O presidente americano, Barack Obama, deixou El Salvador nesta quarta-feira, encerrando sua primeira viagem pela América Latina. O menor país das Américas foi o terceiro e ultimo destino de Obama no giro de cinco dias pela região, depois de ter passado por Brasília, Rio de Janeiro e Santiago do Chile, antes de San Salvador.

A visita, programada para terminar depois de uma agenda pública na tarde de quarta-feira, no entanto, foi acelerada por conta do avanço da ofensiva da coalizão ocidental contra forças leais a Muamar Kadafi, na Líbia.

Um dos compromissos de Obama para a manhã desta quarta-feira, a visita ao sítio arqueológico San Andrés, foi retirado da agenda do presidente americano. Apenas sua mulher, Michelle, e as filhas Sasha e Malia visitaram às 9h (locais) as ruínas maias, que datam de 900 a.C e ficam localizadas no departamento da Liberdade, a 40 minutos da capital San Salvador.

A estadia que durou menos de 24 horas teve início na terça-feira, com a chegada de Obama, Michelle e as filhas a San Salvador às 12h30 locais. Em seguida, o presidente americano se reuniu com o líder salvadorenho, Mauricio Funes, com quem debateu problemas como o narcotráfico na América Central, salvadorenhos ilegais nos EUA e parceria em programas de infraestrutura com ênfase no combate à pobreza.

Paralelamente à reunião, Michelle visitou o projeto social carro-chefe do país, o Cidade Mulher, que tem inauguração prevista para segunda-feira que vem, dia 28 de março. Idealizado pela primeira-dama salvadorenha, a brasileira Vanda Pignato, o projeto funcionará como um centro de atenção à mulher, com orientação no setor de saúde sexual preventiva e cursos de capacitação profissional.

A visita à sede do Cidade Mulher no município de Colon oficializou o apoio do governo ao americano ao projeto. De acordo com a Casa Presidencial salvadorenha, o governo americano dará uma ajuda de US$ 93.515 para setores de saúde e educação do Cidade Mulher. O projeto beneficiará cerca de 162 mil mulheres, com creches, unidades de atendimento à saúde, ajuda jurídica e psicológica em casos de violência doméstica, além de microcrédito.

Narcotráfico

Após se reunir com Funes, Obama anunciou uma ajuda de US$ 200 milhões (cerca de R$ 332 milhões) para o combate ao narcotráfico na América Central. Preocupado com a mudança de cartéis mexicanos e colombianos, sob intensa repressão, para vizinhos como El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua, o governo americano quer repetir ajudas financeiras como as dadas a países como Colômbia e México. O presidente dos EUA também prometeu trabalhar para aprovação da reforma migratória, em atenção aos cerca de 235 mil salvadorenhos ilegais nos EUA.

À noite, o presidente americano visitou o túmulo do arcebispo mosenhor Oscar Romero, morto em 1980, durante a guerra civil (1979-1992). A ida à Catedral Metropolitana, onde está enterrado Romero, causou polêmica entre a esquerda salvadorenha, para quem a presença de um presidente americano no túmulo de Romero, morto por esquadrões da morte treinados pela Escola das Américas, financiada por Washington, é uma ofensa. Funes e outros membros de seu partido, a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), no entanto, saudou o gesto de Obama e classificou a visita como “um ato de reconhecimento de Obama à mensagem profética de Romero”.

À noite, Obama e Michelle foram recebidos pelo casal presidencial salvadorenho para um jantar, às 20h, na Casa Presidencial. No menu, um prato típico salvadorenho: pupusa (uma espécie de panqueca de aipim com molho picante) com chipilin (uma verdura local) e medalhões de mignon. De sobremesa, nuegados, uma adaptação dos bolinhos espanhóis buñuelos que são parecidos com nosso bolinho de chuva.

Obama e Michelle sentaram-se na mesa com Funes e Vanda e conversaram durante duas horas, entre outras coisas, sobre a relação que têm com a família em meio a uma agenda tão apertada. Estiveram presentes no evento privado cerca de 200 convidados, entre presidentes de partidos políticos, membros do Congresso e do Judiciário salvadorenho, parte da comitiva de Obama, assim como o arcebispo de San Salvador José Luis Escobar Alas. Segundo fontes do governo, o que mais teria marcado Obama em sua passagem por El Salvador seria a visita ao túmulo de Romero, na qual teria se emocionado.



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A passagem de Obama a El Salvador também foi marcada por protestos contrários à sua passagem pelo país. Antes mesmo de o presidente americano deixar Santiago do Chile rumo a El Salvador, grupos camponeses, estudantis e sindicalistas se reuniram na manhã da terça-feira na Praça do Salvador do Mundo para protestar contra a visita. Cerca de oito grupos de esquerda se juntaram a manifestantes que se concentraram na Universidade de El Salvador e pediram o fim do tratado de livre comércio, firmado em 2005 com os EUA, o fechamento da base militar americana de Comalapa, assim como a legalização de imigrantes salvadorenhos em território americano.

Líbia

Apesar dos esforços em manter a programação pela região, a viagem de Obama à América Latina foi ofuscada pela ofensiva das forças de coalizão contra a Líbia. Enquanto assessores de segurança do presidente alertaram sobre a necessidade de antecipar seu retorno, dentro de casa Obama foi criticado por estar longe no início das operações contra as forças de Kadafi.

A passagem por El Salvador encerrou a primeira visita oficial do presidente americano pela região, onde cortejou os líderes dos países por onde passou Dilma Rousseff (Brasil), Sebastián Piñera (Chile) e Mauricio Funes (El Salvador), além de ter pregado uma aliança com a América Latina.

Com o Brasil, em especial, falou sobre uma relação de iguais e alertou para a necessidade de se tratar o país como potência regional e mundial, como são China, Índia e Rússia.


Fonte: IG