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Israel humilha as Nações Unidas

Tanques lançam obuses e bombas de fósforo branco em complexo da entidade, destroem prédio e queimam toneladas de donativos. Foguetes palestinos ferem seis civis e aviação mata líder do Hamas

Rodrigo Craveiro - Da equipe do Correio Brasiliense - Via NOTIMP FAB

“Não importa a explicação por parte de Israel, isso é algo imperdoável”, afirmou ao Correio, por telefone, de Jerusalém, Johan Eriksson, porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos no Oriente Médio (UNRWA, pela sigla em inglês). Mais uma vez, as Forças de Defesa de Israel (IDF) miraram a ONU, dispararam e só depois pediram desculpas. O funcionário não entende como a artilharia israelense ignorou os apelos para que o complexo da entidade na Cidade de Gaza fosse preservado.

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“Nós tentamos saber do Exército o que estava acontecendo quando os ataques começaram. O número de blindados na região aumentou e eles atacaram a apenas 30m do nosso quartel-general, o centro nervoso das operações humanitárias na Faixa de Gaza”, relatou. “Houve um momento em que nosso pessoal se aproximou dos soldados e lembrou-lhes que eles tinham as coordenadas GPS (mapeamento por satéliete) dos prédios.”

A medida de nada adiantou e todas as construções do complexo, onde estavam abrigados 700 palestinos, foram atingidas. “Um dos obuses acertou um centro de treinamento dentro do complexo e cinco supostas bombas de fósforo branco aterrissaram no depósito onde armazenávamos as doações”, disse Eriksson, sem esconder a irritação. Três funcionários da UNRWA ficaram feridos — um deles usava um colete e ainda assim sofreu queimaduras. Como se já não bastasse a catástrofe humanitária que se abate sobre Gaza, dezenas de toneladas de alimentos e suprimentos foram queimadas no incêndio.

No depósito, estavam estocadas inclusive as seis toneladas de remédios doados pelo Brasil. “Eles (israelenses) ainda bombardearam caminhões da ONU que eram usados para levar ajuda”, acrescentou o porta-voz. O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, apressou-se em telefonar para o secretário-geral Ban Ki-moon e pediu desculpas. “Ele me disse que foi um grave erro. (…) E me assegurou que uma atenção extra será dada às instalações da ONU”, contou o sul-coreano, sem esconder a indignação e o constrangimento, ao lado da chanceler israelense, Tzipi Livni.

Assim como ocorreu no ataque a duas escolas da UNRWA, em 6 de janeiro, quando 32 pessoas morreram, o premiê Ehud Olmert garantiu que as tropas revidaram disparos de militantes. Em nota, o Itamaraty afirmou que “o governo brasileiro recebeu com choque a notícia do ataque”.

Pela internet, o engenheiro palestino Maher Ashour, de 42 anos, relatou como os blindados avançaram por 1km no bairro de Tal Al-Hawa. “Eles mataram, destruíram, fizeram todos os tipos de coisas ruins. Bombardearam a Torre Al-Shorooq, sede da TV Abu Dhabi, atacaram o quartel-general da UNRWA em Gaza, impediram as ambulâncias de se deslocarem e atiraram contra o hospital mantido pelo Crescente Vermelho”, denunciou.

Por meio de uma câmera da agência de notícias Ramattan, o Correio acompanhou o pesado bombardeio que teve início por volta das 7h20 (3h20 em Brasília). Durante o amanhecer, duas grandes colunas de fumaça negra podiam ser vistas na área central, enquanto rajadas de metralhadoras e disparos de morteiros eram ouvidos. A página da Ramattan também exibiu imagens de militantes explodindo um tanque de guerra israelense com um RPG (lança-foguetes portátil).

Às 12h16 (16h16 em Brasília), uma forte explosão sacudiu a Cidade de Gaza. A 500m da casa de Ashour, uma bomba lançada por um caça F-16 matou Saeed Siyam, ministro do Interior da Autoridade Palestina, fundador do braço executivo do Hamas e um dos três principais líderes da facção.

A operação teve o auxílio do Shin Bet — a agência de segurança nacional de Israel —, que informou sobre a presença de Said na casa do irmão Iyad. Salah Abu Shreich, líder de segurança interna do Hamas e responsável pelos contatos entre os braços militares e a ala política, e um dos filhos de Iyad morreram no bombardeio. O grupo islâmico prometeu vingança. “A resposta será expressada em ações, não em palavras”, ameaçou o Hamas, em nota.

Ataque

Enquanto as tropas avançavam e o conflito ganhava contornos de guerra urbana, militantes palestinos disparavam mais de 30 foguetes contra o sul de Israel. Um dos projéteis, do tipo Grad, caiu perto de um carro em Beersheva. Orel, de 7 anos, foi gravemente ferido com destroços fincados no crânio. Outras cinco pessoas ficaram feridas. Até as 23h de ontem, 1.095 palestinos haviam morrido — incluindo 355 crianças e 100 mulheres — e 5.027 sofreram ferimentos. Do lado israelense, 10 soldados e três civis morreram.

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Nada mais é sagrado

Silvio Queiroz
Da equipe do Correio

Gaza tem confirmado até aqui, como se fosse exemplo de almanaque, as principais características pelas quais os especialistas definem o que se convencionou chamar de “conflito assimétrico”. Inclusive a tendência, aferida nas últimas décadas em seguidos estudos patrocinados pelas Nações Unidas, de que é a população civil, e não as forças combatentes, quem sofre a maior parte das baixas humanas.

As partes em confronto, invariavelmente, apontarão uma à outra como responsável pelo que denunciarão como “atrocidades”, “limpeza étnica”, “genocídio”. Os demais farão melhor se aceitarem o fato de que, nesse tipo de guerra que se tornou a regra ao longo do século 20, o holocausto dos sem-armas é decorrência inevitável das assimetrias: um exército regular enfrentando uma força que atua sem normas nem uniformes; um Estado internacionalmente reconhecido, signatário de tratados e acordos, contra um movimento político e/ou religioso, constrangido apenas por alianças pontuais; tecnologia de ponta contra armas rudimentares e imprecisas.

No Oriente Médio, na África ou mesmo aqui ao lado, na Colômbia, os civis e as instituições que tentam protegê-los, começando pelas Nações Unidas, tornaram-se parte do campo de batalha. Seja em nome de combater o terrorismo, de lutar pela fé ou afirmar o poder do próprio clã ou etnia, os senhores da guerra do novo século já não respeitam santuários nem reconhecem bandeiras brancas. Seu “regulamento” se resume a um só artigo: quem não está “comigo” está “com eles”. Aqueles que não cerrem fileiras com algum dos lados serão proclamados “alvo militar legítimo”. Sua morte, no máximo, será lamentada como um “dano colateral”.

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França pede para Israel não usar fósforo branco em ataques feitos em Gaza

Explosivo pode causar assassinato em massa, dizem especialistas; exército israelense nega que esteja utilizando o aparato
Da Redação, com EFE - Editora Abril

Bombas explodem no céu de Gaza, perto da fronteira com Israel
Bombas explodem no céu de Gaza, perto da fronteira com Israel

A França pediu a Israel que não use fósforo branco em seus ataques contra Gaza, já que são armas tóxicas para a população, indicou hoje o porta-voz do Ministério de Exteriores, Eric Chevallier.

O Governo francês se soma assim ao pedido realizado às autoridades israelenses pela ONG Human Rights Watch (HRW), que denunciou a utilização desse tipo de armamento por parte do Exército israelense para criar cortinas de fumaça.

A ONG assinalou em comunicado que a utilização deste produto é permitida pelo direito humanitário internacional, mas que "pode causar graves queimaduras" na população atingida, um risco ainda maior no caso de Gaza, "pela forte densidade da população".

"O uso de fósforo branco em áreas muito povoadas de Gaza viola as leis do direito internacional humanitário de que se deve adotar todas as precauções possíveis para evitar a morte e o ferimento de civis", assegurou a HRW.

Chevallier assegurou que a França reforça o pedido da HRW de que as autoridades israelenses deixem de utilizar este elemento, "em função de sua toxicidade na densidade de população de Gaza".

Diversos tratados internacionais de guerra questionam a utilização do explosivo. A Convenção de Armas Químicas, de 1993, proíbe o uso desse tipo de aparato e define como substância química tóxica aquela que “por sua ação sobre os processos vitais, possa causar morte, incapacidade temporal ou lesões permanentes a seres humanos ou animais”. O Protocolo de Genebra, de 1925, condena “o emprego de gases asfixiantes, tóxicos ou similares”. A Cruz Vermelha Internacional já pediu o veto específico desse item.

Quando entra em contato com a pele humana, o fósforo branco pode se transformar em ácido e causar queimaduras, explicou o professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo Koiti Araki. A gravidade depende do tempo de exposição. Caso seja colocado em um ambiente fechado, pode acabar com o oxigênio do local. Além disso, o produto não pode ser apagado como fogo. "Tem de ser raspado. Enquanto isso não acontece, vai consumindo a pele”, explica o curador do Museu Militar Conde de Linhares, Adler de Castro, que abriga armas do Exército brasileiro.

Militares israelenses negam a adoção de fósforo branco, mas não informam do que são compostos os explosivos. “Israel usa munições que são permitidas pelas leis internacionais”, afirmou o porta-voz das Forças de Defesa Israelenses, Ishai David, em entrevista ao jornal americano “The Times”.

Histórico
Esse não seria o primeiro caso de utilização desse tipo de armamento por Israel. Em 2006, pela primeira vez, o país reconheceu o uso. “As forças de defesa israelenses usaram obuses com fósforo durante a guerra contra o Hizbollah”, disse, na época, o ministro encarregado das relações entre o governo e o Legislativo, Yaacov Ederi.

Os Estados Unidos também já assumiram ter trabalhado com o produto. Em 2005, o Departamento de Defesa admitiu que usou munição incendiária de fósforo branco na ofensiva lançada no ano anterior contra Faluja, um reduto insurgente no Iraque. Mas negou que civis tivessem sido vítimas.