Operation Unified Protector (Odyssey Dawn): Itália rompe com Otan e pede fim das hostilidades na Líbia

Franco Frattini, o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, reclamou nesta quarta-feira a “suspensão imediata das hostilidades” na Líbia por razões humanitárias. Este apelo pode ser visto como um primeiro sinal de fractura dentro da coligação militar.

Uma suspensão das acções armadas é fundamental para permitir uma ajuda imediata”, precisou o chefe da diplomacia italiana, sublinhando que “a prioridade é um cessar-fogo” na Líbia para que possam ser instalados corredores humanitários para ajudar a população.

Durante uma intervenção perante duas comissões da Câmara dos Deputados, Franco Frattini explicou, citado pela AFP, que a suspensão das hostilidades “permitirá sobretudo o acesso a localidades isoladas nas quais a situação humanitária é dramática, como a periferia de Misrata e de Trípoli”.

Numa alusão ao ataque da NATO que no domingo provocou a morte de nove civis, Frattini pediu “informações detalhadas” e apelou a “instruções claras e precisas”, depois dos erros que classificou como “dramáticos”. “Essa não é claramente a missão da NATO”, frisou.

O ataque de domingo foi o maior erro cometido pelas forças da coligação militar desde o início dos ataques aéreos contra o regime de Muammar Khadafi. Mas não foi o primeiro numa missão que teve início a 31 de Março.

Já na segunda-feira, em Luxemburgo, o ministro italiano declarara que a NATO estava a “jogar com a sua credibilidade” ao não conseguir evitar vítimas civis.

“Não podemos correr o risco de matar civis”, afirmou Frattini à margem de uma reunião dos chefes da diplomacia da União Europeia.


Caças Tornado da Força Aérea Italiana já estão participando dos ataques a Líbia coordenados pela OTAN. (Foto: ANSA/US-AERONAUTICA MILITARE)

Na terça-feira, também Amr Moussa, o secretário-geral da Liga Árabe, defendeu um cessar-fogo, sublinhando que as “operações militares, qualquer que seja a sua duração, não resolverão o problema líbio”. E acrescentou, citado pela Euronews: “a solução continua a ser política e deve começar por um cessar-fogo por um período transitório muito curto que vise o estabelecimento de uma nova Líbia”.

A intervenção da NATO na Líbia, que já conta com quase três meses, tinha inicialmente a duração de 90 dias mas foi recentemente prolongada por mais três meses. “Estamos determinados a continuar a operação para proteger o povo da Líbia”, explicou, no início deste mês, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen.

Entretanto, Pequim reconheceu, nesta quarta-feira, o Conselho Nacional de Transição (CNT), órgão político dos rebeldes líbios, como um “interlocutor importante”.

O anúncio foi feito pelo ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Yang Jiechi. “Desde que o Conselho Nacional de Transição foi estabelecido, a sua representatividade aumenta de dia para dia, e ele tornouse uma força política importante na Líbia, tal como um interlocutor importante para a China”, declarou o chefe da diplomacia chinesa, citado pela AFP.

Por seu lado, o dirigente rebelde, Mahmoud Jibril, em visita à China, assegurou, num comunicado publicado no site do ministério chinês, que o CNT “vai tomar as medidas necessárias para proteger a segurança dos bens das empresas chinesas e das pessoas chinesas nas zonas que controla” Na terça-feira, dia em que Jibril chegou a Pequim, o Governo chinês frisou que a situação no terreno não podia durar, que o cessar-fogo era uma “prioridade absoluta” e ofereceu-se para colocar as partes a negociar. Pequim começou por adoptar uma política de não -interferência e neutralidade em relação à Líbia, tendo-se abstido na votação da resolução do Conselho de Segurança da ONU que permitiu a intervenção militar da NATO.

Desde essa altura, tem sido uma voz crítica quanto aos ataques levado a cabo pela Aliança Atlântica. Mas, recentemente, tem feito esforços no sentido de persuadir os dois lados do conflito líbio a a chegar a um entendimento.

São cada vez mais os países a reconhecerem o CNT como representante legítimo do povo líbio.

Na semana passada foi a Alemanha a reconhecer o Conselho, tornando-se o 13º país a manifestar o seu apoio.

Fonte: O País

Postar um comentário

2 Comentários

Probus disse…
1 DE JULHO DE 2011

A ofensiva colonial da Otan na Líbia

Menosprezar a inteligência alheia tem limites. Mesmo a opinião pública europeia, largamente intoxicada pelo ódio ao imigrante árabe ou negro, já não leva muito a sério o pretexto humanitário invocado pela Otan para justificar a ofensiva colonial contra a Líbia, que já dura três meses e meio.

A própria imprensa colonialista adotou um tom mais descritivo. Assim, o Figaro, o mais importante jornal da direita francesa, informou secamente em 23 de maio que na tarde do dia 17 o navio de guerra Tonnerre deixara o porto de Toulon rumo ao teatro de operações na Líbia. A bordo, doze helicópteros de combate com uma delicada missão militar. Os chefes da Otan tinham constatado que os bombardeios não estavam bastando para derrubar o governo líbio. Intensificá-los em demasia, após o morticínio que fizeram no bairro onde mora Khadafi, por ocasião da frustrada tentativa de assassiná-lo por via aérea em sua casa, implicaria num custo “humanitário” ainda mais pesado. Era preciso chegar mais perto dos objetivos, ocupar terreno. Mas mercenários evitam riscos. O ofício deles é matar, não ser mortos. Os helicópteros de Sarkozy destinam-se a ajuda-los a golpear mais de perto as forças patrióticas, sem entrar num perigoso corpo a corpo.

Os que se lembram do massacre balístico da Sérvia pela Otan sabem que, com apoio de uma quinta coluna operante, é possível quebrar a resistência de um povo pelo terrorismo aéreo. Mas na Líbia, o êxito está tardando. A quinta coluna, aliás os “rebeldes” não progrediram muito a despeito da escalada de bombardeios, que afundaram oito navios líbios em 19 de maio, nos portos de Trípoli, Syrta e Homs e, em 24 de maio, mataram 19 líbios e deixaram pelo menos 130 feridos num ataque noturno a Trípoli.

Só os cínicos e os tolos continuam a associar-se à campanha imperialista de diabolização de Khadafi. “-Ele massacrou trinta mil líbios”, bradou um estulto de “extrema-esquerda” num debate sobre a Líbia ao qual compareci. Perguntei-lhe de onde tinha tirado esse número. Não respondeu porque sua estultice não ia a ponto de cobrir-se de ridículo admitindo que ouvira isso na Rede Globo ou “fonte” similar. Mas enquanto os “baba-ovo” papagaiavam o que liam e ouviam na mediática do capital, os três safados da cúpula da Otan (Camarão, Sarkozy e Berlusconi, este aliás menos aguerrido que os dois parceiros), empenhados na tentativa de recuperar, sob novos rótulos jurídicos, seus velhos impérios coloniais, continuavam intensificando os bombardeios ditos humanitários: em junho Trípoli foi de novo pesada, reiterada e mortiferamente atacada.
Probus disse…
A mediática do capital é uma máquina versátil. Esgotado o pretexto humanitário, ela concentrou-se na diabolização de Khadafi, que seguramente tem muitos defeitos, mas por não ser covarde, como são os calhordas de terno e gravata que mandam bombardear seu país, resistiu à agressão colonial. Porém, mesmo valente, se ele fosse um tirano detestado por todos, como repetem “ad nauseam” os estafetas da Otan e os “extremesquerdelhos” pró-imperialistas d’aquém e d’além mar, não haveria valentia que bastasse. A explicação de três meses de resistência há de ser outra. O centro Globalresearch do Canadá, que não se fantasia de revolucionário, mas tem suas próprias fontes de informação, observou que a Líbia desfruta do maior IDH da África, que os sistemas públicos de saúde e de ensino são gratuitos e de qualidade, que os estudantes com bom desempenho recebem bolsas para aprimorar sua formação no exterior. Notou ainda que o governo oferece à população crédito bancário sem juros e assumiu a construção do maior sistema de irrigação do mundo, inaugurado em 2007.

Sendo ridiculamente indecentes os pretextos humanitários dos pistoleiros da Otan, não há como não concluir que estamos diante de mais uma operação de reconquista, pelo chamado Ocidente, de sua antiga periferia colonial. A Líbia oferece, em especial, dois grandes atrativos para os tubarões do Norte. O Banco Central Líbio mantém estocadas em seus cofres quase cento e cinquenta toneladas de ouro e as jazidas petrolíferas do país, de alta qualidade, estão estimadas em pelo menos 45 bilhões de barris.

Amparando esses estupendos estímulos materiais, os estafetas togados que compõem o Tribunal de Haya, habituados a abanar a cauda para os chefes da Otan, expediram mandado de prisão contra Khadafi. Mas todos os que não se deixaram contaminar pelo “pensamento único” pró-imperialista sabem que o maior crime cometido pelo comandante líbio consistiu em defender as riquezas naturais da Líbia e em ameaçar, com suas reservas de ouro, a “coalixam” monetária do dólar e do euro.

http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=4114&id_coluna=24