Até sexta-feira, diplomatas de dezenas de países buscam, sob orientação da ONU, um tratado para reduzir os efeitos colaterais do comércio global de armas. Na mesa, estarão propostas como maior rastreamento de componentes dos armamentos.
Mas as boas intenções podem esbarrar em duas tristes realidades: os países que são membros fixos do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha, continuam a ser os maiores vendedores do planeta; e a ainda próspera indústria bélica ajuda a conter a crise econômica.
Reportagem recente do jornal argentino ‘Clarin’ chamou a atenção para o fato de os Estados Unidos, maior vendedor do mundo, negociarem armamentos com 18 países envolvidos em confrontos armados, entre eles nações pouco democráticas.
Informe oficial do Departamento de Estado Americano, divulgado no dia 14 do mês passado, confirma que os negócios são, realmente, um remédio para a crise: as vendas militares dos Estados Unidos ao exterior desde o início do ano fiscal de 2012 atingiram o recorde de 50 bilhões de dólares, graças a acordos com a Arábia Saudita e o Japão para venda de caças.
Trata-se de um tremendo remédio: “Não acredito que um tratado global mude drasticamente isso. A venda de armas serve para amenizar a crise e tem papel político na relação dessas potências com alguns países”, observa o pesquisador de assuntos militares Expedito Carlos Estephani Bastos, da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Um dos maiores problemas que o tratado da ONU vai tentar resolver são legislações obscuras que permitem o mercado negro e a subnotificação de venda de armas às Nações Unidas. A grande questão é até que ponto o entendimento vai incomodar o bolso dos poderosos.
Brasil quer uma fatia do bolo bélico
O mercado mundial de armas movimenta 1,5 trilhão de dólares por ano. O Brasil planeja abocanhar uma fatia maior dele, e o Ministério da Defesa convocou grandes empreiteiras para entrar no ramo.
Expedito Carlos Estephani Bastos afirma que investir em pesquisa teria mais importância estratégica e permitiria à indústria voltar a ter destaque internacional. “Parcerias com empresas estrangeiras sem transferência de tecnologia não seria bom para o País”, opina.