Sobre o “Triana” o satélite “inventado” por Al Gore e que Bush, por birra, mandou guardar num armazém


(”Triana” ou Deep Space Climate Observatory em http://aycu11.webshots.com)

Num armazém quase esquecido em Maryland, não muito longe de Washington esteve guardado até há muito pouco tempo e desde janeiro de 2006 um satélite que poderia clarificar definitivamente a existência ou não do fenómeno do Aquecimento Global. Não que a maioria da classe científica esteja ainda por convencer, claro, mas persiste um grupo de “climatologistas”, mais ou menos ligados a financiamentos diretos ou indiretos das companhias de Energia que juntamente com os neoliberais autistas do “Blasfémias” e este satélite - se tivesse sido lançado - poderia ter já esclarecido se existe ou não o tal fenómeno designado por “Aquecimento Global” induzido pela atividade humana.

De facto, nos últimos anos os “negacionistas” foram forçados a mudar o seu discurso. Se no começo da década de 90 e até cerca de 2007 se limitavam a negar o próprio “Aquecimento Global”, agora, esmagados pela evidência do degelo no Oceano Polar Árctico e dos glaciares do Pólo Sul, da Argentina e da Groenlândia, já reconhecem a sua existência, mas adoptam uma posição fatalista de que “nada podemos fazer”, porque o fenómeno é completamente “natural” provocado apenas pela atividade do Sol. Mas nem todos, adoptaram esta posição… como se vê nos derradeiros defensores do negacionismo em Portugal, os neoliberais do “Blasfémias” que precisariam ainda talvez (e daí… se calhar nem com isso) dos resultados das observações do “Triana”, porque é assim que se chama este satélite encaixotado algures nos arredores de Washington. O nome é uma homenagem a “Rodrigo de Triana” o primeiro marinheiro de Colombo que viu a costa da América.

O satélite foi uma vítima paradoxal do sucesso mediático da campanha pró-Clima de Al Gore e tendo sido um projeto que acarinhou nos seus tempos de vice-presidente na Administração Clinton, a ascensão do ultra-cristão George Bush iria levar ao seu inevitável cancelamento por razões “orçamentais”. Curiosamente, ainda que não tenha sido (como chegou a apregoar o “inventor da Internet”: “During my service in the United States Congress, I took the initiative in creating the Internet.”), Gore, numa noite de insónias, em 1998, imaginou uma sonda que pudesse estar numa órbita muito longe da Terra (mais exatamente, a 1,6 milhões de quilómetros) medindo o calor que a Terra emite para o Espaço. Esta distância é essencial, porque a maioria dos satélites orbitam a órbitas mais ou menos baixas, que as impedem de percepcionar todo o globo terrestre, captando apenas pequenas secções do mesmo. Na altura, a ideia foi alvo da gozação dos congressistas republicanos que lhe chamaram “Gore´s screen saver”. O projeto custou aos EUA perto de 135 milhões de dólares e conseguiu sobreviver a todos os seus detractores tendo chegado a ser agendado para um lançamento em 1999, precisamente a missão STS-107 que ditaria o fim do vaivém “Columbia”, ou seja, ironicamente, salvando o satélite…

Finalmente, em novembro do ano passado, o satélite foi tirado do armazém e está agora a ser re-certificado pela NASA para receber uma modernização nos seus sensores e equipamentos de comunicações. Tudo indica agora que afinal sempre será lançado a bordo de um foguetão Delta 2 ou de um Falcon 9 da SpaceX… E o facto disto só ter acontecido quando Bush estava já de saída da Casa Branca é, certamente, uma mera coincidência… Pois.