EUA devem seguir rivais e modernizar arsenal nuclear, diz Gates

DAVID MORGAN - REUTERS - Via Estadão

WASHINGTON - O secretário norte-americano de Defesa, Robert Gates, alertou na terça-feira sobre risco de declínio do arsenal nuclear dos EUA, enquanto rivais como Rússia e China modernizam os seus.

Gates disse que, quase duas décadas depois do fim da Guerra Fria, o programa nuclear dos EUA sofre um êxodo de projetistas e técnicos qualificados, o arsenal não tem sido modernizado, e não há teste de armas desde 1992.

"Deixem-me dizer muito claramente que nossas armas são seguras e confiáveis. O problema está no prognóstico de longo prazo -- que eu caracterizaria como sombrio", disse o secretário ao Fundo Carnegie para a Paz Internacional, em Washington.

Gates fez o alerta para pedir ao Congresso que financie os esforços do Pentágono e do Departamento de Energia para criar novas armas, mais seguras, mas sem abandonar a moratória de testes nucleares declarada há 16 anos pelos EUA.

Ele lembrou que a Rússia usa cada vez mais a força nuclear no desenvolvimento de mísseis terrestres e marítimos, e que a China também ampliou sua capacidade nuclear.

"Atualmente, os EUA são a única potência nuclear declarada que não está nem modernizando seu arsenal nuclear nem tem capacidade para produzir uma nova ogiva", disse Gates.

"Para ser franco, absolutamente não há como podermos manter uma dissuasão confiável e reduzir o número de armas no nosso arsenal sem recorrer a testes do nosso arsenal ou buscar um programa de modernização."

Desde o fim da Guerra Fria, os EUA descontinuaram o uso de vários sistemas bélicos, como os mísseis balísticos Peacekeeper, e pretendem reduzir em dois terços o seu arsenal nuclear, chegando a 2010 com entre 1.700 e 2.100 ogivas, segundo prevê um acordo com a Rússia.

A confiabilidade do arsenal nuclear dos EUA se tornou fonte de preocupação especial para Gates depois da revelação de que um avião transportou por engano seis bombas atômicas sobre os EUA no ano passado e que a Força Aérea enviou inadvertidamente detonadores de armas nucleares para Taiwan.

Por causa disso, Gates demitiu neste ano o comandante da Força Aérea e o seu principal supervisor civil.

O secretário disse que "o poderio das armas nucleares e seu impacto estratégico é um gênio que não pode ser colocado de volta na garrafa -- ao menos por um longuíssimo tempo" e que por isso os EUA precisam manter seu poder dissuasório nuclear.

"Não há como ignorar os esforços de Estados-párias, como coréia do Norte e Irã, para desenvolver e mobilizar armas nucleares, ou os programas russo e chinês de modernização estratégica", acrescentou.

No modelo proposto pelo Pentágono e pelo Departamento de Energia, seriam desenvolvidos projetos que prescindiriam dos testes nucleares subterrâneos, mas sem criar novas categorias de armas.

"Precisamos dar passos para transformar um envelhecido complexo de armas nucleares da Guerra Fria, grande e caro demais, em um empreendimento menor, menos custoso, mas moderno, que possa atender às necessidades de segurança nuclear da nossa nação no futuro."