Para possuir uma esquadra digna da relevância geopolítica do Brasil, a Marinha precisa de destinações orçamentárias anuais entre R$ 3,2 bilhões a R$ 3,4 bilhões, disse o comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), nesta quinta-feira (25). Mas o atual cenário de restrições, advertiu, tem causado grandes dificuldades, uma vez que para 2017 a verba disponível será de R$ 2,34 bilhões, sem contar os contingenciamentos.
— Precisamos de pelo menos mais R$ 800 milhões por ano pra que o Brasil tenha uma esquadra de acordo com suas necessidades. Isso precisa ser acertado, ou a nossa esquadra de superfície vai desaparecer em pouco tempo —ressaltou o comandante, revelando ainda que a Marinha é a Força que mais tem sido afetada pela perda de verbas.
Em virtude dessa condição, Bacellar afirmou que a Marinha vive hoje uma situação "extremamente delicada e preocupante", a despeito do quadro técnico altamente capacitado e de continuar cumprindo plenamente sua missão constitucional. O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) afirmou que a comissão tem a obrigação de suprir as necessidades brasileiras de defesa marítima.
— Basta ver a idade de nossas fragatas e corvetas, é uma deficiência gravíssima. Se a situação hoje é relativamente tranquila, num futuro médio nós não sabemos o que pode acontecer — alertou o senador, reiterando que o presidente da CRE, Fernando Collor (PTC-AL), trabalhará com os demais membros na identificação de fontes de recursos adicionais.

Submarino nuclear

Uma das maiores prioridades da Marinha continua sendo o programa de submarinos nucleares. O senador José Agripino (DEM-RN) chamou a atenção para a importância científica do projeto.
Desenvolvido em parceria com a França, o primeiro submarino teve o projeto de sua fase básica finalizado em janeiro, e, segundo Bacellar, a construção de fato deve começar em 2020.
— Um submarino nuclear já é um grande avanço para nós, ainda que não lancemos mísseis balísticos. E talvez nem seja o momento pra desenvolvermos isso, exigiria uma necessidade estratégica — afirmou o militar.
Em resposta a Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Bacellar disse que o acordo com a França tem sido vantajoso também no que se refere à transferência de tecnologia, com centenas de engenheiros e técnicos brasileiros atuando naquele país.
— Mas no reator nuclear ninguém nos ajuda. Aliás, tem país que, se puder, vai querer nos atrapalhar. É um grande desafio de nosso programa, onde continuamos avançando — informou.
O militar também chamou a atenção para a relevância que possui o programa nuclear da Marinha na retenção de milhares de jovens cientistas que "provavelmente já estariam trabalhando fora do país, se não fosse ele".
No que se refere à atuação da Marinha como um todo, ele ressaltou a importância que tem o resguardo de nossas águas territoriais para a internet (dependente de cabos submarinos) e para as trocas comerciais, pois cerca de 10% do que se transporta por mar em todo o mundo passa por águas brasileiras.