Voto contra sanções ao Irã expõe falência do Conselho de Segurança sob controle dos EUA

A decisão do Conselho de Segurança da ONU, que impôs novas sanções contra o Irã por 11 votos a 2, foi encarada pelo governo brasileiro como uma "vitória de Pirro" dos EUA e expôs o fracasso do organismo internacional como um fórum imune aos interesses hegemônicos. A vitória da pressão americana já era esperada por Brasil e Turquia, os únicos a votarem a favor do acordo com o país persa, que fora incentivado antes da assinatura em Teerã pelo próprio presidente Barack Obama. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acusou: "O Brasil pode ser independente por não dever ao FMI”. Ele lamentou os prejuízos ao promissor comércio bilateral com Teerã.

A quarta rodada de sanções contra o programa nuclear iraniano aprovada quarta-feira pelo Conselho de Segurança da ONU não afetará, na prática, Brasil e Turquia, os únicos países dos 15 membros do órgão a votarem contra a resolução, afirmaram diplomatas e cientistas políticos brasileiros entrevistados pelo Jornal do Brasil. Pelo contrário, a rejeição das potências nucleares ao acordo mediado mês passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o premier turco, Recepp Erdogan, em Teerã, revelou a incoerência dos membros do Conselho com poder de veto, além de evidenciar, segundo o professor de história contemporânea da UFF Bernardo Kocher, “o poder da pressão americana diversificada na vida política de países mais fracos”.

– Essa resolução é mais um ato político do que técnico, pois não há explicações convincentes para o Conselho rejeitar o acordo de Teerã – argumentou Kocher. – Enquanto os EUA jogaram uma cartada decisiva e mostraram que estão mais interessados em punir do que remediar, o Brasil passou por cima da superficialidade, mostrando que é importante conduzir de forma coletiva as decisões internacionais.

A possibilidade de o resultado da votação provocar o isolamento político do Brasil foi afastada pelo advogado e doutor em direito internacional pela USP, Eduardo Felipe Matias.

– A culpa não é do Brasil, da Turquia ou dos EUA, e sim do próprio Irã, que não consegue demonstrar que seu programa tem fins pacíficos – resumiu.

Já o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, questionou a “pressa” das potências em aprovar a resolução proposta pelos EUA. Segundo Amorim, a rapidez em votar as sanções se deve ao fato de a opinião pública internacional ter começado a ver de modo favorável o acordo de Teerã.

– Depois que o acordo apareceu, houve uma pressa imensa em aprovar a resolução – disse. – Por que essa pressa? Porque a opinião internacional, cada vez mais, via os méritos da Declaração de Teerã.

Amorim lembrou a carta que o presidente americano Barack Obama enviou ao Brasil duas semanas antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã apoiando a mediação brasileira, e afirmou que, ao contrário de muitos países membros do Conselho, o Brasil votou contra as sanções “porque não deve ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e pode seguir suas convicções”.

– O Brasil não está defendendo o Irã, mas defendendo a paz, concebida pelos Estados Unidos e pela Agência Internacional de Energia Atômica [AIEA] – disse. – Felizmente o Brasil não deve ao FMI e votou de acordo com suas convicções. Não me sinto isolado.

Por sua vez, o presidente Lula classificou as novas sanções como um “equívoco”, e uma “vitória de Pirro” – expressão que explica uma vitória obtida a um alto custo, com prejuízos irreparáveis – que enfraquece o Conselho.

– Em vez de chamarem o Irã para negociar, eles resolveram, apenas por birra, manter a sanção. É um episódio que enfraquece o Conselho. Nós estamos tentando reformá-lo há mais de 17 anos.

Por: Evelyn Soares -Jornal do Brasil - 10/06/2010 - Via Terror do Nordeste