O líder do Conselho Nacional de Transição (CNT), órgão político da rebelião na Líbia, afirmou nesta segunda-feira que a era de Muammar Kaddafi "acabou" e disse esperar que ele seja capturado "vivo", enquanto prosseguem os combates em Trípoli.

Durante uma entrevista coletiva em Benghazi, capital dos rebeldes no leste da Líbia, Mustafah Abdel Jalil (foto abaixo) disse ignorar onde se encontra Kaddafi e explicou que alguns setores da capital ainda não estão sob controle dos insurgentes, incluindo o que abriga a residência do coronel líbio.

No Cairo, um representante do CNT afirmou que o país não autorizará a instalação de bases militares da Otan após a saída do coronel Kaddafi, segundo a agência de notícias egípcia Mena.

"A Líbia é uma nação árabe e islâmica antes da Otan e seguirá sendo depois da Otan", declarou o enviado especial do CNT na Liga Árabe, Abdel Moneim al Huweini,

Segundo ele, "os líbios se rebelaram contra as ocidentais em 1970 e não existirão bases que não sejam líbias".

Huweini completou que os rebeldes são agradecidos à Otan, que efetuou os bombardeios que ajudaram os insurgentes pouco experientes e permitiu minimizar as perdas de vidas humanas.

Trípoli amanheceu nesta segunda-feira com sentimentos contrários, entre a euforia e o medo. Os rebeldes estão em uma disputa de gato e rato com os soldados leais a Muammar Kaddafi, que continuam a resistir com atiradores escondidos atrás de veículos.

São poucos os pontos de controle dos rebeldes na capital, sinal de que os insurgentes ainda não têm o domínio total da cidade.

Após a importante incursão à Trípoli, os rebeldes esperam a chegada de mais mil guerrilheiros da revolução vindos de regiões já libertadas para reforçarem os contingentes.

A rebelião adotou duas estratégias para a tomada da cidade: avanço o mais rápido possível através das grandes avenidas, mas expostos aos atiradores escondidos nos telhados e prédios, e lentamente pelos labirintos formados pelas ruas.

As paredes de concreto de Trípoli encheram-se de pichações anti-Kaddafi e pró-revolução que exigiam liberdade e a saída do ditador líbio, no poder há 42 anos e considerado pela maioria como um louco.

A população está cansada depois de passar grande parte da noite acordada, mas festeja com comida, bebida e cigarros os acontecimentos na capital e o fim do jejum do mês sagrado do ramadã.

No bairro de Gorji, no sudoeste da capital, os habitantes receberam os rebeldes com entusiasmo.

"Os rebeldes das montanhas e de Zawiya já estão na Praça dos Mártires - novo nome dado pela rebelião à Praça Verde, onde se reuniam os partidários de Gaddafi - e nas ruas próximas", declarou à AFP Saad Zais, quando voltava das comemorações no centro da cidade.

"Mas existem atiradores africanos escondidos chegando do Chade, na Cidade Velha, e de vez em quando podemos ouvir disparos de morteiros, mas não sabemos de onde são lançados", acrescenta.

Abdelrahman ben Jama, como a maioria dos moradores de Gorji, só quer uma coisa: participar dos combates.

"Não tenho armas, mas quero proteger este bairro porque ele é meu. Não temos armas suficientes, mas queremos todas que são possíveis para podermos nos libertar do ditador. Aqui, cada um é um guerrilheiro", afirma Bem Jama.

"As mulheres também estão nos apoiando, estão muito contentes com o que está acontecendo", completa.

Os moradores estão nervosos e tensos, porque não sabem o que acontecerá nos próximos dias e semanas, mas estão felizes de ver o que consideram o final inevitável de Muammar Kaddafi.

"Gorji foi o primeiro bairro que se manifestou contra Kaddafi. Cem pessoas foram presas desde o início da revolução e ainda não temos nenhuma notícia deles", lamenta Abubekr Wanis.

"Sabemos exatamente quem está conosco e quem com está com Kaddafi, são poucos, e nós os aconselhamos a ficarem em suas casa", revelou Wanis.

Fonte: BOL/UOL