Norte-americanos planejam escudo antimísseis no Leste europeu

Norte-americanos planejam escudo antimísseis no Leste europeu

Polônia e EUA assinam acordo sobre escudo antimíssil

Da Reuters Via G1

Por Gabriela Baczynska e David Alexander

VARSÓVIA (Reuters) - Os Estados Unidos e a Polônia assinaram nesta quarta-feira um acordo para instalar componentes de um escudo norte-americano de defesa antimíssil em território polonês, uma manobra que ampliou as tensões entre a Rússia e o Ocidente depois da intervenção russa na Geórgia.

Os 10 interceptadores de foguete a serem colocados na Polônia, junto com um complexo de radares instalado na República Tcheca, formarão a parte européia do sistema global que os EUA dizem estar montando para derrubar mísseis balísticos lançados eventualmente por Estados "inamistosos" ou grupos militantes tais como a Al Qaeda.

"Esse é um acordo que criará uma instalação de defesa antimíssil aqui na Polônia capaz de nos ajudar a enfrentar os mísseis de longo alcance lançados por países como o Irã e a Coréia do Norte", disse a repórteres a secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice, que assinou o acordo com o ministro polonês das Relações Exteriores, Radoslaw Sikorski.

Apesar das garantias dadas pelos EUA, a Rússia considera o escudo antimíssil uma ameaça a sua própria segurança e alguns políticos e generais russos disseram que a Polônia deveria preparar-se para a eventualidade de ser alvo de um ataque preventivo contra as instalações montadas ali.

O governo norte-americano considerou a ameaça um discurso vazio. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) disse que isso era inaceitável.

Os interceptadores serão instalados na base de Redzikowo, antes pertencente ao Pacto de Varsóvia e localizada no norte da Polônia, a cerca de 1.360 quilômetros de Moscou e a 300 quilômetros do encrave russo de Kaliningrad, na costa do mar Báltico.

A Rússia disse que os EUA e a Polônia apressaram a conclusão do acordo como forma de responder à ação militar dela na Geórgia.

Os dois países negaram isso. Mas, segundo o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, os eventos ocorridos em solo georgiano mostravam que as preocupações da Polônia na área de segurança precisavam ser levadas a sério pelo governo norte-americano.

A Polônia, maior ex-satélite soviético dentro da Europa central, e países do Báltico condenaram a investida russa contra a Geórgia. Comentaristas de política traçaram paralelos com as intervenções soviéticas na Hungria e na Tchecoslováquia em 1956 e 1958.

Depois da contra-ofensiva russa contra os georgianos, pesquisas mostraram uma mudança de opinião entre os poloneses, que agora concordam com a instalação de parte do escudo antimíssil em seu país. Também houve uma elevação no nível de apreensão referente à Rússia.

Em sua cúpula de abril, realizada em Bucareste, a Otan sancionou o plano norte-americano de defesa antimíssil para a Europa, e isso apesar de alguns aliados europeus duvidarem da eficiência dele e mostrarem-se preocupados com a possibilidade de ele provocar uma nova corrida armamentista.

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Míssil interceptor norte-americano durante teste

Míssil interceptor norte-americano durante teste


Rússia diz que terá que reagir a acordo EUA-Polônia

Fonte: BBC Via: O Globo

A Rússia disse que "será obrigada a reagir, e não apenas com medidas diplomáticas" ao acordo de defesa assinado nesta quarta-feira entre os Estados Unidos e a Polônia.

A declaração, por meio de um comunicado do Ministério de Relações Exteriores russo, foi feita horas depois do anúncio da assinatura do acordo que prevê a instalação de parte de um escudo de defesa antimísseis americano em território polonês.

O acordo foi assinado em Varsóvia pela secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e pelo ministro de Relações Exteriores da Polônia, Radek Sikorski, encerrando 18 meses de negociações. Agora, deve ser ratificado pelo Parlamento polonês.

Segundo o governo russo, o acordo gera uma nova corrida armamentista na Europa.

A Rússia já havia afirmado que, ao aceitar a instalação do sistema antimísseis em seu território, a Polônia se expõe ao risco de um ataque nuclear. Rice disse que essa afirmação era "bizarra".

"Defensivo"

O acordo inclui as exigências feitas pela Polônia com relação a sua segurança como compensação por abrigar o escudo americano. Pelo plano, a Polônia aceita a instalação de dez mísseis interceptadores em uma antiga base militar perto da costa polonesa do Mar Báltico.

Em troca, os americanos se comprometem a ajudar o país a melhorar suas forças armadas, além de remanejar para a Polônia mísseis tipo Patriot e militares americanos, com o objetivo de reforçar as defesas aéreas polonesas.

Segundo o governo americano, o sistema vai proteger os Estados Unidos e grande parte da Europa contra ataques de mísseis de países considerados "hostis", como o Irã.

Durante a cerimônia de assinatura, Rice voltou a afirmar que o sistema é defensivo.

O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, disse que as negociações foram "duras, mas amistosas" e que o acordo vai tornar tanto a Polônia e quanto os Estados Unidos mais seguros.

Equilíbrio

O Ministério de Relações Exteriores russo disse que o escudo de defesa antimísseis americano no Leste Europeu tem o objetivo de "enfraquecer" Moscou e é parte dos "esforços americanos para alterar o equilíbrio estratégico de poder em seu favor".

No mês passado, os Estados Unidos assinaram um acordo com a República Checa para instalar uma base de radares naquele país.

Washington quer que o sistema esteja em operação até 2012.

Em seu comunicado, o ministério russo disse que a justificativa de uma ameaça de mísseis do Irã é "imaginária".

No entanto, o ministério afirmou que a Rússia ainda está disposta a continuar a dialogar sobre o sistema de defesa antimísseis americano com todas as partes envolvidas.

Conflito com a Geórgia

Enquanto os Estados Unidos afirmam que o escudo irá proteger os países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de possíveis ataques de longo alcance, Varsóvia vê a ameaça como sendo mais próxima de seu território e por isso exigiu um reforço na defesa do país em troca de abrigar o escudo.

Os russos já haviam ameaçado apontar seus mísseis para a Europa caso os Estados Unidos instalassem partes de seu sistema de defesa antimísseis perto da fronteira com a Rússia.

Segundo a correspondente da BBC Kim Ghattas, que acompanhou a viagem de Rice à Polônia, o momento da assinatura do acordo - durante o conflito com a Geórgia - deixou os russos ainda mais furiosos.

Outro correspondente da BBC em Varsóvia, Adam Easton, afirma que tanto o momento escolhido para a assinatura do acordo quanto as exigências sobre a segurança e defesa do país feitas pela Polônia não contribuíram em nada para apaziguar Moscou.