Outros analistas afirmam que os norte-americanos ainda não podem ter certeza de que a Boeing irá perder a concorrência da FAB, mas que, pelo andar da carruagem, diante da linha geral da política externa brasileira - com simpatia ante Cuba e Síria - os norte-americanos se anteciparam em descartar a Embraer, por considerar que a política externa dos dois países nada tem em comum. E, como todos sabem, no setor de Defesa, nem um estilingue é comprado sem aceitação governamental. Este é um setor em que os homens de negócios nada conseguem sem apoio de diplomatas e generais. Além disso, as eleições norte-americanas estão forçando as autoridades a excessos de nacionalismo.
Minoria vê o caso apenas do aspecto empresarial, citando que a ação iniciada nos Estados Unidos contra a Embraer, embora sem decisão final, teria afetado a negociação. Os realistas, porém, lembram que, se os EUA vetaram venda de Super Tucanos para a Venezuela, há alguns anos, dificilmente iriam se tornar parceiros da empresa brasileira em seu território. O pior de tudo é que a Embraer sonhou alto. O pacote de US$ 355 milhões poderia triplicar e, se o avião entrasse nas boas graças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a Embraer se tornaria uma nova Vale.
Um analista independente afirma que a compra de jatos suecos permitiria à Embraer ter forte participação na nova versão do caça NG-New Generation. Para este técnico, o sonho da Embraer é o de repetir o que houve no caso do AMX, quando as italianas AerMacchi e Aeritalia abriram os segredos para a empresa brasileira e permitiram que a Embraer desse um salto de qualidade e prestígio. No dia 15 último, nos intervalos do II Seminário Estratégia Nacional de Defesa, realizado na Câmara Federal, falava-se a todo momento que os suecos continuavam na frente, rumo à vitória.
Nesse clima pesado, missão da Boeing chega ao Brasil na próxima semana. A julgar pelos últimos lances no xadrez da Defesa, o presidente da Boeing Military Aircraft, Cristopher Chadwick, em vez de lutar pelo FX-18 Super Hornett, vai gastar a maior parte de seu tempo visitando obras de Niemeyer em Brasília. E, em duas semanas, será a vez de Dilma desembarcar em Washington, de cara fechada ante a ríspida ação norte-americana contra a verde-e-amarela Embraer.
Nacionalismo
Desde o fim da II Guerra Mundial, os norte-americanos invadiram comercialmente o mundo. Não apenas puseram suas marcas em todos os continentes, como compraram empresas familiares e tradicionais em cada país. Mas tudo é diferente quando são estrangeiros que compram empresas por lá. Há quatro anos, quando um frigorífico brasileiro comprou uma antiga empresa americana, Hillary Clinton, então candidata à presidência, afirmou que aquilo era um ultraje a seu país. Em resumo: eles podem comprar o que desejarem, mas não devem vender suas empresas. A liberalidade funciona em mão única.
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