Brasil terá seu veículo aéreo não tripulado

Por Virgínia Silveira, para o Valor Econômico de São José dos Campos

O Brasil prepara-se para atingir o domínio tecnológico na área de veículos aéreos não tripulados (VANT). A empresa Avibrás recebeu R$ 18 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) para desenvolver um VANT com aplicação civil e militar nas áreas de reconhecimento, monitoramento ambiental, inspeção de linhas de transmissão de energia elétrica, tubulação de gás, tráfego urbano, entre outras.

A parte eletrônica do VANT brasileiro, envolvendo o seu sistema de navegação e controle, foi testada com sucesso em seis voos, realizados em dezembro, em uma plataforma de pequeno porte, de propriedade da Força aérea Brasileira (FAB). Iniciado em 2005, o VANT é um projeto desenvolvido pelo Comando-geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), Centro Tecnológico do Exército (CTEx), Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM) e a Avibrás como parceira industrial.

A primeira fase do projeto, que envolveu o domínio tecnológico das partes mais sensíveis do veículo, foi coordenada pelo CTA. A FINEP destinou R$ 9 milhões para essa etapa. Foram realizadas quatro campanhas de ensaios dos sistemas e um total de 27 voos, na aeronave Acauã, desenvolvida pelo CTA na década de 80, com três metros de envergadura. "A aeronave conseguiu fazer o acompanhamento do traçado do Rio Mogi-Guaçu em voo totalmente autônomo", disse o coordenador do projeto VANT no CTA, Flávio Araripe D´Oliveira.

Para a última campanha de testes em voo foram contratadas as empresas Flight Technologies (piloto automático), BCC- Bossan Computação Científica (software embarcado) e Johansen Engenharia (engenharia de sistemas). Todos os voos tiveram ainda o acompanhamento de um helicóptero CH-55 Equilo, do Grupo Especial de Ensaios em voo, do CTA.

"Caberá a Avibrás o desenvolvimento de um VANT operacional, de média altitude e 15 horas de autonomia de voo", explicou. A fase de certificação do VANT, segundo o CTA, tem uma previsão de absorver mais R$ 80 milhões, mas os recursos ainda estão sendo negociados. O desenvolvimento de veículos aéreos não tripulados no Brasil conta com o apoio da FINEP, através do programa de subvenção econômica, que liberou R$ 80 milhões para 31 projetos considerados estratégicos. Dentre esses projetos, foram selecionadas seis propostas relacionadas a veículos aéreos não tripulados.

Os projetos de VANTs no Brasil ganharam impulso tendo em vista um mercado que movimenta cerca de US$ 8 bilhões por ano, segundo Oliveira. "Até 11 de setembro de 2001, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos investia uma média de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões por ano na área de UAV (unmanned aerial vehicle). Atualmente esses valores ultrapassam os US$ 3 bilhões anuais."



No Brasil existem mais de 10 iniciativas públicas e privadas na área de VANT. Entre elas está a da Flight Solutions, que desenvolve um VANT de curto alcance, com aplicação em reconhecimento para o Exército brasileiro. A empresa, que iniciou suas atividades em uma incubadora de tecnologia aeroespacial, hoje está instalada no Parque Tecnológico de São José dos Campos. A empresa AGX, em parceria com a Universidade de São Carlos e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está desenvolvendo um VANT para aplicações agrícolas, como por exemplo, observação de safras.

Nos Estados Unidos os veículos aéreos não tripulados ou UAVs recebem a denominação 3D, como referência ao tipo de missão desempenhada por este tipo de aeronave: dull (enfadonha), dangerous (perigosa) e durty (suja). No próprio nome já é possível identificar as vantagens operacionais das aeronaves sem piloto: voos longos, sem restrição (algumas aeronaves VANT, como o americano Global Hawk, realizam missões de até 40 horas); acesso a locais com risco de contaminação ou próximas a áreas vulcânicas, por exemplo; e regiões em situação de guerra, com alto risco de abate pelo inimigo.

O desenvolvimento de VANT também integra a lista de prioridades da nova política de defesa nacional do governo. A Polícia Federal, de acordo com Oliveira, lançou recentemente uma procura internacional de VANT com aplicação em reconhecimento e equipados com sensores de infra-vermelho e radar capaz de enxergar alvos em condições atmosféricas adversas. "Num prazo de dois a três anos teremos no Brasil um sistema completo de VANT de reconhecimento, desenvolvido com tecnologia brasileira e industrializado por uma empresa nacional", disse.

A Avibrás, segundo ele, tem grande potencial de exportação do VANT para os clientes que utilizam seu sistema de lançamento de foguetes Astros II. "Os usuários do sistema Astros querem saber, com precisão, onde estão caindo os foguetes depois de lançados. Isso normalmente é feito hoje com soldados em terra e aeronaves". O VANT, de acordo com Oliveira, é quase um complemento de imagens de satélites, com a vantagem de ter um custo bem mais baixo.

CTA estimula veículos não tripulados

Fonte: Gazeta Mercantil

O Mercado alvo são as operações de reconhecimento aéreo e monitoramento da natureza, entre outros. O CTA Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial, reconhecido como um dos mais importantes centros de ensino, pesquisa e desenvolvimento de tecnologia aeroespacial da América Latina, também está se tornando um importante pólo tecnológico na área de veículos aéreos não tripulados (VANT). A Embravant, especializada na produção desses veículos, acaba de instalar uma unidade na incubadora de empresas de base tecnológica, inaugurada ontem no CTA.

Primeira incubadora de tecnologia aeroespacial do País, a IncubAero iniciou suas atividades com seis empresas e atividades voltadas para as áreas de veículos aéreos não tripulados, homologação aeronáutica, segurança e inspeção industrial. O empreendimento, instalado em uma área de 900 metros quadrados, é um projeto gerenciado pela Fundação Casimiro Montenegro Filho (FCMF), organização de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico, em parceria com o ITA/CTA, Sebrae, Ciesp Regional e Prefeitura de São José dos Campos.

A localização da Incubaero é considerada estratégica pelas empresas incubadas, que poderão utilizar as facilidades de infra-estrutura e laboratórios oferecidas pelo CTA/ITA no desenvolvimento dos seus projetos. O CTA também acumula experiência na área de veículos aéreos não tripulados e está à frente do desenvolvimento de um VANT com aplicações civis e militares de reconhecimento aéreo, monitoramento de recursos naturais, redes elétricas e de dutos de petróleo.

O projeto do CTA tem um custo estimado de R$ 27 milhões. Parte desse valor, cerca de R$ 10 milhões, está sendo financiado pela Finep e o restante pela FCMF, Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército (IPD) e Instituto de Pesquisas da Marinha (IPQM). Segundo o coordenador do VANT no CTA, Flávio Araripe, o objetivo do projeto é o desenvolvimento de um sistema de navegação e controle que terá aplicação em veículos aéreos não tripulados.

"Em 2006 faremos os testes em vôo das versões preliminares desses sistemas, utilizando duas plataformas ou aeronaves já existentes - o Acauã, veículo desenvolvido pelo CTA na década de 80 e o Harpia, da Marinha, ambos com três metros de envergadura", explicou.

A Flight Technologies, uma das empresas da IncubAero, também pretende participar de projetos de veículos aéreos não tripulados. "Fizemos uma parceria com a Embravant para desenvolver a parte de modelagem e o projeto do sistema de controle dos veículos da empresa", explica um dos diretores da Flight, Nei Salis Brasil Neto.

A Embravant iniciou o desenvolvimento do seu primeiro modelo de VANT em 2003, com o projeto Gralha Azul. Dois protótipos da aeronave, que tem 3,75 metros de envergadura e 2,56 metros de comprimento, já fizeram diversos testes em vôos telecomandados. "No final de 2004 entramos em uma nova fase do projeto, visando um veículo autônomo, com sistema de pilotagem e navegação baseados em GPS e outros sensores", explica um dos diretores da Embravant, Valter Ricardo Schad.

O mercado alvo para os veículos da Embravant, segundo Schad, são os setores de transporte, topografia, imageamento em geral (aerofotogrametria, aerofilmagens), supervisão e reconhecimento, levan-tamento de dados, monitoramento agropecuário, aplicação de produtos químicos em plantações, entre outros.

"A principal vantagem do VANT é o custo operacional, que chega a ser três vezes mais barato do que o de uma aeronave tradicional. Além de não ser operado por um piloto, pode fazer operações de maior risco, como vôos em altitudes muito baixas", disse. O custo unitário de um VANT, segundo Schad, varia conforme a versão, mas gira em torno de R$ 80 mil.

O mercado de VANT, segundo o diretor do CTA, brigadeiro Adenir Siqueira Viana, está em expansão. Segundo previsão do Departamento de Defesa dos EUA, os gastos com o desenvolvimento dos chamados unmanned aerial vehicle (UAV), devem totalizar US$ 3,2 bilhões em 2009. Os gastos mundiais com pesquisa de veículos não tripulados devem atingir a cifra de US$ 8 bilhões em 2008. No Brasil, segundo o diretor da Flight Technologies, Benedito Maciel, existem atualmente mais de 10 iniciativas públicas e privadas na área de VANT. A Universidade de São Carlos, o Centro de Pesquisa Renato Archer, em Campinas e a Fitec (Fundação para Inovações Tecnológicas), também desenvolvem projetos semelhantes. O veículo FiTuav, da Fitec, com apenas 2,40 metros de envergadura, tem capacidade de voar de forma autônoma e de transportar uma carga máxima de aproximadamente 2,5 kg.


Vídeo do VANT Brasileiro CARCARÁ: