O que aconteceria se viajássemos à velocidade da luz?

O que aconteceria se viajássemos à velocidade da luz? Pergunta mal formulada! Nós nunca poderíamos atingir a velocidade da luz, que é de c = 300 mil km/s (equivalente a 7 voltas e meia em torno do equador da Terra em um segundo). Tal impossibilidade foi formulada por Albert Einstein em 1905, com sua teoria da relatividade restrita.

É curioso que quando Einstein tinha 16 anos (por volta do início de 1896), ele começou a imaginar o que aconteceria se alguém viajasse à mesma velocidade que a luz, e ficasse observando as ondas de luz. Elas pareceriam paradas, o que já lhe sugeriu que havia algo errado com esta situação, permitida pela física clássica aceita na época. Este e outros problemas teóricos e experimentais o levaram à nova teoria em 1905, que estava apenas parcialmente desenvolvida por outros físicos (Lorentz e Poincaré).

O que acontece, segundo a teoria da relatividade, é que se um corpo com massa (o que exclui a luz, que não tem massa de repouso) começa a ser acelerado, adquirindo uma velocidade cada vez maior, a sua própria massa começa a aumentar, de forma que vai se tornando cada vez mais difícil acelerar o corpo. Um próton, partícula que compõe o núcleo dos átomos, pode ser acelerado, no acelerador de partículas do CERN (na Suiça), até atingir uma velocidade igual a 99,99% da velocidade da luz c. Neste caso, sua massa aumenta 100 vezes! Se mais energia for dada a este próton, ele aumentará sua velocidade, mas nunca conseguirá atingir c.



Outra maneira de tentar suplantar este limite é imaginar que estamos num foguete que voa a 30% da velocidade da luz, em relação à Terra. Dentro deste foguete, podemos imaginar que consigamos fazer um próton voar a 90% da velocidade da luz. Qual será a velocidade do próton para alguém que observa da Terra? Ora, se somarmos a velocidade do próton 0,9 c com a do foguete 0,3 c, obteríamos 1,2 c, que seria maior do que a velocidade da luz! Porém, a teoria da relatividade mostra que a composição de velocidades não se dá por mera soma, mas sim de acordo com uma fórmula mais complicada, que resultaria numa velocidade do próton, em relação à Terra, de 0,94 c.

Em suma, não dá para atingirmos a velocidade da luz. Não vale a pena ficar especulando sobre “o que aconteceria se atingíssimos a velocidade da luz...” Ficaria tudo escuro? Tudo viraria energia? Voltaríamos para o passado? Balela! Não dá! É uma situação impossível, segundo o que nos diz a teoria da relatividade restrita.

Uma consequência disso é que não é possível transmitir informação a uma velocidade maior do que c. Se você está na lua Titã, de Saturno, e quer saber quem ganhou a Copa do Mundo na Terra, demorará em torno de 70 minutos, após o apito final, para saber quem ganhou. Nem a física quântica pode mudar isso (ver texto 26, “Astrobigobaldo quer Informação Instantânea” - clique aqui).

No entanto, em 1994, o físico alemão Günter Nimtz anunciou ter conseguido transmitir a 40ª sinfonia de Mozart em um guia de micro-ondas a uma velocidade 4,7 vezes a da luz! Como isso seria possível?

Antes de mais nada, lembremos que micro-ondas são “radiação eletromagnética”, assim como a luz. Existe uma ampla gama de radiação eletromagnética, dependendo do comprimento da onda associada. Nosso olho é sensível apenas a uma estreita faixa desta radiação, entre 400 e 700 nanômetros (um bilionésimo de metro). Ondas de comprimento maior são a radiação infravermelha, que vai até 1 milímetro. As micro-ondas têm tamanho entre 1 mm e 10 cm, e ondas mais longas são as ondas de rádio. Ondas de comprimento menor do que a luz visível são o ultravioleta, depois o raio X, e finalmente os raios gama. Todos se propagam à mesma velocidade c no vácuo (nos meios materiais, eles perdem um pouco de velocidade).

Mas voltemos às micro-ondas de Nimtz, que transmitem informação com velocidade 4,7 c. Como isso seria possível? Na verdade, o que acontece é que o sinal é carregado por um “pacote” de onda que tem uma certa extensão espacial (bem maior do que o comprimento da onda). Na figura abaixo, os pacotes de onda são representados por tartarugas. O grosso da informação é carregado pelo centro do pacote de onda, ou seja, pela corcova da tartaruga. Do lado esquerdo, vemos duas tartarugas, “1” e “2”, iniciando a corrida ao mesmo tempo. O pacote de onda “2”, porém, atinge uma barreira: parte é refletida, e uma parte menor é transmitida por um efeito de “tunelamento”. Notamos que, ao final, a cabeça de ambas as tartarugas cruzam a linha de chegada ao mesmo tempo, seguindo a velocidade da luz. Porém, a corcova da tartaruga “2”, que ficou menor, chega antes da corcova maior da tartaruga “1”. É só nesse sentido que Nimtz conseguiu enviar informação a uma velocidade “superluminosa” (maior do que a da luz). A frente de um pacote de onda luminoso não pode exceder c, mas o seu pico pode!

Visto isso, levantemos um último paradoxo. Acredita-se que o Universo surgiu de um processo semelhante a uma explosão (o big-bang), e que sua idade é em torno de 13,7 bilhões de anos. O diâmetro estimado para o universo visível é de 93 bilhões de anos-luz, ou seja, uma distância na qual a luz demoraria 93 bilhões de anos para percorrer. Mas como é que os objetos do Universo conseguiriam atingir um raio de 46,5 bilhões de anos-luz, a partir de uma explosão inicial, em apenas 13,7 bilhões de anos? Não dá!

A solução é fornecida pela moderna teoria da gravitação, desenvolvida a partir da obra-prima de Einstein, a teoria da relatividade geral de 1916. A tese é que no início do Universo houve uma grande “inflação” do espaço, ou seja, o tamanho do Universo aumentou a uma taxa muito maior do que a velocidade da luz. Em outras palavras, o espaço pode se esticar a uma velocidade maior de que a da luz, mas os processos físicos que ocorrem dentro deste espaço não podem exceder a velocidade limite da luz.

Por: Osvaldo Pessoa Jr./UOL-Vya Estelar - Gazeta Web