssimas em bom estado de conservação. Uma delas foi avaliada com exclusividade pelo JC.

O colecionador Nelson Machado adquiriu o veículo em 1994 por R$ 7 mil e demorou quatro anos para concluir sua restauração. "Nem sei quanto gastei, mas foi muito", afirma o proprietário, que se veste a caráter para curtir o "brinquedão".

Machado lembra que o blindado estava bem danificado. Ele encontrou o tanque em uma loja de tratores em Americana, no interior do Estado. "Tive de desmontá-lo todo. Graças a um amigo, que é engenheiro mecânico, o veículo ficou bem próximo do que era quando novo."

O colecionador conta que, como o motor original - um Continental W970-9A, radial a gasolina, de 250 cv - não estava funcionando e não havia peças de reposição no mercado, foi preciso trocá-lo por outro mais atual. "Só fiquei contente quando instalei um propulsor Detroit 6Es5 Silver V6 de 220 cv."


É preciso entrar de costas por uma das escotilhas. No lugar de volante, há manches. Além de piloto e co-piloto, torre leva dois operadores

Em 'combate'

Para guiar o blindado, esqueça tudo o que você sabe sobre automóveis. A dificuldade já começa na hora de assumir o comando. O acesso ao pequeno interior é feito por meio de uma das escotilhas da dianteira, que são bem apertadas. É preciso entrar de costas: primeiro as pernas, depois o tronco.

Mesmo assim, dentro do veículo vão quatro tripulantes: o condutor, um copiloto e dois operadores de torre.

Não há volante. O tanque é guiado por dois manches. Basta puxar a alavanca do lado para onde se quer ir. Se os dois forem acionados ao mesmo tempo, o tanque para na hora. Outro sistema curioso é o câmbio. São três níveis de duas marchas cada.

Para engatar a ré é preciso colocar a alavanca no primeiro nível e empurrá-la para a frente. Ao puxá-la para trás, aciona-se a primeira. No segundo nível ficam a segunda e terceira. Quarta e quinta estão no terceiro. Como as relações são curtas, rapidamente se chega à quinta.

Durante a avaliação, o modelo, que pesa 12.927 kg, atingiu cerca de 60 km/h e fez 2 km por litro de diesel - cabem 252 l.

Morros íngremes e grandes atoleiros não são páreo para o M3-A1. Como é equipado com esteiras (conhecidas como lagartas), ele ultrapassa grandes obstáculos com facilidade.

Fronteiras

De acordo com o pesquisador de Assuntos Militares da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), Expedito Carlos Stephani Bastos, a produção do M3 começou em 1941 e foi até 1943. "Utilizado pelas forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial, o veículo não era páreo para seus oponentes alemães."

Segundo Bastos, a blindagem e o armamento (composto por um canhão de 37 mm e três metralhadoras.30 Browning) já eram obsoletos desde a sua fabricação. "A verdade é que o ponto forte era a mobilidade, pois ele tinha o poder de fogo razoável e a blindagem muito fraca."

Bastos conta que entre o fim de 1941 e meados de 1946, cerca de 450 unidades do M3-A1 Stuart foram importadas dos EUA para equipar nossas Forças Armadas na proteção de fronteiras. "Ele permaneceu em serviço até o fim dos anos 70. E graças a esse veículo iniciou-se aqui a produção de carros de combate."