A fabricante francesa de automóveis Renault admitiu ontem que seus "ativos estratégicos" estão ameaçados por um caso de espionagem industrial, que o próprio governo não hesitou em comparar a uma "guerra econômica".

"Para a Renault, são fatos muito graves que envolvem pessoas em posição particularmente estratégica na empresa", informou Christian Husson, diretor jurídico e de ética da multinacional. Ele justificou a demissão, na segunda feira, de três altos diretores suspeitos de terem divulgado no exterior informações consideradas sensíveis alegando a necessidade de "proteger sem demora os ativos estratégicos, intelectuais e tecnológicos da nossa empresa".

"A expressão "guerra econômica", às vezes exagerada, é apropriada neste caso", afirmou, por sua vez, o ministro francês da indústria, Eric Besson, em entrevista à rádio RTL. "Parece que (o caso) está relacionado ao automóvel elétrico, mas não quero revelar mais dados", afirmou.

A Renault - da qual o Estado francês possui 15% - e sua sócia japonesa Nissan já investiram 4 bilhões no desenvolvimento do carro elétrico. Após a revelação do caso, Besson informou que havia reivindicado o reforço das obrigações em matéria de sigilo industrial para as empresas que se beneficiam de recursos públicos.

De acordo com a Renault, a investigação interna lançada em agosto de 2010 permitiu a identificação de um conjunto de elementos convergentes que atestavam que as ações dos diretores suspensos de suas funções "eram contrárias à ética (...), colocando em risco consciente e deliberadamente os ativos da empresa".

Investigação. A montadora optou pela demissão após a investigação lançada pelo comitê de ética do grupo, presidido por Husson. "O processo segue seu curso, mas, no momento, a Renault não deseja fazer comentários adicionais", disse ele, acrescentando que a Renault prefere "respeitar e preservar a identidade dos diretores envolvidos".

A Renault prevê dar início à comercialização de dois modelos elétricos em meados deste ano: o Fluence, voltado para as famílias, e o utilitário Kangoo Express.

O segmento elétrico é a vedete da companhia e contará com outros dois modelos: o pequeno Twizy (foto) e o Zoe, que devem ser comercializados no segundo semestre deste ano e em meados de 2012.

Segundo fontes do setor, os três diretores eram responsáveis por programas relativos a veículos elétricos da Renault.

Um deles integra o comitê dirigente do grupo, que tem 30 diretores e é chefiado pelo presidente da Renault, o brasileiro Carlos Ghosn, informaram essas fontes.

Fonte: Estadão