Após o governo cubano ter admitido a posse de armas encontradas em um navio norte-coreano, o Panamá anunciou que vai pedir que as Nações Unidas inspecionem a embarcação. Segundo Havana, o material é obsoleto, iria ser reparado na Coreia do Norte e depois devolvido ao país. No entanto, o governo panamenho indica que não pretende liberar o transporte e pediu orientações à ONU de como lidar com a situação.

O ministro da Segurança do Panamá, José Raul Mulino, explicou que o país vai deixar o navio e os materiais nas mãos da ONU, acrescentando que as autoridades tinham descoberto mais dois recipientes com suspeita de armas, somando-se a outros dois já encontrados.

A descoberta das armas constitui uma violação das sanções impostas ao regime norte-coreano pela ONU, que proíbem o país de importar e exportar armas (só podendo comprar armas leves) após o último teste nuclear de 12 de fevereiro.

 
Em um comunicado divulgado na noite de terça-feira, o Ministério das Relações Exteriores de Cuba informou que o navio Chong Chon Gang transportava dois complexos de mísseis antiaéreos Volga e Pechora, nove foguetes em partes e peças, dois aviões Mig-21 e 15, motores desse tipo de avião, tudo fabricado em meados do século passado.

Sem dar datas ou locais específicos, Havana afirmou que o navio partiu de um porto de Cuba rumo à Coreia do Norte transportando 240 toneladas de armamentos, além de 10 mil toneladas de açúcar. De acordo com o governo panamenho, a tripulação do navio norte-coreano será processada por crimes contra a segurança interna do Panamá.

 
“Cuba está comprometida com o desarmamento pacífico, incluindo o desarmamento nuclear, e o respeito pelas leis internacionais”, diz parte de uma nota divulgada pela diplomacia cubana.

O navio foi interceptado no último sábado pelas autoridades panamenhas no porto caribenho de Colón por suspeitas de tráfico de drogas. Após mais de dois dias de inspeção, foram descobertas as armas escondidas entre os contêineres que continham açúcar mascavo.

O diretor do Serviço Nacional Aeronaval (Senan), Belsio Gonzalez, disse que a inspeção do navio continua em busca de mais armas não declaradas. O presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, que participou na terça-feira da inspeção do navio, afirmou que quer deixar claro para o mundo que não se pode transportar material bélico não declarado pelo Canal do Panamá.

Em sua conta no Twitter, Martinelli disse que não importa que o material encontrado seja obsoleto, pois ainda é crime carregar armamentos no território panamenho sem uma notificação feita com antecedência.

Segundo o presidente panamenho, o capitão do navio ficou desesperado ao ter a carga encontrada e tentou se matar cortando a própria garganta, além de ter sofrido um infarto - mas permanece detido com a tripulação de cerca de 35 pessoas.

As alegações de Cuba e da Coreia do Norte esbarram na resolução da ONU adotada em 2009 sobre o embargo. Segundo o documento, as restrições se aplicam a “todas as armas e materiais relacionados, assim como transações financeiras ou treinamento técnico e assessoramento relacionado a provisão, manufatura e manutenção ou uso de tais armas, exceto armas pequenas e leves”. A investigação deverá determinar se Cuba estava realmente enviando armas para reparo com posterior retorno ao país, ou se estava fornecendo equipamentos proibidos à Coreia do Norte.

Fonte: O Globo