A ameaça do Irã de fechar o Estreito de Ormuz em resposta às últimas sanções lideradas pelos Estados Unidos pode se constituir em um ato teatral e sem consequências. Mas a lenta marcha do Irã rumo à capacidade de construir armas nucleares fez com que aumentassem drasticamente as tensões entre Washington e Teerã. O governo Obama não descartou a opção de um ataque militar, e ninguém deve assumir que os iranianos também não a descartaram.

Sob tais circunstâncias, é importante avaliar de forma realista a natureza e a magnitude da ameaça iraniana. Apesar de toda a sua retórica, o regime iraniano encontra-se atualmente mais vulnerável do que em qualquer outro período dos seus 32 anos de história. Internamente, o Irã vê-se constrangido por profundas divisões políticas, pela intranquilidade civil e por problemas econômicos. O presidente Mahmoud Ahmadinejad desafiou diretamente o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, enquanto que Khamenei falou em eliminar a presidência.

A vida do cidadão comum iraniano fica mais precária a cada dia, com o aumento do desemprego, da inflação e da repressão estatal e com o isolamento internacional crescente do país. O regime tem preservado uma sensação de estabilidade superficial por meio da repressão.

Eleições legislativas estão marcadas para o início de março. Líderes do reformista movimento verde estão ameaçando boicotar as eleições, mas ainda assim haveria uma disputa acirrada entre os setores mais religiosos e os mais secularistas do regime. Tanto esse pleito quanto a eleição presidencial do ano que vem poderão se transformar em oportunidades para manifestações públicas como aquelas que ameaçaram o regime três anos atrás, e que já derrubaram vários governos do Oriente Médio.

O Irã está prestes a perder o seu único aliado real, a Síria, já que o presidente Bashir al-Assad dá a impressão de que poderá ser o próximo ditador árabe a cair. A intensificação das sanções internacionais está provocando a desaceleração do programa nuclear do Irã e limitando a sua capacidade de projetar poder. A Arábia Saudita, o principal rival regional do Irã, está liderando os outros Estados do Golfo Pérsico em uma coalizão anti-iraniana cada vez mais explícita. Os Estados Unidos estão reforçando os seus vínculos militares e políticos com vários desses países.

Os líderes do Irã viram as forças dos Estados Unidos derrubarem Saddam Hussein e o Taleban com relativa facilidade, e a Organização do Tratado do Atlântico Norte ajudou a fazer o mesmo na Líbia com o coronel Muammar Gaddafi. As forças armadas convencionais antiquadas do Irã não são páreo para as forças norte-americanas. E o regime iraniano acredita que os Estados Unidos continuam comprometidos com uma política de mudança de regimes, mesmo que no momento Washington possa não ter apetite por uma nova intervenção militar.

Os líderes iranianos acreditam que a posse de armas nucleares poderia impedir um ataque militar dos Estados Unidos contra o Irã e proteger o vulnerável regime do país. É improvável que o regime, preocupado com a sua autopreservação, seja o primeiro a fazer uso de armas nucleares em um conflito com os Estados Unidos ou Israel. O uso de uma arma nuclear pelo Irã sem dúvida implicaria na destruição do regime.

O Irã é frequentemente retratado como sendo um ator irracional, e o comportamento aparentemente errático de Ahmadinejad e a sua retórica de ódio são apresentados como prova disso. Mas o regime liderado pelos clérigos muçulmanos de Teerã não é menos racional e calculista do que a antiga União Soviética ou a China comunista, dois países que foram contidos com sucesso pelos Estados Unidos.

Além do mais, o regime iraniano enfrenta diversos problemas internos e externos que facilitarão a tarefa dos Estados Unidos de conter as políticas do Irã caso o país obtenha armas nucleares. Os Estados Unidos contam com um poder diplomático, econômico e militar enorme para lidar com um adversário vulnerável às mesmas forças que provocaram a queda de vários regimes no Oriente Médio.

As ameaças de ação militar norte-americana ou israelense só fazem com que aumente o desejo do regime iraniano pela aquisição de um poder nuclear de dissuasão. Um ataque contra o Irã só faria com que se consolidasse o apoio interno ao regime e promoveria a simpatia internacional pelo governo iraniano, especialmente no mundo muçulmano. Por outro lado, a participação internacional nas sanções diminuiria, o apoio iraniano a grupos subversivos como o Hezbollah e o Hamas cresceria e a contenção da influência iraniana no Oriente Médio tornar-se-ia mais difícil.

O regime iraniano precisa ser persuadido de que ficará mais isolado, será mais penalizado e tornar-se-á mais vulnerável a convulsões sociais caso decida testar e produzir armamentos nucleares. Uma ação unilateral dos Estados Unidos ou de Israel não é capaz de produzir tal efeito. Somente uma frente internacional unida, apoiada em sanções cada vez mais duras e na promessa de aplicação de mais sanções caso o Irã desrespeite tal limite, poderia fazer com que o regime de Teerã pensasse duas vezes antes de tomar essa atitude.

No longo prazo, o Irã só acabará respeitando integralmente as suas obrigações sob o Tratado de Não Proliferação Nuclear sob um novo e mais moderado regime. A melhor maneira de os Estados Unidos promoverem isso é apoiando a democratização do Egito, da Tunísia, da Líbia, do Iêmen e da Síria, países nos quais os regimes caíram ou estão cambaleantes, e onde os Estados Unidos contam com um acesso e uma potencial influência que não possuem dentro do Irã.

Enquanto aguardam tal mudança no Irã, os Estados Unidos precisam continuar demonstrando ao regime iraniano que se este cruzar o limite estabelecido e produzir armas nucleares, isto só fará com que aumente o seu isolamento, empobrecerá a sua população e aumentará ainda mais a sua vulnerabilidade a uma mudança de regime motivada por forças internas.

Fonte: International Herald Tribune - Por: Alireza Nader e James Dobbins (Alireza Nader é analista político da RAND Corporation. James Dobbins, ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, é diretor do Centro Políticas de Defesa e Segurança Internacionais da RAND Corporation) - Via: UOL.