As famílias das vítimas de um avião da Libyan Airlines que colidiu com uma aeronave de combate há 19 anos exigiram que o novo governo líbio reabrisse a investigação sobre o acidente que matou 157 pessoas em 22 de dezembro de 1992.

O governo de Muammar Kadafi disse na época que a colisão em pleno ar, que ocorreu quando um caça MiG líbio bateu no voo LN 1103, que se aproximava de Trípoli, foi um acidente. Os pilotos do avião de combate conseguiram ser ejetados da aeronave, mas nenhum dos passageiros e tripulantes do avião comercial sobreviveu.

Os familiares disseram que começaram a suspeitar do acidente quando as forças de segurança intervieram imediatamente e enterraram os corpos em uma cova coletiva em um cemitério perto do local do acidente.

Felicity Prazak, a viúva de Victor Charles Prazak, um trabalhador da área de petróleo que estava a bordo do voo que vinha de Benghazi rumo a Trípoli, acredita que a colisão não foi acidente.

"Foi como um encobrimento da verdade, eles os enterraram muito rapidamente, não queriam que soubéssemos o que aconteceu ao voo", disse Felicity na semana passada, perto da cova coletiva em Sedi al-Saieh, ao sul de Trípoli, junto com o filho, Theo, de 23 anos, e a filha Tallena, de 22. "Não tive permissão de ir ao funeral. Eu lutei durante 19 anos para descobrir (o que aconteceu)", disse ela.

A família veio de Londres para lembrar o aniversário de 19 anos do acidente, mas não estavam sozinhos.

Perto de 200 líbios rodeavam a cova coletiva que foi cercada com telas de metal e coberta com uma laje de cimento. Os nomes das vítimas foram gravados em dois painéis de mármore de um lado da cova.

Algumas pessoas seguravam fotos das vítimas, olhando de forma ausente para o túmulo, encharcadas pela chuva, enquanto choravam. "Eu já tinha visitado o túmulo, mas foi por conta própria, há dez anos, com meus filhos", disse Felicity. "Agora estou aqui com a unidade do povo líbio e estamos lutando para expor o que Kadafi fez."

Os 42 anos de ditadura de Kadafi chegaram ao fim depois de uma guerra civil de nove meses apoiada por ataques aéreos da Otan. Os líbios agora podem falar abertamente sobre as ações repressoras de Kadafi. Foi a primeira vez que as famílias das vítimas do voo tiveram a permissão de se reunir no local e conduzir uma cerimônia.

A maior parte das vítimas era líbia, junto com 21 egípcios e 19 pessoas de nacionalidades não reveladas.

Fathia al-Hamali, uma líbia que perdeu a mãe, a irmão, o cunhado e uma sobrinha no acidente, foi de Benghazi até o local, com a filha, para a cerimônia. "Queremos abrir esse arquivo", disse ela. "Qual foi a razão? Por que eles mataram pessoas inocentes?"

Fonte: Terra