Os Estados Unidos estabeleceram como elementos fundamentais de sua estratégia de combate ao terror a neutralização e a captura de líderes terroristas, depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. Além da eliminação de Osama bin Laden, prioridade do presidente Barack Obama nessa luta desde sua posse, seu governo pegou dezenas de outros expoentes do grupo, como os líderes da Al-Qaeda Anwar al-Awaki, no Iêmen, e Abu Yahya al-Libi, no Paquistão.

Os sucessos mais recentes são resultado direto de um amplo programa de utilização de aviões não tripulados (drones). Segundo a New America Foundation, Obama realizou seis vezes mais ataques com esse tipo de aeronave, no Paquistão, do que seu predecessor, George W. Bush.

Mas será que essa "decapitação da liderança" funciona? Será que ela contribui para aumentar a segurança dos países que a utilizam? O debate a respeito dessa tática controvertida vem se intensificando no cenário nacional e os críticos dessas mortes pontuais são tão acirrados quanto seus defensores.

Segundo os críticos, essas mortes não contribuem significativamente para impedir ataques futuros. Alguns deles afirmam que poderão até mesmo aumentar o recrutamento de elementos terroristas, fortalecer sua determinação e provocar atos de retaliação. Outros insistem nos aspectos ético e moral dos danos colaterais e da eliminação dos líderes sem o devido processo, principalmente de cidadãos americanos como Awlaki. Recentemente, o governo Obama também foi atacado depois que detalhes do processo de aprovação dos ataques com drones foram vazados para a imprensa. Alguns argumentaram que é demasiado informal e carece de supervisão.

Por outro lado, os seus defensores afirmam que os tais ataques pontuais reduzem a capacidade operacional do grupo terrorista eliminando seus membros mais capacitados e obrigando-o a destinar tempo e a desviar recursos para proteger seus líderes. Eles alegam que a eliminação de líderes perturba profundamente uma organização e dissuade outros de assumir o poder. Embora não existam balas de prata nas táticas contra o terrorismo, a eliminação ou a captura dos líderes pode, em alguns casos, provocar o colapso de toda a organização.
Novas evidências sugerem que ela aumenta significativamente o número de baixas no grupo terrorista. Em outros termos, os grupos que perdem um líder acabam muito mais rapidamente do que aqueles cujos líderes continuam vivos e atuantes.

A evidência tem base em pesquisas contidas na dissertação que apresentei na Universidade Stanford e está descrita detalhadamente em um artigo publicado na edição da primavera de 2012 da revista International Security. Para testar a eficácia dessa estratégia ao longo de grandes períodos de tempo, usei uma análise da sobrevivência.

Trata-se de uma técnica que os médicos costumam utilizar para avaliar a eficiência de determinadas terapias comparando as taxas de sobrevivência de pacientes que recebem diferentes tratamentos contra a mesma doença.

Nesse caso, os "pacientes" foram 208 grupos terroristas que agiam de 1970 a 2008, e o meu "tratamento" foi a "decapitação da liderança". As conclusões da pesquisa foram consistentes e coerentes. A eliminação ou a captura dos líderes dessas organizações abreviou consideravelmente a existência dos grupos.

Isso é válido para grupos de diferentes tamanhos e ideologias, embora existam diferenças relativas entre os tipos de grupos. Por exemplo, há 80% menos probabilidades de os grupos religiosos se dissolverem em comparação a grupos nacionalistas com base somente na ideologia.

Entretanto, os grupos religiosos apresentaram quase cinco vezes mais probabilidades de entrar em colapso em relação aos grupos nacionalistas ao perderem suas lideranças por morte pontual ou captura.

Ciclo de vida. Além disso, quanto mais cedo em seu ciclo de vida um grupo terrorista perde seu líder, mais provável é que entre em colapso. A morte ou a captura de um líder no primeiro ano de existência de um grupo terrorista faz com que ele tenha oito vezes mais probabilidade de se dissolver em comparação com um grupo que mantém sua liderança.

Os efeitos prejudiciais para um grupo provocados pela perda do líder diminuem 50% nos primeiros dez anos de vida, e, depois de 20 anos, seu desaparecimento pode deixar de ter qualquer efeito sobre o grupo.

Portanto, os países que optam por empregar esse método como tática na luta contra o terrorismo deveriam destinar recursos para essa finalidade concentrando-se nela o mais cedo possível. Além disso, contrariamente à opinião corrente de que 90% de todos os grupos terroristas duram menos de um ano, eles duram muito mais. A média de vida dos grupos que entraram em colapso em certo momento no período de 1970 a 2008 foi de aproximadamente 14 anos.

Se os grupos terroristas duram mais do que se julgava, táticas como a eliminação ou captura do líder, que aumentam as taxas de mortalidade dos grupos, merecem atenção especial. Os políticos poderão determinar basicamente que, no curto prazo, os custos relativos a essa estratégia são superiores aos benefícios, mas no longo prazo as implicações das eliminações pontuais precisam fazer parte dos cálculos em que se baseia a tomada de decisões.

Afirmou-se que o terrorismo nunca acabará, mas os grupos terroristas acabam. Eliminar seus líderes faz com que eles desapareçam mais cedo - fato que os estrategistas deveriam levar em conta quando planejam uma estratégia de combate ao terrorismo. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Fonte: THE CHRISTIAN SCIENCE MONITOR - Via Estadão