Quando a presidente brasileira, Dilma Rousseff se reunir com o presidente Barack Obama nessa segunda-feira na Casa Branca, os dois líderes provavelmente vão divulgar frases como “amizade profunda” e “parceria” e colaborações de destaque na ciência e na educação. Mas eles estão menos propensos a chamar a atenção para uma fonte recente de tensão entre os dois países – a disputa envolvendo a aquisição de aeronaves militares americanas.

O conflito começou em dezembro, quando a empresa brasileira de aviação e uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, a Embraer, através de uma parceria com a Sierra Nevada Corp de Sparks, Nevada, ganhou o contrato com a Força Aérea dos EUA, avaliado em US$ 355 milhões, para fabricar 20 aviões de combate para os militares do Afeganistão.

A empresa dertotada, a Hawker Beechcraft Defense Corp, com sede em Wichita, Kansas, queixou-se de um tratamento injusto e entrou com um processo. Depois do Departamento de Justiça encontrar erros de documentação, a Força Aérea suspendeu o contrato e agora está realizando uma investigação interna.

A reviravolta criou uma consternação no Brasil. O Ministério das Relações Exteriores do país manifestou surpresa e advertiu que “este desenvolvimento não é considerado propício ao reforço das relações entre os dois países relativo aos assuntos de defesa.”

A Embraer não é uma empresa estatal. Mas semelhante aos lobbistas norte-americanas que fazem pressão contra governos estrangeiros em nome de empresas americanas, líderes brasileiros promovem os interesses do seu próprio país.

O Ministro do Comércio e Desenvolvimento do Brasil, Fernando Pimentel, disse recentemente a jornalistas que espera que a Presidente Dilma levante essa questão com Obama.

O caso é importante para o Brasil. Numa altura em que a economia do país continua altamente dependente da exportação de commodities como soja e suco de laranja, e seu setor de fabricação está perdendo para as importações chinesas e uma moeda sobrevalorizada, a Embraer é uma grande fonte de orgulho aqui, um lembrete das capacidades técnicas e industriais do Brasil.

A empresa, que teve uma sede nos EUA, em Fort Lauderdale, na Flórida, desde 1979, tem tentado anteriormente quebrar a barreira do setor de defesa dos EUA. Ela ganhou dois contratos anteriores e arrendou aviões para a Marinha dos EUA, embora o Congresso depois tenha cancelado o programa.

Um congressista então a partir de Wichita, o republicano Todd Tiahrt, desempenhou um papel para matar o contrato em 2010, argumentando, como fez seu escritório num comunicado à imprensa, que “o planejado projeto brasileiro de locação da Marinha… teria custado aos contribuintes mais do que o preço de compra de uma aeronave fabricada por trabalhadores nos EUA.” Tiahrt deixou o cargo no ano passado, depois que ele concorreu sem sucesso para o Senado dos EUA.

Vencer a concorrência para fornecer aviões de ataque leve para a força aérea afegã foi visto, finalmente, como um sucesso para a Embraer superar o favoritismo americano.

As autoridades brasileiras dizem que a reversão do contrato destroem a política.

Uma questão que surgiu é se a Força Aérea mudou o seu processo de licitação para favorecer a Hawker Beechcraft, o AT-6 sobre o A-29 Supertucano da Embraer. Ambos são aviões com um único motor turboélice, projetados para operação de baixo custo.

De acordo com um artigo na revista Inside the Air Force, a Força Aérea mudou suas exigências para a aeronave, exigindo que a aeronave possa bombardear um alvo inimigo com suas armas calibre .50, enquanto carrega duas bombas de 500 libras. A exigência anterior exigia que as bombas fossem lançadas antes do uso dos canhões.

“A mudança é fundamental, porque realizam uma missão de metralhar com duas bombas grandes – a qual, inclusive exigindo equipamentos de designação, pesando mais de 1.200 libras – colocando uma grande quantidade de stress numa pequena estrutura”, observou o artigo. “Essa mudança exigiria que a aeronave tivesse uma energia adicional para subir enquanto carregava duas bombas durante um mergulho usando os canhões”.

A Hawker Beechcraft nega que tenha influenciado a mudança.

A empresa de Wichita tem queixas próprias. Por um lado, argumenta que o processo completo de revisão tem falta de transparência e entrou com uma queixa junto ao Government Accountability Office no ano passado alegando que não foi devidamente notificada de que tinha perdido a competição.

O GAO decidiu contra a empresa em dezembro e disse que Hawker Beechcraft tinha sido excluída porque “múltiplas deficiências e fraquezas significativas encontradas na proposta HBDC tornaram ela tecnicamente inaceitável e resultava num risco inaceitável de capacidade de missão.”

Outra questão foi suscitada sobre os atuais problemas financeiros da Hawker-Beechcraft. Notícias relatadas na semana passada disseram que a empresa está perto de declarar a falência.

A Embraer, enquanto financeiramente saudável, está sob investigação pela Comissão de Valores Mobiliários por possíveis violações do Ato de Práticas de Corrupção no Exterior dos EUA. O ato barra pagamentos a funcionários estrangeiros por empresas baseadas nos EUA em processos de contratação. A comissão não quis comentar sobre a investigação.

A política local também está em causa. Um dos principais argumentos da Hawker Beechcraft sobre o contrato é de que 1.400 empregos nos EUA, em Wichita, estão em risco se ela não ganhar o contrato. A Embraer responde que fez uma parceria com uma empresa baseada em Nevada, e que as aeronaves seriam fabricadas na Flórida.

A decisão sobre o contrato das aeronaves afegãs também pode afetar as perspectivas de outros negócios americanos. A Boeing, por exemplo, está se oferecendo para fornecer caças à Força Aérea do Brasil.

Fonte: McClatchy – via: Cavok

Nota: Para quem não lembra o Canhão do AT-6 é o mesmo do F-22 de nova tecnologia, mais leve e segundo se comenta guiavel. O avião da Hawker é menor e tem peso geral menor. Por isso nesse requesito "novo" levaria franca vantagem sobre o Super Tucano.