Os operários voltam a Angra 3
Governo quer retomar obras esta semana e com elas estabelecer o marco de uma nova era nuclear no País

ADRIANA NICACIO - Isto é Dinheiro

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RAFAEL ANDRADE/FOLHA IMAGEM

DENTRO DE POUCOS dias, segundo previsão do Ministério das Minas e Energia, o novo projeto nuclear brasileiro volta a sair do papel. Operários reocuparão, após uma ausência de 23 anos, o canteiro de obras da usina de Angra 3, em Angra dos Reis (RJ), dando início à escavação e à preparação de edificações de apoio à obra para construção das instalações dos geradores de energia. "As obras serão retomadas em uma semana", garantiu o ministro Edison Lobão, na segunda-feira 20. Como previsto no contrato assinado em 1983, serão operários e máquinas da construtora Andrade Gutierrez os responsáveis pela execução do projeto. Se depender da vontade de Lobão e do presidente Lula, mais do que dar continuidade a um sonho interrompido por decisão do governo militar em 1986, eles erguerão o marco de uma era de investimentos em energia atômica. Nos planos do ministro está a construção de uma nova usina nuclear a cada três anos, até que a tecnologia responda por 5% do parque gerador. Ele prevê instalar de quatro a seis usinas, a partir da próxima década até 2030. Duas delas do porte de Angra 3, com capacidade de geração de 1,3 mil MW. Pelo que se diz, duas serão construídas no Nordeste (a Bahia é o Estado mais interessado) e duas no Sudeste. Não há preço definido, nem prazo para licitação.

R$ 7,3 bilhões é o custo estimado para as obras de Angra 3.
Parte da usina já está construída

A retomada do Programa Nuclear Brasileiro, nos termos defendidos por Lobão, ainda depende de aprovação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A única decisão certa até o momento é que Angra 3 será construída. A usina custará mais R$ 7,3 bilhões, mas ela já está 30% pronta e os materiais pesados já foram comprados. Na prática, em nenhum desses anos de paralisação a Andrade Gutierrez saiu por completo do local. Atendendo ao contrato assinado com o governo, a empreiteira ficou responsável pela manutenção e conservação do canteiro de obras e das 13,5 mil toneladas de equipamentos do núcleo de geração energética, a "ilha nuclear", a um custo anual de R$ 20 milhões para o governo. De acordo com a Eletronuclear, estatal que controla as usinas atômicas brasileiras, os cerca de R$ 700 milhões em equipamentos que estão armazenados são reatores e bombas até hoje utilizados em usinas importantes, como as recém-construídas na Alemanha, da série Convoi, que estão entre as melhores do mundo em desempenho operacional. Além disso, toda a parte eletrônica ainda será comprada, o que garantiria a modernização da usina. A estatal espera que as novas encomendas de R$ 1,4 bilhão movimentem a indústria nacional.