Durante a 2ª Grande Guerra, temendo uma possível invasão parte dos países do Eixo, a partir de Dakar no norte da África e também, devido aos sucessivos ataques de submarinos alemães e italianos contra os navios da nossa Marinha Mercante, o governo brasileiro cedeu o uso de bases no Nordeste, aos Estados Unidos. Em contra-partida, nossas forças foram reequipadas com equipamentos modernos.
 

Fortaleza era onde havia algumas instalações de uma futura Base Aérea, num campo de aviação de grama (Aeroporto do Alto da Balança -Cocorote - Adjacento Field - Atual Base Aérea de Fortaleza). A Base ja era conhecida pelo pessoal do correio Aéreo que voava a Rota do São Francisco, uma das principais linhas do Correio Aéreo Militar. Por isso lá foi criado o Agrupamento de Aviões de Adaptação (Operational Conversion Aircraft Grouping) estabelecido em 4 de Fevereiro de 1942, cujo objetivo era propiciar aos elementos da FAB, um conhecimento atualizado de material mais moderno.
Assim formou-se o núcleo da aviação de patrulha da FAB que entrou na Segunda Guerra, nos idos de 1942. Naquela época o Brasil ainda era um país neutro, mas no entanto, os países aliados desejavam que nos participássemos mais ativamente da guerra, para que o domínio das rotas marítimas do Atlântico Sul, como também o trecho Natal - Dakar, ficasse do lado do aliados.

No início das patrulhas, foram usados, aviões T-6 e Vought V-65B, que eram inadequados as tarefas, pois o vôos de patrulha, na II Guerra Mundial, requeriam aeronaves bimotores, tripulação de no mínimo 5 militares, rádio e armamento adequado (metralhadoras, torpedos e bombas de profundidade).

Para reverter a situação, o governo brasileiro, recebeu apoio norte americano (Lend-Lease Program) e por consequencia aeronaves mais apropriadas à tarefa de patrulhar o Atlântico Sul. O primeiro lote consistiu de 10 caças Curtiss P-36 (USAAF serials 12468, 12453, 12457, 12573, 12465, 12572, 12589, 12520, 12474 and 12467), 2 bombardeiros Douglas B-18 (6300 - ex USAAF 36-300 e 7032 - ex USAAF 37-32 - Um terceiro B-18 acidentou-se no voo de translado para o Brasil e acabou pousando em uma praia na Guatemala. Posteriormente foi enviado outro B-18 para repor a perda. Este recebeu o numero 5073 mas não foi utilizado para instruções em solo na Escola de Aviação em São Paulo) e 6 bombardeiros B-25 Mitchell (USAAF serials 40-2245, 2255, 2263, 2306, 2309, 2310 e 2316), e 6 caças P-40 que ficaram baseados em na cidade de Fortaleza-CE. Este primeiro lote foi utilizado para formar uma unidade provisória para o treinamento do pessoal da FAB em Fortaleza.

P-36A Hawk em Fortaleza - O prédio do terminal é inconfundível. Lembrando as antigas estações de trem. Posteriormente um novo terminal com uma proeminente torre de controle foi construido em 1943.
Mosaico com várias fotos de P-36 da FAB

Assim foi formada uma unidade de treinamento da FAB, chamada de Agrupamento de Aviões de Adaptação, que era apoiada por pessoal da USAAC/USAAF/US Navy. Mesmo sendo aeronaves mais modernas do que as que estavam, em uso, ainda não eram adequados a missão recebida, foi quando chegaram os primeiros 10 A-28A Hudson, convém ressaltar que a vindas destas aeronaves, só foi através do intermédio e dedicação do Brigadeiro Eduardo Gomes, que sendo um homem visionário, lutou com todas as forças para o correto e crucial reequipamento da Força Aérea Brasileira.
Até então a FAB, operava sem uma doutrina de padronização. Era do tempo em que voar era uma arte, e também uma característica da Aviação. Era do tempo que qualquer problema encontrado pelo piloto cabia a ele e somente à ele resolver a situação seja ela qual for. Todavia, para permitir uma maior eficácia nas patrulhas exigiu-se que os diversos procedimento a serem executados, deveriam ser padronizados, tanto dentro das normas operativas da FAB, quanto em relação à USAAF.

Este fato levou a criação da USBATU (United States Brazilian Air Training Unit), na cidade de Natal (Parnamirim Field), que estava encarregado em propiciar aos brasileiros, um curso que focava o conhecimento e padronização de procedimentos e materiais. Este curso durava 8 semanas e formou no total 36 oficiais e 64 sargentos. Um do pontos relevantes, deste curso foram as táticas de ataque noturno contra submarino e o uso do radar, um avanço tecnológico que foi decisivo na guerra aérea, além de treinarem em aeronaves mais apropriadas, para as missões de patrulha aérea. Após o curso na USBATU, é que os brasileiros ficaram no ponto de empregarem, a última palavra em vigilância marítimas: os bimotores Hudson, Ventura e o Harpoon.
B-18 Bolo - Em manutenção no pátio da Base Aérea do Recife - Pe O modelo Foi operado pela FAB entre 1942 e 1946. Em 08 de maio de 1943, as 12h10, um Douglas B-18, pilotado pelo primeiro tenente Zamir de Barros Pinto e SubTenente. Geraldo Labarthe Lebre, atacou um submarino inimigo na costa de Maceió - Alagoas. Foram atiradas duas cargas de profundidade e posteriormente a tripulação constatatou uma imensa mancha de óleo.

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O Mais Famoso B-18 da FAB o Vira-Lata (6300 - ex USAAF 36-300)
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A-28A Hudson
Lockheed 414-7172 Hudson A-28A da FAB No leme a inscrição: 'Doado pela Inglaterra' e no nariz um fole (bellows) pintado sob o nome 'Britania no. 1'
Aeronave A-29 - PV-1 'Ventura' da FAB



Cerimônia de entrega de uma Aeronave A-29 Ventura a FAB
Estas aeronaves foram sendo recebidas tão logo os esquadrões brasileiros ficaram aptas a operá-los. O Lockneed A-28 Hudson, era uma versão armada do bimotor de construção metálica Lodestar, possuindo 13,4 m de comprimento, 20 m de envergadura e 3,63 m de altura. Em vôo era impulsionado por 2 motores Wrigth Cyclone, acionado hélices tri-pás de passo variável, atingindo uma velocidade de 440 km/h. Era armado com 4 metralhadoras Browning .30, sendo que duas eram montadas no nariz atirando para frente e duas outras numa torreta móvel colocada sob a fuselagem. Podia transportar 700 kg de bombas, torpedos ou cargas de profundidade. Pesava carregado 8.400kg. Com 5 tripulantes, que eram o piloto, navegador, bombardeador, metralhador de cauda e operador de rádio. Esta fabulosa aeronave foi fabricada até julho de 1943, quando surgiu o seu sucessor: o Lockneed VENTURA.
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A FAB recebeu 6 Curtiss P-40E originalmente destinadas a Inglaterra em 1942 que foram alocados no Agrupamento de Aviões de Adaptação em Fortaleza (a foto deve foi tirada logo após a chegada das aeronaves que foram transferidas para Recife e Natal em julho do mesmo ano (e pintadas de verde) - As Aeronaves baseadas em natal mantiveram a "boca de Tubarão".
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Foi num dos B-25B desta unidade que uma tripulação mixta brasileira e norte-americada, sob o comando do Cap. Av. Parreiras Horta da FAB, que realizou o primeiro ataque de uma aeronave da FAB a um submarino Italiano, às 14:00 h do dia 22 de maio de 1942. O submarino, navegando na superfície foi surpreendido e reagiu com forte artilharia anti-aérea.

B-25b FAB 40-2310 at Adjacento Field - Fortaleza AFB - 1942 - Posteriormente o 2310 recebeu o nome 'lero lero' (abaixo)


Cap. Oswaldo Pamplona Pinto, 1º Ten. Henry H. Schwane, Cap. Affonso Celso Parreiras Horta
Dia 22 de maio de 1942 – Ao realizar missão de patrulha, um Um B-25 Mitchell, doAgrupamento de Aviões de Adaptação, sediado em Fortaleza e tripulado pelos Cap.-Av. Affonso Celso Parreiras Horta e Oswaldo Pamplona Pinto, tendo ainda a bordo o 1º Ten. Henry H. Schwane, 2º Sgt. Willian D. Tyler, 2º Sgt. Morris Robinson e 3º Sgt. John G. Yates, estes norte-americanos, surpreenderam às 13h57min um submarino do eixo entre o arquipélago de Fernando de Noronha e Atol das Rocas. O avião estava municiado com 10 bombas de demolição de 100 lb, lançando-as em uma única passagem que foram cair próximas do alvo. Devido ao fogo da antiaérea, a aeronave afastou-se da área. Era o submarino Barbarigo, italiano, que torpedeara o navio Comandante Lyra, na tarde de 18 de maio.

- Dia 27 de maio de 1942 – Ocorreram dois ataques: o primeiro pela manhã, a 120 milhas a leste de Fortaleza, um B-25 do Agrupamento de Aviões de Adaptação, sediado em Fortalezatendo como equipagem o Cap.-Av. Affonso Celso Parreiras Horta, Tenente Cruz Whittington, Sgts. Yates e Killam, norte-americanos, e Sgt. Santiago. Levava como armamento uma bomba de profundidade de 320 lb e três de demolição de 500 lb. O submarino encontrava-se parado na superfície. As bombas foram lançadas, fazendo com que a proa do submarino saísse completamente fora d’água; o segundo deu-se às 16h30, a 40 milhas ao norte de Fortaleza, quando foram lançadas 4 bombas de demolição de 500 lb. A tripulação era composta pelo Cap.-Av. Oswaldo Pamplona Pinto, 1º Ten.Henry H. Schwane, Sgts. Craft e Bexgh, norte-americanos, e o Sgt.Venâncio.

Esses ataques ensejaram mensagem de congratulações do Presidente Franklin Delano Roosevelt ao Presidente Getúlio Vargas.

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B-25 demonstra bombardeio horizontal em Fortaleza (Antigo estande de Tiro de Aquiraz-CE)
B-25 estacionado no pátio da Base Aérea de Fortaleza (provavelmente em meados de 1946) bem próximo ao prédio onde há as cerimonias da Base (observe a serra do maranguape ao fundo que não me deixa mentir). O B-25 foi uma aeronave tão importante para a Base Aérea de Fortaleza que o 'Clube dos Oficiais' leva o nome B-25. É uma pena que não exista nenhuma aerovave do tipo em exposição estática no âmbito da base.

Nota: Uma das coisas que me entristece é perceber que a importancia do Ceará e em especial das bases aéreas aqui existentes durante a segunda guerra mundial ser 'apagada'
(a meu ver as vezes propositadamente).

Muitas fotos de aerovaves baseadas em Fortaleza durante o período da Guerra são creditadas a outros aerodromos. Nem vou falar do texto do site da FAB que credita as aerovave que ensejou esse post (o B-25 Mitchell
FAB-2310, US 40-2310 - 'Lero Lero') que aqui estava baseado a época e o texto da FAB credita Recife que era o comando da zona... (as aeronaves so foram baseadas em Recife em Julho!)

Para piorar a Base Aérea de Fortaleza vem sendo descaracterizada em seu conjunto arquitetonico e ninguem faz nada para preservar ou tombar. Ao que parece tudo vai ter o fim da Base Aérea do Pici (uma das poucas genuinamente americanas - para não dizer unica) que poquissimas fotos possue. Pena ver a historia ser apagada!

No que depender de mim vou continuar pesquisando ate terminar o meu livro. Tenho mesmo muito pesar de conseguir mais informações sobre o que aconteceu no Ceará durante a Segunda Guerra fora do Brasil do que aqui...

Felizmente a Biblioteca Publica de Fortaleza tem sido uma feliz fonte de informações...