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Embaixador dos EUA, Thomas Shannon, mostra estilo refinado

Feichas Martins [*] Feichas Martins, articulista colaborador da ABN NEWS - Agência Brasileira de Notícias, é Palestrante, Jornalista, Mestre em Ciência Política pela UnB, Professor Universitário, Especialista em Planejamento Político-Estratégico e Consultor Político-Eleitoral. É membro do Comitê de Ética e de Liberdade de Expressão da Federação Nacional da Imprensa [Fenai-Faibra] e da Associação Brasiliense de Imprensa [ABI-DF]

Fonte: ABN NEWS

O novo Embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, concedeu longa entrevista exclusiva – a sua primeira, desde que chegou a Brasília - à TV Record, demonstrando conhecimento especial do País, onde já tinha servido, nos anos 90, e por ser casado e ter filho com brasileira.

O Embaixador mostrou refinado perfil de democrata, o que lhe valeu restrições à sua indicação para Brasília da parte de um senador do partido republicano, George LeMieux, que o considera condescendente com o regime de Fidel Castro e com a derrubada do presidente Zelaya, em Honduras.

Restrições que foram superadas e que revelam que Shannon é o homem certo para dar continuidade á política de Washington com vistas à promoção da responsabilidade social corporativa com o Brasil, iniciada pelo seu antecessor Clifford Sobel. Lançada em novembro de 2006 pelo Embaixador Clifford Sobel, segundo observa o site oficial do Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, “essa Iniciativa vem promovendo o tema da responsabilidade social corporativa junto a diversos segmentos da sociedade brasileira, divulgando casos de sucesso e parcerias estratégicas. Em 2006, as 50 empresas americanas que fazem parte da Iniciativa investiram cerca de US$250 milhões em mais de 700 projetos de responsabilidade corporativa por todo o Brasil. 85% desses investimentos têm enfoque em três áreas: educação, saúde e meio ambiente”.

O que disse Shannon de mais importante, dentro da linguagem técnica diplomática, é que o Brasil já não é mais emergente e se apresenta em condições de um papel global na política internacional, em especial na América Latina.

Shannon se esquivou de opinar sobre qual candidato, dos nomes que estão aí para disputar a sucessão de Lula (o governador José Serra e a ministra Dilma Rousseff), qual seria o favorito ou o preferido pelos Estados Unidos.

Os repórteres perguntaram, cumprindo seu papel, mas é claro que Shannon não responderia, pois seria intromissão em assuntos internos da política brasileira, mas fez apologia da democracia e da consciência do povo brasileiro em relação ao seu voto.

Será verdade? Primeiramente, as idéias circulam livremente aqui, mas não há mobilização popular e alternância do poder como soe acontecer num sistema pluripartidário. Vivemos um bipartidarismo disfarçado, aquilo que Giovanni Sartori chamaria de um sistema partidário moderamente predominante, em que três partidos, no máximo, Incluindo-se o PMDB, estariam em condições de disputar de fato o poder, mas o PMDB não quer e prefere ficar como caudatário.

Shannon teceu considerações importantes sobre as relações bilaterais, o potencial de crescimento do comércio entre o Brasil e os Estados Unidos e o estreitamento das relações entre as duas sociedades, quando revelou que os Estados Unidos são no mundo o país mais visado pelos brasileiros que demandam vistos para passaportes –um dado que até hoje não era conhecido.

Aliás, acredito que as incursões da cantora Madonna ao Brasil e seus projetos empresariais tenham alguma relação com essa busca de estreitamento das relações entre as duas sociedades, procurando pontos de aproximação e minimizando diferenças.

Lembro-me de que, certo dia, o Embaixador da URSS em Brasília, Dmitri Jukov, comentou comigo, pessoalmente, que não entendia porque havia tanto interesse dos governos militares do Brasil (Governo Geisel) pela China e certo descaso em relação à URSS, ressalvando-se o aspecto do anti-comunismo brasileiro naquele tempo de “guerra-fria”.

Disse-lhe, como jornalista: “Embaixador, quantos restaurantes chineses e quantos restaurantes russos temos em Brasília? É só o Senhor fazer a verificação...”. A culinária chinesa em Brasília é muito apreciada e as coisas começam a acontecer pela aproximação cultural, que os Estados Unidos iniciaram pelo futebol feminino e levando Pelé para o Cosmos.

Voltando à sua entrevista, Shannon minimizou o controle do tráfego no aeroporto de Porto Príncipe pelas tropas norte-americanas, durante os primeiros momentos de socorro às vítimas do terremoto que assolou Porto Príncipe, negando que tenham ficado seqüelas no relacionamento entre Brasília e Washington, em face da queixa formulada pelo governo brasileiro à secretaria de Estado em Washington, naquela ocasião.

Falta de comunicação, segundo o Embaixador, teria sido a causa daquele pequeno incidente, mas deixou claro que os Estados Unidos, como todo o respeito ao trabalho desenvolvido pelas tropas brasileiras em Porto Príncipe, eram o único país em condições operacionais de colocar alguma ordem no movimento de aeronaves que aterrissavam e decolavam naquele limitado espaço.

O Embaixador Shennon evitou comentar a situação contenciosa criada pela Inglaterra, ao decidir explorar petróleo nas Ilhas Malvinas, palco de conflito armado entre Inglaterra e Argentina durante a gestão da primeira-ministra Margareth Thatcher .

Shannon também procurou minimizar a iniciativa dos países da América Latina de criação de uma espécie de OEA sem o Canadá e os Estados Unidos, afirmando que “só há uma OEA”, que é a atual, que, a seu entender, cumpre papel de relevo na política regional.

Sobre a compra de 36 aviões-de-combate que o Brasil pretende efetuar em breve, o embaixador evitou colocar a faca no peito do governo brasileiro, mais propenso a comprar os aviões “franceses “Rafale”, mas, sutilmente, admitiu que, se o Brasil optasse pelos aviões F-18 , dos Estados Unidos, teria transferência de tecnologia. Lembrou que os Estados Unidos têm prestigiado os aviões super-tucanos produzidos pela Embraer, e que pretende adquirir outros lotes para emprego militar na Força Aérea norte-americana.

Enfim, uma entrevista equilibrada e que serve de exemplo para outros diplomatas acreditados no Brasil, que, raramente, concedem entrevistas por acreditar que a diplomacia ainda continua atuando mais nas sombras, nos bastidores. No mundo globalizado, diplomata é ator público, e como tal deve se comunicar com a população, no caso a brasileira, que compõe o teatro de suas atuações.