Pergunte aos lojistas de Miami quem são os turistas mais generosos na hora da compra e eles responderão, sem titubear: os brasileiros. Eles estão na quinta posição entre os turistas que mais gastam nos Estados Unidos. Segundo o Departamento de Comércio americano, em 2010 eles desembolsaram US$ 5,9 bilhões no país. Não por acaso, a potência mundial, que está às voltas com uma crise sem precedentes, busca ampliar o número de vistos para os visitantes do Brasil. A embaixada e os consulados dos Estados Unidos promoverão 12 mutirões até o mês de abril, para acelerar a liberação dos documentos de entrada. Em 2011, foi liberado um milhão de vistos, 57% a mais que em 2010.


Segundo o jornal 'Le Monde' Os aviões queridinhos de Dilma são os americanos da Boeing.

Assim como ocorre para as pessoas físicas, a crise econômica tornou os Estados Unidos fonte de oportunidades para as empresas brasileiras. Diante da pressão pelo corte de gastos no orçamento, o Congresso americano não renovou nem o subsídio aos produtores locais do etanol de milho nem a sobretaxa sobre o etanol importado no fim de 2011. A notícia trouxe alento aos produtores nacionais, que planejam multiplicar por oito as exportações para os Estados Unidos na próxima década. Em outra frente, a Embraer conseguiu fechar um contrato para vender 20 aviões Super Tucanos para a Força Aérea americana. A concorrência, no valor de US$ 355,1 milhões, vencida em consórcio com a americana Sierra Nevada Corporation, é pequena em comparação aos US$ 14,6 bilhões de que a Força Aérea dos Estados Unidos dispõe para aquisição de aviões em 2012.

Mas coloca a Embraer numa vitrine poderosa. “Mais importante que o valor do contrato é exportar para o mercado mais sofisticado do mundo”, disse à DINHEIRO Luiz Carlos Aguiar, CEO da Embraer Defesa e Segurança. A Força Aérea procurava um avião capaz de dar apoio a tropas em terra e, ao mesmo tempo, ser uma opção barata aos caças F-16E, hoje empregados na guerra contra o Talebã, no Afeganistão. Enquanto o avião brasileiro tem custo de US$ 500 por hora de voo, o americano chega a US$ 6,5 mil. A entrada no maior mercado bélico do mundo, porém, não virá sem percalços. Na quinta-feira 5, o governo do presidente Barack Obama suspendeu, temporariamente,a licitação porque a Hawker Beechcraft, que também estava na disputa com seu T-6 Texan, decidiu questionar o resultado na Justiça.

O contratempo ressuscita um fantasma da Embraer em concorrências na terra do Tio Sam. Em 2004, chegou a vencer uma disputa do Exército para fornecer a versão de vigilância de seu EMB-145, mas não seguiu adiante porque a compra foi cancelada. A situação agora é diferente, avalia Jairo Cândido, diretor da indústria de defesa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Um embargo numa concorrência como essa é comum”, diz Cândido, que acredita na confirmação do resultado no curto prazo. A Embraer, em todo caso, se esmerou para atender o cliente. Assim como o governo brasileiro, o americano também quer parte dos equipamentos produzidos no país.

Exigiu ao menos 50% de conteúdo nacional, e a Embraer ofereceu 80%, com a montagem final numa unidade que a companhia brasileira está construindo em Jacksonville, na Flórida. Ou seja, a roupagem é verde-amarela, mas o recheio é made in USA. Enquanto isso, o fim da sobretaxa do etanol chega num momento difícil para a indústria sucroalcooleira, já que a produção atual mal está conseguindo abastecer o mercado interno. Mas abre oportunidades para o futuro e, especialmente, para que o etanol se consolide como um combustível global, como os derivados de petróleo. Nos próximos dez anos, o setor prevê investir R$ 150 bilhões para a instalação de 120 novas usinas.
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“Até 2020, vamos ampliar as exportações de etanol do atual 1,8 bilhão de litros para 15 bilhões de litros”, afirma Eduardo Leão, diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar. O destino da maior parte das vendas será os Estados Unidos. “Com a abertura do mercado americano podemos acessar a Europa e a Ásia”, diz Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria. As oportunidades de negócios entre os dois países devem crescer com a viagem que a presidenta Dilma Rousseff fará a Washington, marcada para março, quando participará de um fórum com líderes empresariais, além de encontrar-se com Obama. Em pauta, o fim da bitributação de empresas dos dois países, além de cooperação na área de energia, inovação e maior abertura para as empresas aéreas.
“Os temas relevantes já estão na agenda”, diz José Fernandes, diretor-executivo da CNI. “Faltam os mecanismos que gerem resultados práticos.” Os empresários criticam a perda, em 2009, do superávit que o Brasil tinha no comércio bilateral. Nos últimos três anos, o déficit acumulado chega a US$ 20,5 bilhões. O governo teria negligenciado o mercado americano com a política de diversificar parceiros comerciais.“Na década passada, o País promoveu missões para o mundo inteiro, menos para os Estados Unidos”, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A viagem da presidenta Dilma pode ser o início da reversão desse quadro.

Fonte: Isto é