O bombardeiro orbital nazista


As V2s caindo sobre Londres eram só o começo. Se os nazistas tivessem se agüentado, bombardeiros voando a Mach 22 devastariam os Estados Unidos do espaço. Assustador? O conceito não é totalmente insano. Esta é a história do Silbervogel de Eugen Sänger.

A Alemanha Nazista pode ter perdido a guerra, mas certamente não por falta de gênios em engenharia. O montante de armas avançadas e conceitos tecnológicos que surgiram durante os 12 anos do Reich de Mil Anos continua a impressionar até hoje. Peças de artilharia de 800 mm? Sim! O mais avançado caça a jato do mundo, míssil de cruzeiro e míssil balístico sub-orbital? Sim, sim e sim!

Por outro lado, veja o que os EUA fizeram: focaram a maior parte de seus esforços em uma única arma avançada, avançando bem além do estágio de conceito. Mas a audácia das armas conceituais alemãs ainda fascina, tal como seus imbatíveis carros de corrida da década de 1930. E a mais viável delas eventualmente se tornou um notável produto, o foguete Saturno V do projeto Apollo.

O conceito mais impressionante foi o Silbervogel (“Pássaro Prateado”) de Eugen Sänger. Foi um estudo de desenho comissionado pelo Ministério do Ar para resolver um problema apontado por Hermann Göring: o mais poderoso futuro inimigo da Alemanha era protegido pela mãe de todos os obstáculos: o Oceano Atlântico. O Ministério lançou uma iniciativa com o nome Amerika Bomber e colocou todo o gênio criativo alemão para trabalhar.

A maioria dos conceitos apresentados ao Ministério eram de bombardeiros convencionais ampliados, mas não o pássaro de Sänger. Ele era membro de uma sociedade de projetistas de foguetes chamada Verein für Raumschiffahrt – assim como a maioria dos que mais tarde foram parar na NASA e construir os foguetes americanos – e seus olhos estavam no espaço sub-orbital, como expresso em seu livro de 1933 “Raketenflugtechnik” (“Tecnologia de Voo de Foguetes”). Ao trabalhar para o Ministério, ele expandiu o livro em 1944, com o título Raketenantrieb für Fernbomber (“Propulsão de Foguetes para Bombardeiros de Longo Alcance”).

O Silbervogel era um avião a foguete com um corpo de ascensão. E se contarmos o número de bem-sucedidos aviões a foguete e corpos de ascensão construídos nos 70 anos seguintes, você pode imaginar onde isso vai parar.

As absolutamente audaciosas missões seriam lançadas da própria Alemanha. Encaixado na cabeceira de um trilho de 3 quilômetros, o Silbervogel aceleraria até 1.900 km/h em um trenó propulsionado por um conjunto motores de foguete. Uma vez no ar, dispararia seus próprios foguetes e queimaria as 90 toneladas de combustível que preenchiam a maior parte de sua fuselagem esguia e prateada para atingir Mach 30 a uma altitude de 150 quilômetros.

O lançamento seria a parte fácil.

A parte difícil era lá em cima, em sub-órbita. Em seu caminho para Nova Iorque, a aeronave começaria a cair. Contudo, seu corpo foi desenhado para gerar sustentação. A ideia era que ao atingir-se as camadas mais densas da estratosfera, o Silbervogel quicaria de volta para o espaço, como uma pedra lançada na superfície de uma lagoa. Numa série de quicadas gradualmente mais fracas, atingiria facilmente o continente norte-americano, despejando sua carga de quatro toneladas – preferencialmente nuclear – no alvo escolhido, e então planaria para pousar numa área do Pacífico controlada pelo Japão.

Embora superficialmente viável, houve um pequeno erro de cálculo nos últimos estudos do trabalho de Sänger: o fluxo de calor gerado teria sido significativamente maior do que o estipulado em seu livro, essencialmente resultando em seu glorioso pássaro queimando até virar cinzas no primeiro salto estratosférico; um Ícaro ao contrário.

O projeto foi cancelado após a Alemanha ver-se em apuros com um inimigo bem mais próximo que a distante América: a União Soviética. E enquanto as armas soviéticas estavam longe de estar no mesmo patamar dos protótipos alemães, Stalin acreditava que a quantidade era uma qualidade em si.

O líder soviético mais tarde aprenderia sobre o Silbervogel em documentos capturados do centro espacial alemão em Peenemünde, e lançou uma fracassada campanha para recrutar Sänger para trabalhar na União Soviética. Ao invés disso, o conceito Silbervogel foi parar na Força Aérea Americana. No começo dos anos 1960, a Boeing desenvolveu o X-20 Dyna-Soar, um corpo de ascensão similar ao Silbervogel, que seria lançado ao espaço em um foguete Titan III. Em 1963, foi cancelado como seu primo alemão, sendo vítima do processo que alocou todas as atividades espaciais humanas para a NASA, que conduzia projetos bem diferentes na época. Mas quase uma década depois, o sonho de Sänger de uma aeronave aerodinâmica de reentrada se realizou na forma do Ônibus Espacial, ativo até hoje.

Quanto a Sänger, ele viveu na França por alguns anos após a guerra, e então retornou para sua nativa Alemanha para trabalhar em ramjets e velas solares até sua morte em 1964. Não era um homem para deixar uma guerra perdida acabar com sua imaginação.

Fonte: Jalopnik, 9 de julho de 2010 - Via: Sala de Guerra.