Este é o primeiro Blackbox que escrevemos sem nenhuma frase proferida na cabine de pilotagem. Sem nenhuma gravação que mostre os últimos segundos de vôo. Sem qualquer alarme, indício, suspeita. Apenas o silêncio marca esta tragédia da aviação comercial. Este Blackbox atende a vários pedidos de leitores, que desejam saber mais sobre o maior mistério da aviação comercial mundial: o desaparecimento do Boeing 707 cargueiro da Varig em 1979. O que de fato aconteceu ninguém sabe ao certo. Mas apontamos uma possível causa, que poderia ajudar a explicar porque absolutamente nada, nenhum destroço do cargueiro da Varig foi jamais encontrado.

A terça feira, 30 de janeiro 1979, raiou fria mas clara, um típico dia de inverno japonês. No aeroporto de Narita, seis tripulantes da Varig apresentaram-se para serviço. Sua missão era decolar do Japão e voar sem escalas até Los Angeles, primeira parada num vôo que deveria chegar na tarde de quarta-feira ao Aeroporto Internacional do Galeão. Escalado para a longa jornada, o Boeing 707-323, matrícula PP-VLU, que na ocasião tinha 13 anos de serviços prestados. Naquela tarde, o 707 estava sob o comando de um profissional tão experiente quanto famoso: o Comandante Gilberto Araújo da Silva, mesmo comandante do PP-VJZ, o fatídico Boeing 707 que acidentou-se em 11 de julho de 1973 durante o vôo RG 820. O cmte. Araújo foi um dos poucos sobreviventes desse famoso desastre nos arredores de Paris. Completamente recuperado, prosseguiu trabalhando no comando de Boeing 707 na Varig, pilotando tanto em vôos de passageiros como em serviços puramente cargueiros. Naquela tarde, Araújo comandava o Boeing, secundado pelo cmte. Erny Peixoto Myllius, mais dois primeiro-oficiais, também conhecidos como co-pilotos: Antônio Brasileiro da Silva Neto e Evan Braga Saunders. Dois engenheiros de vôo completavam a tripulação de revezamento: Nicola Espósito e Severino Gusmão Araújo, sem grau de parentesco com o comandante.

O Boeing foi carregado até sua capacidade de peso, embora não de carga. O VLU levava uma carga incomum: 153 pinturas do mestre nipo-brasileiro Manabu Mabe, que havia acabado de completar uma exposição de sua arte no Japão. As pinturas foram avaliadas na época em mais de US$ 1,24 milhão. Carga de outras origens, entre elas bens manufaturados, completavam a capacidade do 707, que saiu com seu peso máximo de decolagem, de pouco mais de 151 toneladas. A limitação deu-se não em função de espaço na cabine (cubagem) mas em função mesmo de se ter atingido o peso máximo de estrutural. Afinal, para cumprir a longa etapa de 5.451 milhas (8.773 km) até Los Angeles, havia a necessidade de tanques cheios para garantir autonomia para a travessia. Na chegada à Califórnia, o cmte. Araújo entregaria a responsabilidade de levar o 707 para uma nova tripulação, que então assumiria o vôo sem escalas até o Galeão.

A partida foi presenciada por centenas de pessoas e todas concordaram em dizer que o Boeing 707 partiu numa atitude normal, segundos depois perdendo-se em meio à nevoa úmida e fria que cobria Narita naquele fim de tarde. Essa seria a última visão que alguém teria do PP-VLU e seus seis tripulantes. Tomando a proa norte-nordeste, sobre o Oceano Pacífico, o 707 desapareceu sem deixar vestígios cerca de trinta minutos após a decolagem. O desparecimento foi notado pois a aeornave não reportou sua passagem sobre um dos pontos imaginários fixos, usados na navegação e monitoramento de progresso de vôo. O silêncio do PP-VLU despertou suspeitas no controlador, que imediatamente tentou comunicar-se com a aeronave. Após uma hora de tentativas infrutíferas, o alarme foi dado: o Boeing 707 da varig despareçera. O plano de busca e salvamento começou a ser colocado em prática, mas escuridão da noite, fez com que as buscas somente fossem iniciadas mais de12 horas após a decolagem, ao raiar do dia seguinte. Apesar de todos os esforços, de mais de oito dias de busca intensa, nenhum sinal da aeronave, fossem destroços ou mesmo os corpos dos tripulantes, jamais foi encontrado.

Aí está o grande mistério do PP-VLU. Nunca, nem antes nem depois deste acidente, uma aeronave a jato simplesmente desapareceu sem deixar vestígios. Há duas hipóteses: no caso de uma falha grave e repentina, (exemplo: uma explosão a bordo) a emergência teria incapacitado instantaneamente os tripulantes, impedindo-os de sequer enviar uma curta mensagem de emergência. Nesse caso, a aeronave teria caído no mar sem controle, ou em pedaços, espalhando destroços por uma vasta área. Em casos assim, de queda descontrolada, sempre sobram na superfície do mar muitos vestígios da aeronave. Tanto podem ser manchas de óleo, combustível ou fluido hidráulico; materiais isolantes, pedaços de estruturas plástica, leves, que sempre flutuam; ou ainda os próprios restos humanos, que nem sempre afundam imediatamente. Se, por outro lado, a falha fosse séria o bastante para impedir a continuidade do vôo, mas não catastrófica, haveria tempo suficiente para o envio de alguma mensagem de emergência. Mas nada foi ouvido em terra, nem pelas muitas aeronaves voando pelo espaço aéreo japonês.

Houve casos semelhantes de jatos que caíram sobre os oceanos. Em todos eles, algum tipo de evidência de catástrofe sempre esteve se fez presente. Por exemplo, em 11 de setembro de 1990, um Boeing 727-200, voando de Malta para o Peru num vôo de traslado, desapareceu no mar. Antes, porém, a aeronave da empresa peruana Faucett, que acabara de cumprir um período de leasing na Air Malta, enviou um pedido de socorro. A aeronave, que havia partido de Keflavik, na Islândia, com destino a Gander, Canadá, enviou uma mensagem de Mayday, captada as 15h20 pelas tripulações de dois vôos, o TWA 851 e o American 35. A tripulação do Faucett avisou que estava descendo, cruzando o nível de vôo 100, com pouco combustível. Na mensagem, os pilotos declaravam que iriam amerissar. Nenhum dos 15 ocupantes foi jamais encontrado. Apenas destroços do Boeing 727 foram dar nas praias de Terra Nova, dias depois do desaparecimento do jato.

Outro caso de queda no oceano foi o 747-200 Combi, prefixo ZS-SAS da South African Airways. O Jumbo enfrentou o pior pesadelo que pode assustar qualquer piloto: fogo a bordo. O vôo SA 295 decolou de Taipei as 14h23 do dia 28 de novembro de 1987, com 159 ocupantes e 6 pallets de carga. As 23h49, ainda a leste da ilha de Mauritius, a tripulação declarou emergência, afirmando haver fogo no compartimento de carga do deck principal. Uma descida de emergência para o nível 140 foi iniciada, e logo depois o ZS-SAS foi autorizado para descer para 5.000 pés. A curta resposta do comandante foi a última palavra ouvida pelos controladores de terra. A aeronave em chamas, despedaçando-se, mergulhou no mar, matando seus 159 ocupantes. Em ambos os casos, os pilotos dessas aeronavesse comunicaram, declararam emergência, reportaram problemas. Ou seja, se o problema ocorrido com o PP-VLU fosse efetivamente uma falha grave, que impedisse o prosseguimento de viagem, alguma mensagem de emergência ou pedido de socorro teria sido enviada. E várias estações de terra e aeronaves na área teriam captado o pedido, até porque o 707 deixou de comunicar-se com o solo apenas 30 minutos depois da partida. Em 30 minutos, carregado, com todas as restrições de peso para subir e tráfego para enfrentar, condições comuns na saída de Tóquio, o PP-VLU não poderia ter voado muito longe. Nessa região, ao nordeste de Tóquio, o tráfego é intenso, sobretudo no horário do desaparecimento.

Resta somente uma explicação plausível para o desaparecimento do PP-VLU. Esse enigma pode ser melhor compreendido ao estudarmos dois estranhos acidentes, provocados pela mesma causa. O primeiro aconteceu em 1999. Um Learjet 35 decolou da Flórida para um vôo de duas horas, levando o famoso golfista Payne Stewart e mais seis ocupantes. A tripulação deixou de se comunicar com o solo e dois jatos da National Guard decolaram para interceptar o Learjet. Os pilotos dos caças reportaram que as janelas do Learjet estavam cobertas, internamente, por uma fina camada de gelo, mas era possível perceber que os pilotos estavam mortos, ainda atados aos seus assentos. Sob comando do piloto automático, o jato manteve-se a 46.000 pés, até cair, cinco horas depois, no estado de Dakota do Sul, quando acabou o combustível. Descobriu-se o culpado: um adaptador usado para consertar uma válvula de escape de ar (outflow valve) falhou, levando à despressurização da cabine.

Em 14 de agosto de 2005, um Boeing 737-400 da empresa cipriota Helios Airways decolou de Larnaca, Chipre, as 09h07 para um curto vôo até Atenas, Grécia. Logo depois, as 09h37, a aeronave entrou em espaço aéreo grego, mas não estabeleceu contato com os controladores de solo. Os controladores gregos entraram em contato com seus colegas cipriotas, que as 10h20 notificaram o controle grego de que os pilotos do 737 haviam declarado "problemas no ar condicionado" logo após a partida. Como subsequentes tentativas de contato com o 737 falharam, as 10h55, dois caças gregos F-16 foram despachados para interceptar o Boeing. Contato visual foi estabelecido as 11h20. Os pilotos gregos, voando a poucos metros do Boeing, reportaram uma visão bizarra: não havia ninguém na cadeira do comandante e o co-piloto estava aparentemente desmaiado sobre o manche. Os F-16 continuaram voando junto ao 737, que mantinha a proa, altura e velocidade constantes. Minutos depois, uma pessoa não identificada entrou na cabine de comando e sentou-se na poltrona da esquerda. O jato então iniciou uma descida, os F-16 ainda voando ao seu lado. O Boeing continuou a descer, e não muito tempo depois, as 12h05, perdeu abruptamente altitude e colidiu, em plena luz do dia, contra montanhas em Grammatikos, um vilarejo 19 milhas ao norte do aeroporto internacional de Atenas, matando os 121 ocupantes.

Investigações concluíram que o Boeing 737 sofreu uma quase imperceptível despressurização. À medida que o jato ganhava altitude, o ar em sua cabine ia ficando cada vez mais rarefeito. O problema de "ar condicionado" reportado pelos pilotos, certamente tem a ver com isso. O fato é que o ar ficou cada vez mais rarefeito, levando os ocupantes à uma gradual perda de consciência. Com exceção dessa pessoa que adentrou a cabine de comando (posteriormente identificada como um dos comissários), todos os ocupantes do 737 da Helios morreram lentamente, primeiro perdendo a consciência e depois, a própria vida, asfixiados. O Boeing 737 praticamente voou o tempo todo no piloto automático, até que o apavorado comissário, que tinha algumas horas como piloto privado, assumiu o controle do jato, sem contudo conseguir controlá-lo.

Vai daí a nossa única hipótese para o desaparecimento do 707. O PP-VLU pode ter sofrido a mesma falha no sistema de pressurização. Que por sinal, é um problema que ocorre mais comumente do que se pensa - ou do que se divulga. Essa falha pode ter levado à uma lenta e gradual despressurização, incapacitando gradativamente os seis ocupantes do 707. Os tripulantes do PP-VLU teriam desmaiado e, minutos depois, morrido asfixiados. O Boeing teria então voado na mesma proa e altitude, corrigida pelo piloto automático, até ficar sem combustível, mergulhando então em algum ponto do vasto Oceano Pacífico. Se uma falha semelhante à ocorrida com o 737 da Helios ou com o Learjet 35 de Payne Stewart ocorreu no PP-VLU, então o 707 teria sumido a milhares de quilômetros de onde ocorreram as buscas. Vale lembrar que as buscas concentraram-se numa área expandida, plotada sobre a posição do último contato do Boeing com o controle de solo. Isso poderia explicar porque nada foi encontrado, apesar do trabalho incessante de dezenas de embarcações e aeronaves da marinha japonesa e norte-americana. Juntas, elas participaram, nos dias subsequentes ao desaparecimento do Boeing brasileiro, das operações de busca e salvamento. Depois de oito dias, durante os quais até 70 navios e aviões foram utilizados simultaneamente, as buscas foram definitivamente interrompidas.

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Nestes anos todos, muito se especulou sobre o paradeiro do PP-VLU. Teses fantasiosas brotaram como "explicações". Falou-se muito na possibilidade de um seqüestro praticado por espiões da KGB russa. Sob essa tese, o VLU levava mais do que quadros de Manabu Mabe. Em seus porões haveria códigos de computadores retirados do MIG-25 da Força Aérea Soviética que havia deserdado da base de Saharovka e pousado no aeroporto internacional de Hokkaido, em 1976. Segundo essa tese, o PP-VLU teria sido interceptado pelos russos e obrigado a pousar na União Soviética, para que os códigos não fossem levados aos Estados Unidos. Avião e tripulação teriam desaparecido assim.

Seja como for, o caso do PP-VLU entrou para a história como o único jato comercial desaparecido sem deixar vestígios na história. Além de misterioso, o drama do PP-VLU também traz uma carga emocional extremamente forte para os parentes dos seis tripulantes desaparecidos. Somente quem passou pela situação sabe o quão desesperador é não poder enterrar seus entes queridos. A isso se soma o drama da família do comandante Gilberto Araújo. Herói no desastre de Orly, Araújo desapareceu no comando do PP-VLU, um dos raríssimos casos de pilotos de aeronaves comerciais que se envolveram em dois acidentes fatais. Mais um dos fatores que torna o caso do PP-VLU um caso único, um verdadeiro mistério até os dias de hoje.
 

Por: Gianfranco Beting - Do Jetsite

 

Mistério no Pacifico

Fonte: Blog do JH

A aviação é uma paixão recente em minha vida. Após trabalhar em um aeroporto de intenso movimento, fui aos poucos me interessando pelos tipos de aeronaves, companhias aéreas e, também, pelos acidentes e suas causas.


E após conhecer inúmeros sites, acabei por ficar sabendo que um dos maiores mistérios da aviação comercial mundial (se não o maior) envolve uma aeronave de uma companhia brasileira, no caso a VARIG.

Então vamos entrar no túnel do tempo e voltar ao dia 30 de janeiro de 1979, uma terça-feira.No aeroporto de Narita (NRT) seis tripulantes da Varig se apresentam ao serviço com a missão de voar sem escalas até Los Angeles, única escala do vôo cargueiro que deveria chegar na tarde de quarta-feira ao Aeroporto Internacional do Galeão (GIG). A aeronave utilizada seria um Boeing 707-323, matrícula PP-VLU (na foto acima), que na época tinha 13 anos de operação.

No comando do 707 estava o Comandante Gilberto Araújo da Silva, profissional experiente e famoso por ter pilotado e sobrevivido ao fatídico vôo RG 820 (também um Boeing 707), que acidentou-se em Orly, na França, em 11 de julho de 1973, onde morreram 123 pessoas, dentre elas Filinto Muller, aquele que entregou Olga Prestes aos nazistas.

Ao lado de Araújo estava Emy Peixoto Myllius, também no comando e mais dois co-pilotos: Antônio Brasileiro da Silva Neto e Evan Braga Saunders. Dois engenheiros de vôo completavam a tripulação de revezamento: Nicola Espósito e Severino Gusmão Araújo, este último, sem grau de parentesco com o comandante.

O 707 foi carregado até sua capacidade de peso, embora não de carga. O PP-VLU levava uma carga incomum: 153 pinturas do pintor nipo-brasileiro Manabu Mabe, que havia acabado de completar uma exposição de arte no Japão. As pinturas foram avaliadas na época em mais de US$ 1,24 milhão. Carga de outras origens, entre elas bens manufaturados, completavam a capacidade do 707, que saiu com seu peso máximo de decolagem, de pouco mais de 151 toneladas. A limitação deu-se não em função de espaço na cabine (cubagem) mas em função mesmo de se ter atingido o peso máximo estrutural. Afinal, para cumprir a longa distância de 5.451 milhas (8.773 km) até Los Angeles, havia a necessidade de tanques cheios para garantir autonomia para a travessia.

Ao pousar no Aeroporto Internacional de Los Angeles (LAX), o Cmte. Araújo passaria o bastão para uma nova tripulação, que então assumiria o vôo sem escalas até o Galeão.

A decolagem foi presenciada por centenas de pessoas e todas foram unânimes em dizer que o Boeing 707 partiu numa atitude normal, segundos depois perdendo-se em meio à nevoa úmida e fria que cobria Narita naquele fim de tarde. Essa seria a última visão que alguém teria do PP-VLU e seus seis tripulantes. Tomando a proa norte-nordeste, sobre o Oceano Pacífico, o 707 desapareceu sem deixar vestígios cerca de trinta minutos após a decolagem.

O desparecimento foi notado pois a aeornave não reportou sua passagem sobre um dos pontos imaginários fixos, usados na navegação e monitoramento de progresso de vôo. O silêncio do PP-VLU despertou suspeitas no controlador que imediatamente tentou comunicar-se com a aeronave. Após uma hora de tentativas em vão, o alarme foi dado e as equipes de busca e salvamento foram chamadas. Quando a noite caiu as buscas foram suspensas e só foram retornadas mais de 12 horas depois da decolagem, na manhã do dia seguinte. Apesar de todos os esforços e de mais de oito dias de busca intensa, nenhum sinal da aeronave, de destroços ou mesmo dos corpos dos tripulantes jamais foi encontrado.

Esse é o grande mistério do PP-VLU. Nunca, nem antes nem depois deste acidente, uma aeronave a jato desapareceu sem deixar vestígios.

Se houve uma falha grave e repentina, por exemplo: uma explosão a bordo, a emergência teria incapacitado instantaneamente os tripulantes, impedindo-os de enviar uma curta mensagem de emergência. Nesse caso, a aeronave teria caído no mar sem controle, ou em pedaços, espalhando destroços por uma vasta área. Em casos assim, de queda descontrolada, sempre sobram vestígios da aeronave. Por outro lado, se a falha fosse séria o bastante para impedir a continuidade do vôo, mas não catastrófica, haveria tempo suficiente para o envio de uma mensagem de emergência. Entretanto nada foi ouvido em terra, nem pelas muitas aeronaves que sobrevoavam o espaço aéreo japonês naquele momento.

Já foram registrados casos de aviões caindo no mar. Em todos eles, foram comunicadas emergências. Em 1990, um Boeing 727-200, voando de Malta para o Peru num vôo charter desapareceu no mar. Porém antes da queda, o piloto emitiu uma mensagem de socorro captada por duas outras aeronaves. Outro caso de queda no mar ocorreu em 1987, quando um Boeing 747, da South African Airways, enfrentou fogo a bordo e caiu perto das Ilhas Mauricio, matando todos os 159 ocupantes. Em ambos os casos, os pilotos comunicaram problemas. Portanto, se o 707 da Varig estivesse com algum problema que o impedisse de prosseguir viagem alguma mensagem de emergência ou pedido de socorro teria sido enviada.

Dois acidentes, porém, podem explicar o que aconteceu com o 7O7 da Varig há quase 30 anos atrás. O primeiro aconteceu em 1999. Um Learjet 35 decolou da Flórida para um vôo de duas horas, levando o famoso golfista Payne Stewart e mais seis ocupantes. A tripulação deixou de se comunicar com o solo e dois jatos da Força Aérea americana decolaram para interceptar o jatinho. Os pilotos dos caças reportaram que as janelas do Learjet estavam cobertas, internamente, por uma fina camada de gelo, mas era possível perceber que os pilotos estavam mortos, ainda atados aos seus assentos. Sob comando do piloto automático, o jato manteve-se a 46.000 pés, até cair, cinco horas depois, no estado de Dakota do Sul, quando acabou o combustível. Causa do acidente: um adaptador usado para consertar uma válvula de escape de ar falhou, causando despressurização da cabine.

O segundo, ocorrem em 2005. Um Boeing 737-400 da empresa Helios Airways (Chipre) caiu perto do Aeroporto de Atenas (ATH) matando os 121 ocupantes . Meia hora após a decolagem o 737 deixou de comunicar-se com os controladores de vôo. Os controladores gregos entraram em contato com seus colegas cipriotas, que informaram que os pilotos do 737 haviam declarado "problemas no ar condicionado" logo após a partida. Dois caças F-16 gregos foram enviados e interceptaram o 737. Os pilotos gregos, voando a poucos metros do Boeing, reportaram que não havia ninguém na cadeira do comandante e o co-piloto estava aparentemente desmaiado sobre o manche.

Desta forma, essa parece ser a única hipótese para o desaparecimento do 707. O PP-VLU pode ter sofrido a mesma falha no sistema de pressurização, que aliás, é um problema que ocorre mais comumente do que se pensa - ou do que se divulga. Essa falha pode ter levado à uma lenta e gradual despressurização, incapacitando gradativamente os seis ocupantes do 707. Os tripulantes do PP-VLU teriam desmaiado e, minutos depois. O Boeing teria então voado na mesma proa e altitude, corrigida pelo piloto automático, até ficar sem combustível, mergulhando então em algum ponto da imensidão do Oceano Pacífico.

Ora, se uma falha igual ao do 737 da Helios ou com o Learjet 35 de Payne Stewart ocorreu no PP-VLU, então o 707 teria sumido a milhares de quilômetros de onde ocorreram as buscas. Isto por que as buscas concentraram-se numa área expandida, baseada na posição do último contato do Boeing com o controle de solo. Isso explica porque nada foi encontrado, apesar do trabalho árduo de dezenas de embarcações e aeronaves da marinha japonesa e norte-americana. Depois de oito dias, durante os quais até 70 navios e aviões foram utilizados, as buscas foram definitivamente suspensas.

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Nesses quase 30 anos, inúmeras teorias tentaram explicar o que aconteceu com o avião da Varig. Falou-se até na possibilidade de um seqüestro praticado por espiões da KGB. Segundo essa "teoria", o cargueiro levava mais do que quadros de Manabu Mabe. Em seus porões haveria códigos de computadores retirados de um MIG-25 da Força Aérea Soviética que havia deserdado da base de Saharovka e pousado no aeroporto internacional de Hokkaido, em 1976. Desta forma, o PP-VLU teria sido interceptado pelos soviéticos e obrigado a pousar na então União Soviética, para que os códigos não fossem levados aos Estados Unidos.

Deixando as teorias conspiratórias de lado, o fato é que o PP-VLU entrou para a história como o único jato comercial que desapareceu sem deixar vestígios.

E um outro fato que adiciona ainda mais curiosidade é o caso do Comandante Araújo, um dos raríssimos casos de pilotos de aeronaves comerciais que se envolveram em dois acidentes fatais.


O sumiço do 707 da Varig

Fonte: Terra - Por Eduardo Tessler De Porto Alegre (RS)

Nem todo acidente aéreo tem respostas claras a todas as dúvidas que surgem. A tragédia do Airbus A330-200 da Air France em algum ponto entre Fernando de Noronha e Dakar ainda precisará de muito estudo para que se apontem as causas definitivas. Até porque encontrar a caixa-preta no fundo do mar a alguns quilômetros da superfície é mais difícil que esticar as pernas a bordo de um vôo nacional.

Dizem os especialistas em aviação civil que um acidente nunca é fruto de uma causa apenas. É preciso um conjunto de problemas para derrubar um avião. As pequenas falhas estão presentes quase todos os dias na aviação comercial. Mas só a sequência de falhas se transforma em tragédia.

O maior mistério da aviação brasileira - e provavelmente internacional - é o sumiço do Boeing 707 Cargo da Varig, prefixo PP-VLU, que acaba de completar 30 anos. No dia 30 de janeiro de 1979, o comandante Gilberto Araújo da Silva e mais 5 tripulantes zarparam do aeroporto de Narita (Tóquio) com destino a Los Angeles. De lá, o avião viria com outra tripulação ao Rio de Janeiro. Fazia frio e estava nublado no Japão, mas a torre de Narita deu condições de vôo. O comandante Gilberto cumpriu todas as formalidades, carregou os tanques com combustível, checou os equipamentos e decolou. Pela última vez.

Gilberto era sobrevivente da queda do 707 da mesma Varig em Orly, França, seis anos antes. Se é verdade que quem sobrevive a um acidente aéreo está protegido pelo resto da vida, a prática provou que não é bem assim. O comandante Gilberto fez todos os procedimentos necessários. O avião subiu sem qualquer anomalia. Mas 30 minutos depois perdeu-se os traços do cargueiro. Nem uma mensagem, nem um contato. Nada. O PP-VLU sumiu sem deixar vestígios.

A teoria da conspiração lançou no ar algumas hipóteses:

1. Foi um sequestro promovido por colecionadores de arte, já que no porão estavam mais de 150 obras do pintor Manabu Mabe. Curioso é que nesses 30 anos jamais essas pinturas foram achadas em paredes alheias.

http://military.szm.sk/zaujimav/belenko/belenko2.jpg

2. O 707 teria sido abatido por soviéticos, interessados em esconder segredos de um caça MIG-25 que supostamente estaria desmontado e sendo levado aos EUA. Difícil acreditar que a derrubada não deixasse destroços e que essa versão não fosse mais conhecida.
3. Outra teoria conta que o 707 teria sido forçado a um pouso na costa da Rússia, onde os tripulantes teriam sido mortos. Estranho é que não houve nenhuma comunicação entre o avião, o tráfego aéreo e a torre de comando desde a saída de Narita.

A hipótese mais aceita, porém, fala em problemas técnicos, como uma despressurização inesperada, e um consequente mergulho sem volta nas profundezas do mar do Japão. Pela dificuldade das buscas no local, nunca se achou qualquer peça e o caso foi encerrado.

O acidente aéreo é sempre trágico. Foi assim no Airbus 320 da TAM em Congonhas, há dois anos, como também foi na queda na Amazônia do Boeing da Varig, em 1989, pelas trapalhadas do comandante Garcez. O provável acidente com o A-330 da Air France e seus mais de 200 passageiros vai ser notícia por muito tempo, à procura das causas e de explicações. A tecnologia permite que se investigue com maior segurança do que em 1979. Talvez por isso a tragédia de 2009 não será esquecida como a do cargueiro da Varig.

Um acidente aéreo toca na emoção de todos, ainda que morram mais pessoas em acidentes nas estradas do que em tragédias aéreas. Mas rapidamente a vida volta ao normal e a Air France terá outra vez lista de espera para seus vôos Rio-Paris.