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Forças Armadas chinesas querem expandir seu poder naval

Segundo analistas e autoridades militares, as Forças Armadas da China buscam projetar seu poder naval para além da costa chinesa, dos portos petrolíferos do Oriente Médio às linhas de navegação do Pacífico, onde a Marinha dos Estados Unidos há muito reina como a força dominante. A China chama a nova estratégia de "defesa marítima de longa distância", e a velocidade com que está construindo recursos de longo alcance surpreendeu autoridades militares estrangeiras.

A estratégia representa uma ruptura em relação à doutrina mais tradicional e limitada de preparação para guerra contra a ilha autogovernada de Taiwan ou de defender a costa chinesa. Agora, almirantes chineses dizem querer que navios de guerra escoltem embarcações comerciais cruciais para a economia do país, em percursos longos como o do Golfo Pérsico até o Estreito de Malaca, no sudeste asiático, e para defender os interesses chineses nos mares da China Meridional e Oriental, ricos em recursos.

No final de março, dois navios de guerra chineses atracaram em Abu Dhabi. Esta foi a primeira vez que a Marinha chinesa moderna fez uma visita a um porto do Oriente Médio.

O plano geral reflete a crescente autoconfiança chinesa e o aumento de sua disposição em afirmar seus interesses no exterior. As ambições navais chinesas são sentidas também em quedas de braço recentes com os Estados Unidos: em março, autoridades chinesas disseram privadamente a altos oficiais americanos que a China não toleraria intervenções estrangeiras em suas questões territoriais no Mar da China Meridional, segundo um oficial americano envolvido nas políticas para a China.

A expansão naval não tornará a China uma importante rival perante a hegemonia naval americana no futuro próximo, e há poucos indícios de que a China tenha intenções agressivas em relação aos Estados Unidos ou outros países. Mas a China, atualmente a maior exportadora do mundo e uma compradora gigante de petróleo e outros recursos naturais, tampouco está satisfeita em confiar a segurança das rotas de navegação aos americanos, e sua definição de seus interesses principais se expandiu junto com seu poder econômico.

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No final de março, o almirante Robert F. Willard, líder do Comando do Pacífico dos EUA, disse em depoimento ao Congresso que o desenvolvimento militar chinês recente era "excepcional". A China testou mísseis de longo alcance que poderiam ser usados contra porta-aviões, disse ele. Depois de anos de negações, autoridades chinesas confirmaram que pretendem pôr em ação um grupo de porta-aviões nos próximos anos.

A China também está desenvolvendo uma sofisticada frota de submarinos que poderia tentar impedir que embarcações navais estrangeiras entrassem em suas águas estratégicas se um conflito irrompesse na região, disseram Willard e analistas militares. "É particularmente preocupante que alguns elementos da modernização militar da China pareçam projetados para contestar nossa liberdade de ação na região", disse o almirante.

Na Baía de Yalong, na costa sudeste da Ilha de Hainan, no Mar da China Meridional, há resorts de praia cinco estrelas, a oeste de uma nova base submarina. A base permite que submarinos alcancem águas profundas em apenas 20 minutos e vagueiem pelo Mar da China Meridional, que tem algumas das linhas de navegação com tráfego mais intenso no mundo, além de áreas ricas em petróleo e gás natural, foco de disputas territoriais entre a China e outras nações asiáticas.

Isso causou preocupações não somente entre comandantes americanos, mas também entre autoridades em países do Sudeste Asiático, que discretamente vêm comprando submarinos, mísseis e outras armas. "Autoridades regionais ficaram surpresas", disse Huang Ji, pesquisador das Forças Armadas chinesas da Universidade de Cingapura. "Estávamos enganados. Achávamos que as Forças Armadas chinesas estavam 20 anos atrás das nossas, mas subitamente percebemos que a China está nos alcançando".

A China também está pressionando os Estados Unidos sobre suas pretensões na região. Em março, autoridades chinesas disseram a dois altos oficiais do governo de Barack Obama em visita ao país, Jeffrey A. Bader e James B. Steinberg, que a China não toleraria nenhuma interferência no Mar da China Meridional, agora parte dos "interesses fundamentais" de soberania da China, segundo um oficial americano envolvido na elaboração de políticas para a China. Foi a primeira vez que os chineses citaram o Mar da China Meridional como um interesse fundamental, ao lado de Taiwan e do Tibete, disse o oficial.

Outro elemento da nova estratégia da Marinha chinesa é estender seu alcance operacional para além do Mar da China Meridional e Filipinas, até o que é conhecido como a "segunda cadeia de ilhas" - rochas e atois no Pacífico, disse o oficial. Essa zona se sobrepõe significativamente à área de supremacia da Marinha dos EUA.

O Japão também está apreensivo. O ministro da Defesa, Toshimi Kitazawa, disse que dois submarinos chineses e oito destróieres foram avistados no dia 10 de abril avançando entre duas ilhas japonesas em direção ao Pacífico, a primeira vez que uma frota de navios chineses foi vista tão próxima ao Japão. Quando dois destroieres japoneses começaram a seguir os navios chineses, um helicóptero chinês voou a cerca de 100 m de um dos destroieres, segundo o Ministério da Defesa japonês.

Desde dezembro de 2008, a China mantém três navios no Golfo de Áden para contribuir com as patrulhas internacionais antipirataria, o primeiro posicionamento estratégico da Marinha chinesa além do Pacífico. A missão possibilita que a China aperfeiçoe os recursos de longo alcance de sua Marinha, dizem analistas.

Um relatório do Pentágono de 2009 estimou as forças navais chinesas em 260 embarcações, incluindo 75 "combatentes principais" - grandes navios de guerra - e mais de 60 submarinos. O relatório apontou a construção de um porta-aviões, e disse que a China "continua a demonstrar interesse" em adquirir caças da Rússia. A Marinha americana tem 286 navios de guerra e 3,7 mil aeronaves navais, apesar de os navios da Marinha americana serem considerados de qualidade superior aos dos chineses.

O Pentágono não classifica a China como uma força inimiga. Mas em parte como reação ao crescimento chinês, os Estados Unidos transferiram recentemente submarinos do Atlântico para o Pacífico, e a maioria de seus submarinos de ataque com capacidade nuclear está agora no Pacífico, segundo Bernard D. Cole, um antigo oficial naval americano e professor do National War College, em Washington. Os Estados Unidos também começaram a usar de três a quatro submarinos em posicionamentos estratégicos fora de Guam, revivendo uma prática que havia terminado com a Guerra Fria, disse Cole.

Agora, as embarcações americanas frequentemente investigam a base submarina da Ilha de Hainan, o que leva a atritos ocasionais com navios chineses. Uma missão de inspeção de um navio da Marinha americana, o Impecável, resultou no que autoridades do Pentágono chamaram de assédio por embarcações de pesca chinesas; o governo chinês disse que tinha direito de bloquear a vigilância naquelas águas porque era uma "zona econômica exclusiva" da China.

Os Estados Unidos e a China têm definições contrárias de tais zonas, definidas por uma convenção da ONU como águas distantes até 200 milhas náuticas (equivalente a 370,4 km) da costa. Os Estados Unidos dizem que as leis internacionais permitem que o país costeiro apenas detenha certos direitos comerciais nas zonas, enquanto a China afirma que o país pode controlar praticamente qualquer atividade dentro de seus limites.

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Líderes militares nos Estados Unidos afirmam que a Marinha chinesa é somente uma força de autodefesa. Mas a definição de autodefesa se expandiu para incluir amplos interesses econômicos e marítimos, conforme defenderam dois almirantes chineses em março.

"Com as mudanças de nossa estratégia naval agora, passamos da defesa costeira à defesa marítima de longa distância", disse o Contra-Almirante Zhang Huachen, sub-comandante da Frota do Mar Oriental, em uma entrevista à agência de notícias estatal Xinhua. "Com a expansão dos interesses econômicos do país, a Marinha quer proteger melhor as rotas de transporte e a segurança de nossas principais rotas de navegação", acrescentou ele. "Para tal, a Marinha chinesa precisa crescer com embarcações maiores e mais recursos".

A Marinha recebe mais de um terço do orçamento militar chinês, "refletindo a prioridade que Pequim deu à Marinha como um instrumento de segurança nacional", disse Cole. O orçamento militar oficial da China para 2010 é de US$ 78 bilhões, mas o Pentágono diz que a China gasta muito mais que esse valor. No ano passado, o Pentágono estimou o total dos gastos militares chineses entre US$ 105 e 150 bilhões, ainda muito menos do que os Estados Unidos gastam com defesa. Para efeitos de comparação, o governo Obama propôs que o orçamento base de operações do Pentágono para o próximo ano fosse de US$ 548,9 bilhões.

O crescimento mais impressionante da Marinha chinesa foi em sua frota de submarinos, disse Huang, o pesquisador de Cingapura. Ela construiu recentemente ao menos dois submarinos de tipo Jin, os primeiros regularmente ativos na frota com capacidade para lançamento de mísseis, e mais dois estão em construção. Dois submarinos de ataque de tipo Shang com capacidade nuclear entraram em atividade recentemente.

Países da região responderam com suas próprias aquisições, disse Carlyle A. Tahyer, professor da Australian Defense Force Academy. Em dezembro, o Vietnã assinou um acordo armamentício com a Rússia que incluía dois submarinos de tipo Kilo, que garantiriam ao Vietnã a maior frota de submarinos do sudeste asiático. No ano passado, a Malásia recebeu seu primeiro submarino, um dos dois encomendados da França, e Cingapura iniciou as operações de um de seus dois submarinos tipo Archer, comprados da Suécia.

No último outono do hemisfério norte, em um discurso em Washington, Lee Kuan Yew, ex-governante de Cingapura, expressou inquietações generalizadas ao apontar a ascensão naval da China, e encorajou os Estados Unidos a manter sua presença regional. "Os interesses fundamentais dos EUA requerem que o país continue sendo a potência principal no Pacífico", disse ele. "Abrir mão dessa posição significaria diminuir o papel dos EUA ao redor do mundo".

Fonte: Terra