O rei Abdullah II da Jordânia pediu nesta segunda-feira que o presidente sírio, Bashar al-Assad, "deixe o cargo", o primeiro líder árabe a adotar essa postura, já que o regime do país se mantém desafiante, apesar de estar cada vez mais isolado internacionalmente.

"Acredito que, se estivesse em sua posição, deixaria o cargo (...) e asseguraria que qualquer um que viesse depois de mim tivesse a capacidade de mudar o status quo que estamos vendo",disse o rei Abdullah.

As declarações foram ao ar na BBC, depois que o Ministro das Relações Exteriores, Walid Muallem, disse que Damasco não iria se mover, apesar da "perigosa" ação da Liga Árabe de suspender o país como membro da organização.

"A decisão da Liga Árabe de suspender a Síria representa um perigoso passo", Muallem disse em uma coletiva de imprensa em Damasco,classificando a ação como "vergonhosa".

"Hoje há uma crise na Síria, que paga o preço de suas duras posições. A Síria não irá se mexer e emergirá mais forte... e os atentados contra a Síria fracassarão", disse Muallem.

Segundo ele, havia evidências de interferência internacional bem antes de a Síria ser suspensa, bem como um aumento nas operações de "grupos armados" no país.

Muallem considerou que a violência impede a retirada de tropas das ruas, como a Liga Árabe tinha solicitado, atacando a França e os Estados Unidos pela decisão prematura.

Ele também acusou Washington de "encorajar atos de violência" ao incentivar opositores a não se render em resposta a uma oferta do regime de que eles entregassem suas armas em troca de anistia. "Nós estamos perplexos e surpresos por esta interferência estrangeira."

Assad tem sofrido uma pressão global crescente por causa de uma repressão sangrenta de oito meses em resposta a protestos democráticos sem precedentes contra seu regime. As Nações Unidas dizem que mais de 3500 pessoas foram assassinadas desde meados de março.

A Liga Árabe votou a suspensão da Síria no sábado, desencadeando ataques de grupos pró-regime furiosos às embaixadas da França, do Qatar, da Arábia Saudita e da Turquia.

Muallem se desculpou: "É importante que isso não se repita. A proteção das embaixadas é parte de nossas responsabilidades."

O Qatar e a Arábia Saudita estavam entre os 18 países no bloco com 22 membros árabes que votaram a suspensão da Síria. Líbano, Síria e Iêmen votaram contra a ação, enquanto o Iraque se absteve.

Muallem disse que a Síria não estava preocupada com a probabilidade de intervenção militar estrangeira, devido à oposição da China e da Rússia e o fato de a Europa ainda estar pagando pela guerra aérea da Otan na Líbia.

"A Síria não é a Líbia. O cenário líbio não será repetido; o que está acontecendo na Síria é diferente do que aconteceu na Líbia e o povo sírio não deve se preocupar", disse ele.

"Eu acredito que a posição da Rússia e da China, pela qual nós agradecemos, não irá mudar", disse Muallem, agradecendo também a Índia, África do Sul, Brasil e Líbano por suas posições no Conselho de Segurança.

Muallem disse, no entanto, que acreditava que a crise na Síria está praticamente terminada. "Eu acredito que a crise está começando a acabar", disse ele, enquanto pedia diálogo com a oposição.

"O programa de reforma é claro", acrescentou, referindo-se a uma série de medidas que o regime anunciou desde que os protestos eclodiram, incluindo promessas de uma nova constituição para um sistema político multipartidário. Governos ocidentais têm criticado repetidamente o regime sírio pelo fracasso em implementar as reformas e por causar mais derramamento de sangue após os anúncios, levando muitas pessoas a dizer que o tempo de Assad acabou.

O Observatório Sírio de Direitos Humanos disse que o banho de sangue continuou nesta segunda, com forças de segurança matando duas pessoas no principal foco de tensão da cidade de Homs e uma em Daraa, o berço da revolta no sul.

O grupo com sede no Reino Unido disse que os corpos de cinco soldados, incluindo o de um general também foram encontrados na província de Idlib no noroeste, na fronteira com a Turquia.

Em Bruxelas, a União Europeia acentuou a pressão sobre a Síria nesta segunda, emitindo novas sanções para o regime de Assad e incentivando a ONU a agir para proteger os civis depois de oito meses de repressão.

Logo depois das negociações, os ministros da UE concordaram em acrescentar à lista negra mais 18 sírios ligados às repressões mortais e congelar empréstimos oferecidos para Damasco pelo Banco de Investimento Europeu.

"É importante que a UE considere medidas adicionais", disse o Secretário do Exterior britânico William Hague. "Nós temos tomado medidas muito duras, eu acredito que podemos acrescentar mais essas".

A Organização de Cooperação Islâmica alertou hoje sobre a possibilidade de uma resposta internacional mais ampla para a crise síria se o regime não cumprir com os pedidos de reforma e fim do derramamento de sangue.

A Liga Árabe disse que seu chefe, Nabil al-Arabi, se reuinirá com grupos de oposição no Cairo nesta segunda. O bloco pan-árabe também está se preparando para enviar 500 observadores à Síria para monitorar a situação.

Ministros árabes das Relações Exteriores se reuniram no Cairo no dia 2 de novembro, quando esboçaram um plano em que a Síria faria suas tropas recuarem dos centros de protesto e libertaria manifestantes presos.

O encontro dava à Síria 15 dias para cumprir o plano. No sábado o bloco árabe concluiu que Damasco falhou em manter a sua parte no acordo.

Pela votação, a suspensão da Síria começa a ter efeito a partir de quarta-feira, quando os ministros do exterior devem se encontrar novamente, em Marrocos, para analisar em que nível Damasco cumpriu o acordo de 2 de novembro, disse uma autoridade.

Fonte: AFP/BOL