Dassault promete fabricar caças no Brasil

Valor Online - Daniel Rittner - Via O Globo

O relatório técnico da FAB avaliando os três fornecedores que chegaram à fase final da concorrência está perto de uma conclusão. Disputam um contrato estimado em mais de US$ 2 bilhões, além da Dassault (com o Rafale), a sueca Saab (Gripen NG) e a Boeing (F-18 E/F Super Hornet). A análise da FAB abrange critérios comerciais, técnico-operacionais, logísticos, de compensação comercial, industriais e de transferência de tecnologia. O mercado espera uma decisão no fim do ano.

Segundo o representante da Dassault, a empresa obteve autorização do governo francês para a " transferência total de tecnologia " à Aeronáutica e à indústria de defesa brasileira para a construção dos caças, o que inclui a abertura dos códigos-fonte. Às vésperas da escolha do novo caça da FAB, a Dassault assinou acordos de cooperação com 38 entidades e indústrias brasileiras, em um total de 65 projetos. A Embraer é naturalmente a principal peça do programa de cooperação, mas envolvem ainda empresas médias como Mectron, Atech e Aeroeletrônica. Merialdo assegurou que não há restrições para transferir conhecimento nos sistemas de integração de armamentos e no data link (sistema responsável pela comunicação entre caças e com as bases terrestres), áreas de interesse da FAB.

Por compartilhar valores com o Brasil e desejar o fortalecimento de sua posição na arena internacional, o governo francês tem um " acordo estratégico " com o país e a Dassault quer construir uma " parceria de longo prazo " , disse Merialdo. Para ele, a Embraer tem " um grande potencial " para trabalhar com a empresa no desenvolvimento de produtos, com a vantagem de não competir nos mesmos segmentos, como os jatos comerciais de médio porte.

A Dassault ainda detém 0,9% das ações da Embraer, mas desta vez não há nenhum tipo de associação - vetada na atual concorrência da FAB - entre as duas. É o contrário do que ocorreu no F-X original, engavetado no início de 2005 por decisão do presidente Lula. Na ocasião, elas disputavam com o caça Mirage 2000 BR, de uma geração anterior à do Rafale. Agora, a Aeronáutica definiu que o fornecedor deverá obrigatoriamente dividir seus conhecimentos com a Embraer, dentro de um programa de longo prazo de transferência de tecnologia.

Na recente visita de Lula à Itália, onde participou com Sarkozy da cúpula do G8 ampliado, surgiu a notícia - sem confirmação do Palácio do Planalto - de que ele teria dito ao presidente francês que já havia um vencedor da concorrência. O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cecomsaer) afirma que a comissão do F-X2 se atém ao relatório técnico, que dará subsídios à decisão do governo. Em última instância, no entanto, Lula e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, um francófilo assumido quando o assunto é o reaparelhamento das Forças Armadas, podem fazer uma escolha política.

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Além de ter levado o Rafale para a fase final do F-X2, o Brasil fechou recentemente a compra de 51 helicópteros Cougar EC-725, que serão fabricados em parceria com a Helibrás, e de quatro submarinos convencionais da classe Scorpène, além de um casco maior - desse mesmo modelo - para acomodar o reator nuclear desenvolvido pela Marinha.

Na acirrada disputa com americanos e suecos, Merialdo ressalta que o Rafale " é um programa novo, mas maduro " . O primeiro caça entrou em serviço em 2001, já foi usado em missões de reconhecimento tático e de ataque ao solo na Guerra do Afeganistão, e há cerca de 70 unidades na frota da Força Aérea Francesa. O número deve subir para 294 aviões.

Críticos do Rafale apontam a falta de escala e os problemas no histórico de cooperação com o Brasil - a FAB operou durante décadas o Mirage III - como pontos frágeis da Dassault. Merialdo atribuiu a ingerências políticas derrotas em concorrências na Coreia do Sul e em Cingapura, mas destacou que o Rafale disputa o fornecimento de mais de cem caças para a Índia e antevê possibilidades de venda à Suíça, Grécia e Emirados Árabes.

Em 12 de junho, os três fornecedores da lista final da FAB entregaram suas respectivas " melhores e últimas ofertas " na concorrência do F-X2. Trata-se da Bafo - a sigla em inglês de " Best and Final Offer " -, como é conhecida no jargão militar.

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