O Brasil colocou em dúvida ontem, na Organização Mundial do Comércio (OMC), a legalidade da ajuda financeira do governo do Japão para o desenvolvimento de seu primeiro avião de passageiros, o Mitsubishi Regional Jet, que vai concorrer com a Embraer no mercado de jatos regionais.

No exame da política comercial japonesa pelos membros da OMC, a delegação brasileira levantou a suspeita de que os subsídios oficiais para o Mitsubishi podem estar violando as regras do comércio internacional.



Desde 2009 o Brasil pede ao Japão detalhes sobre os subsídios, sem obter resposta. A delegação brasileira manifestou "muita preocupação" com os montantes concedidos e não revelados. O plano japonês é que seu jato, de 78 a 92 assentos, voe pela primeira vez em 2012. O aparelho já tem mais de 200 encomendas. A expectativa é de fazer 30% das vendas na Europa.


O Brasil colocou em dúvida, ontem, na Organização Mundial do Comércio (OMC) a legalidade da ajuda financeira do governo do Japão para o desenvolvimento de seu primeiro avião de passageiros, o Mitsubish Regional Jet, que vai concorrer com a Embraer no mercado de jatos regionais. A delegação brasileira levantou a suspeita de que os subsídios para a Mitsubishi podem estar violando as regras do comércio internacional.

Mitsubish Regional Jet

Desde 2009 que o Brasil pede ao Japão, repetidamente, detalhes sobre os subsídios ao construtor aeronáutico, até agora sem resposta. A delegação brasileira manifestou "muita preocupação" com os montantes concedidos e não revelados.

O plano japonês é de seu jato de 78 a 92 assentos voar pela primeira vez em 2012, ganhar certificação em 2013 e ser operacional em 2014. A aeronave já tem mais de 200 encomendas. Sua expectativa é de fazer 30% das vendas na Europa, desafiando Embraer e o canadense Bombardier.

A Mitsubishi espera vender mil jatos regionais nos próximos vinte anos. A companhia estima em mais de 5 mil jatos a demanda global por aparelhos de 70 a 90 assentos nesse período.

Embraer e Bombardier acompanham com cautela a entrada de um novo concorrente, que se somará a produção de jatos regionais da China e da Rússia, todos com desenvolvimento apoiados pelos governos.

A situação do Japão, porém, é diferente. O país participará do novo acordo sobre condições de crédito a exportação de aeronaves da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que será assinado na semana que vem em Paris, juntamente com o Brasil, Estados Unidos, Canadá e União Europeia (UE).

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Sukhoi Superjet 100, da Rússia

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Chinês AVIC ARJ 21 Commercial Aircraft

Dessa forma, o aparelho desenvolvido pela Mitsubishi será sujeito as novas regras, mas não o Sukhoi Superjet 100, da Rússia, e nem o chinês AVIC I Commercial Aircraft que têm planos de entrar no mercado este ano.

Os construtores aeronáuticos que assinarão o acordo da OCDE querem de toda forma atrair os russos e chineses, porque do contrário embaralha de novo a disputa pelas encomendas de jatos.

Para o Brasil, o novo acordo manterá o equilíbrio competitivo entre Embraer, Bombardier, Airbus e Boeing, ao neutralizar os efeitos das condições de financiamento nas disputas por novas vendas no mercado internacional.

A expectativa é de que isso contribuirá para a estabilidade do mercado de crédito à exportação das aeronaves civis, reduzindo disputas financeiras entre os fabricantes, e dando também previsibilidade para as companhias aéreas compradoras.

Pela repercussão na imprensa, está claro que o tema da oferta de alimentos está ganhando um novo status. Os artigos recentes publicados por Marcos Jank, Lester Brown e pelo ex-ministro Roberto Rodrigues mostram que o tema pode ser abordado a partir de diferentes perspectivas. As três manifestações, no entanto, cada uma à sua maneira, indicam a mesma origem para a elevação dos preços internacionais: a demanda por alimentos e produtos agropecuários vem crescendo com vigor nos últimos anos e a oferta - também porque acontecem eventos climáticos que a compromete em partes do mundo - não tem sido suficiente para repor estoques mundiais. O mercado identifica essa situação, empurrando os preços para cima.

Por sua própria natureza de elevado risco climático e pela crescente preocupação de nações com um tema que voltou para ficar no debate internacional - a segurança alimentar -, os preços dos produtos agropecuários são muito influenciados pelas expectativas do mercado. Tanto o mercado futuro quanto os compradores em busca de recomposição de estoques passam a alimentar as altas até que boas notícias do lado da oferta apareçam. Não há muito o que fazer numa situação como a que vivemos hoje. A boa notícia é que ela é, em sua essência, passageira - lembrando que, como safras agrícolas são anuais, o transitório dura meses.

O que é destoante na elevação de preços a que assistimos hoje é que ela é generalizada, ou seja, está ocorrendo com todas as commodities agrícolas. Seria preciso uma elevação muito além do provável na produção mundial para fazer os preços voltarem aos patamares de 2008, pós estopim da crise financeira nos Estados Unidos. Se este cenário está correto, o tema da segurança alimentar, entendido como a capacidade do mundo de ofertar alimentos em proporção equivalente ao crescimento da demanda, vai reaparecer com toda força nas relações internacionais. E, mesmo que os preços caiam no futuro próximo, a resiliência do mercado em lidar com baixos estoques estará em xeque - a menos, é claro, que a China reverta sua tendência de crescimento.

Assim, aumentar a oferta como mecanismo central para garantir segurança alimentar no mundo será a solução apregoada daqui para a frente. A segurança alimentar pode até ganhar status similar ao de mudança do clima em relação às atenções mundiais para problemas de natureza coletiva. Que caminhos existem para aumentar a oferta é assunto para um próximo artigo. Aqui, é preciso entender que o Brasil é parte interessadíssima nesta temática, seja na perspectiva do produtor rural, na da diplomacia política, na do investidor ou na do consumidor.

A FAO nos diz, com base em cenários de demanda, que a produção de carnes precisa crescer 48% de hoje a 2030 e mais 21% de 2030 a 2050. O milho, para dar conta de engordar todo o frango e suínos que as pessoas comerão a mais, terá de crescer 30%, no primeiro período, e mais 17%, no segundo. Oleaginosas, cujo cultivo se expandirá pelas mesmas razões que o milho e também pelo crescente consumo de óleos vegetais, terão de crescer 43% e 37%, respectivamente. Açúcar, 60% e 15%, levando em conta iguais períodos. Mesmo o arroz, produto menos dinâmico, terá de crescer 19% e 4%. O número é surpreendente: de hoje a 2050 o mundo terá de produzir mais 1 bilhão de toneladas de milho e oleaginosas, sendo necessários 90 milhões de hectares a mais.

Para isso 60% dessa nova área precisará entrar em produção até 2030 - a menos que o mundo descubra um jeito de fazer a produtividade crescer mais rapidamente. Mesmo tendo em conta que alguns produtos terão suas áreas reduzidas, como no caso do arroz, a demanda adicional por terra chama a atenção.

Tais cenários de demanda não me parecem fora da realidade por uma razão: o crescimento projetado de hoje a 2030 é menor do que o observado de 2000 a 2009, que é menor ainda para o período 2030 a 2050. Como sabemos, à medida que a renda cresce, as pessoas tendem a consumir alimentos de maior valor, mas, ao mesmo tempo, gastam uma porção menor de sua renda com alimentos. Esses cenários se baseiam nessa regra.

E o Brasil? Em todos os produtos citados o Brasil vem mostrando uma capacidade de aumentar a produção a taxas maiores do que as mundiais. Ou seja, o País vem ganhando participação de mercado na oferta internacional. A meu ver, é isso o que se espera do País.

Um cenário plausível é considerar que o Brasil continuará ganhando participação de mercado até 2030 e que, a partir de então, manterá sua participação até 2050. Até 2030, novas potências agrícolas surgirão e nossa responsabilidade em garantir a segurança alimentar poderá ser mais bem compartilhada. A produção de carnes deverá crescer 28 milhões toneladas até 2030 (63% de aumento) e 10,5 milhões até 2050 (26,5%). Nossa produção de soja duplicará até 2030 e baterá a casa de 170 milhões de toneladas em 2050 (172%). No caso do milho, cresceremos em 44 milhões de toneladas até 2030 (85%) e mais 17 milhões até 2050 (17% sobre 2009). A produção de açúcar chegará a 70 milhões de toneladas (90% de crescimento). Nessa perspectiva, já descontando ganhos normais de produtividade, o País terá de alocar na produção de soja, milho e, em menor proporção, cana-de-açúcar, mais 16 milhões de hectares até 2030 e 5 milhões, de 2030 a 2050.

Uma reforma inteligente do Código Florestal vai garantir que essa produção adicional ocorra nas áreas de maior aptidão para agricultura no Brasil. Parte da demanda adicional por terra virá das pastagens, outra parte se expandirá no Cerrado. Pela interpretação de dados históricos, a expansão de grãos se dará 60% sobre pastagens e 40% sobre áreas novas. Se feita de forma inteligente, respeitando a legislação brasileira e práticas agrícolas mais sustentáveis, o mundo agradecerá nossa mudança no uso da terra.

Fonte: Valor Econômico - Via Clipping Planejamento