No início dos anos 80, os Estados Unidos começaram a utilizar veículos
espaciais recuperáveis, os chamados ônibus espaciais, com grande
sucesso. Os soviéticos, inspirados por esse sucesso, começaram
imediatamente a projetar seu próprio ônibus espacial.
Os
ônibus espaciais possuem tanto características de veículos espaciais
como de aeronaves, e tornou-se necessário, então, produzir uma
aeronave-mãe para o ônibus espacial russo, para possibilitar seu
transporte por via aérea para as bases de lançamento, assim como para
testes de planeio das espaçonaves.
Em
seu programa espacial, os Estados Unidos adaptaram um Boeing 747 para
transportar os ônibus espaciais. A União Soviética já possuia uma
aeronave semelhante, o Myasishchev VM-T Atlant, capaz de transportar
grandes cargas externas, mas que era insuficiente para transportar o
grande ônibus espacial russo, muito semelhante mas maior que os seus
congêneres americanos.
Pensou-se em adaptar o cargueiro estratégico Antonov An-124 Ruslan para a
tarefa, mas mesmo esse enorme avião seria insuficiente para a tarefa. O
Escritório de Desenhos Antonov, então, propôs ampliar o design básico
do Ruslan, acrescentando anéis de extensão na fuselagem e aumentando a
envergadura das asas. Dois motores turbofan Ivchenko Progress D-18T
foram acrescentados ao 4 motores do mesmo tipo utilizados nos Ruslan.
O
resultado da ampliação foi a criação da maior aeronave da história.
Vários problemas tiveram que ser resolvidos. Um deles era a estabilidade
direcional e o controle em torno do eixo vertical, quando a aeronave
estivesse carregando o ônibus espacial no dorso. Isso foi resolvido com a
substituição da empenagem vertical simples por duas derivas menores
instaladas nas extremidades do estabilizados horizontal.
Outras modificações foram feitas para reduzir o peso da aeronave, como a
eliminação da porta traseira e da rampa de carga do Ruslan. O
desempenho conseguido foi considerado aceitável, uma vez que, ao
contrário do Ruslan, a aeronave não teria função nem de transporte aéreo
tático e nem requisitos para operação em pistas curtas.
A maior aeronave do mundo voou pela primeira vez em 21 de dezembro de
1988. Designada pelo fabricante como Antonov An-225 Mriya (em ucraniano:
Антонов Ан-225 Мрія), foi exposta orgulhosamente em exposição estática no Paris Air Show de 1989, em Le Bourget, e em voo no Farnborough Air Show em 1990. Mriya significa, em ucraniano, "sonho".
Na sua função original, como transportador do ônibus espacial russo, o
Buran, o Mriya executou 24 voos de teste. Entretando, por essa época, a
situação política e econômica da União Soviética, sob o governo de
Mikhail Gorbachev, estava em franca deterioração, e a própria União
Soviética estava chegando ao seu fim. Por fim, a União Soviética foi
declarada oficialmente extinta em 31 de dezembro de 1991. O ambicioso
programa dos ônibus espaciais russos não sobreviveu a esse fato, e o
Buran, que tinha executado uma única missão orbital, em 15 de novembro
de 1988, jamais voou novamente após o colapso soviético.
Com o fim do programa do ônibus espacial russo, o Mriya foi considerado
supérfluo e retirado de voo em 1994. Seus motores foram removidos para
equiparem os An-124 Ruslan em operação. Uma segunda aeronave An-225 teve
sua construção abandonada em Kiev na Ucrânia, e pelos cinco anos
seguintes as duas maiores aeronaves do mundo ficaram totalmente
esquecidas.
Entretanto,
no final dos anos 90, a Antonov estava operando uma empresa
especializada em transporte de cargas muito pesadas, a Antonov Airlines,
utilizando uma frota de 4 aeronaves An-124 Ruslan e 3 An-12, e logo a
empresa sentiu a necessidade de uma aeronave maior para transportar
cargas ainda mais pesadas, como locomotivas, trens e geradores de
hidrelétricas.
O Mriya, então, foi retirado da sua precoce aposentadoria, remotorizado e
colocado novamente em serviço. Recebeu seu Certificado de Tipo como
aeronave civil em 23 de maio de 2001 e transportou uma carga recorde
experimental de 253,8 toneladas em setembro do mesmo ano.
O
primeiro voo comercial do Antonov An-225 partiu de Stuttgart, Alemanha,
em 03 de janeiro de 2002, carregando 187,5 toneladas de suprimentos
militares para Thumrait, Oman, atendendo às necessidades das tropas
americanas estacionadas na região.
Desde então, o Mriya é usado para transportar cargas pesadas ou
volumosas demais para os demais aviões cargueiros em serviço no mundo,
tornando-se então praticamente indispensável. Já transportou geradores
de 150 toneladas e trens do metrô de Nova Delhi, entre outras cargas, e é
extremamente útil para transportar suprimentos para regiões atingidas
por catástrofes naturais e guerras no mundo inteiro.
Em
fevereiro de 2010, o Mriya transportou máquinas de construção civil
para atender as vítimas do terremoto no Haiti, e logo em seguida foi
fretado para transportar bombas de óleo para a Refinaria Paulínia
(REPLAN), da Petrobrás. Pousou no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo,
na manhã de hoje, 14 de fevereiro de 2010, sendo estacionado na posição
I-00. É a sua primeira operação em território brasileiro.
À
parte as sua enormes dimensões, o Mriya tem uma construção bastante
convencional, quase totalmente metálica. O nível de automação é muito
baixo mesmo considerando a época em que foi construído, necessitando de
nada menos que 6 tripulantes no cockpit em tripulação simples. Seu
painel de instrumentos possui apenas instrumentos convencionais e lembra
os painéis dos antigos DC-8 ou Boeing 707. Como é equipado com 32 rodas
no trem de pouso, 4 no nariz e 28 no trem principal, normalmente
carrega vários pneus estepes, fixados nas laterais da fuselagem interna.
Na operação de carga e descarga, os trens de pouso dianteiros podem ser
parcialmente retraídos, ficando a aeronave apoiada em patas hidráulicas
especialmente projetadas. Isso facilita bastante as operações,
especialmente quando embarcando e desembarcando peças muito longas.
Em 2006, sentiu-se a necessidade de um segundo An-225 para complementar
as operações da única aeronave atualmente em voo. Decidiu-se retomar a
construção da segunda célula abandonada na linha de produção em Kiev
(foto abaixo). Essa aeronave é bastante diferente do An-225 original, já
que não mais se destina a transportar naves espaciais. Possui uma
empenagem simples, e foi instalada a porta de carga traseira inexistente
no primeiro avião. A aeronave deveria ficar pronta em agosto de 2008,
mas por volta de setembro de 2009 ainda não tinha sido completada e os
trabalhos foram novamente abandonados, por enquanto.
O segundo An-225, inacabado, na Ucrânia |
O Antonov An-225 Mriya tem 84 metros de comprimento, 88,4 metros de
envergadura e 18,1 metros de altura. A carga máxima prevista é de 250
toneladas, e a área da asa alcança inacreditáveis 905 metros quadrados.
É equipado com seis motores ZMKB Progress D-18, turbofans de 51,6 mil
libras de empuxo cada um. Quando totalmente carregado, exige uma pista
de 3.5oo metros para a decolagem. Carregado, normalmente voa em niveis
mais baixos, em torno de 2o mil pés ou menos, mas pode chegar a 36 mil
pés dependendo da carga e do combustível transportados. Sua velocidade
máxima é de 850 Km/h, e a de cruzeiro é um pouco menor, de 800 Km/h.
Como a grande maioria dos aviões russos, possui os instrumentos
calibrados no sistema métrico decimal, com velocímetro em Km/h e
altímetros em metros. O peso máximo de decolagem (MTOW - Maximun Take-off Weight) é o maior do mundo, atualmente, alcançando 640 toneladas, quase o dobro do MTOW dos primeiros Boeing 747.
Nenhuma aeronave operacional ou em projeto no mundo possui a capacidade
do Mriya, e é provável que esse avião mantenha ainda, por muitos anos, o
título de maior e mais pesado avião do mundo.
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