Furiosos após as revelações de escutas telefônicas e vigilância de suas instituições pelos Estados Unidos, os europeus exigiram nesta segunda-feira o fim imediato de qualquer programa de espionagem, ameaçando bloquear futuras negociações, enquanto Washington tenta minimizar o caso.
A França "não pode aceitar esse tipo de comportamento", que deve terminar "imediatamente", reagiu o presidente francês, François Hollande, primeiro chefe de Estado a comentar de forma firme as suspeitas de espionagem americana. "As provas reunidas são suficientes para exigirmos explicações", acrescentou.
Sem fazer referência direta à criação de uma zona de livre comércio transatlântico, que deve ser discutida ainda este mês, François Hollande considerou que negociações e transações com os Estados Unidos podem ocorrer apenas "quando forem obtidas garantias" do fim da espionagem contra a União Europeia (UE) e a França por parte de uma agência de inteligência americana.
Na Alemanha, um porta-voz de Angela Merkel, Stefen Seibert, disse que os Estados Unidos deveriam "restaurar a confiança" com seus aliados europeus.
"Europa e Estados Unidos são sócios, amigos, aliados. A confiança tem que ser a base de nossa cooperação e deve ser restabelecida neste campo", disse Steffen Seibert.
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A Grécia exigiu, por sua vez, "esclarecimentos" de Washington.
A revista alemã Der Spiegel, com base em documentos revelados por Edward Snowden, ex-consultor de uma empresa que prestava serviços à Agência Nacional de Segurança (NSA), revelou no domingo que a NSA espiona há anos edifícios oficiais da UE nos Estados Unidos e em Bruxelas, além de cidadãos no mundo inteiro.
Segundo o veículo, a Alemanha seria um dos principais alvos de espionagem.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, França, Itália e Grécia também estão entre os 38 "alvos" monitorados pela agência americana.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, pediu para que o controle da segurança dos edifícios da Comissão em Bruxelas seja reforçado, anunciou o seu porta-voz.
O secretário de Estado americano, John Kerry, admitiu nesta segunda-feira que "não é incomum" buscar informação sobre outros países, mas recusou-se a comentar a polêmica provocada pelas alegações de espionagem da NSA, à margem de uma reunião em Brunei.
"Posso dizer que todos os países do mundo que estão envolvidos em assuntos internacionais, de segurança nacional, realizam muitas atividades para proteger sua segurança nacional, e ter todo tipo de informação contribui para isso", explicou, após se reunir com a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
"O que sei é que não é incomum em muitos países", disse Kerry, "mas não farei mais comentários até conhecer todos os fatos e saber exatamente de que se trata", acrescentou.
"Nós cooperamos com a Europa em tantos assuntos, estamos tão próximos em razão de nossos interesses no mundo que nossas relações continuarão fortes", acrescentou Ben Rhodes, vice-conselheiro de segurança nacional do presidente Barack Obama. "Vamos trabalhar com eles (os europeus) em questões de segurança, de economia e, sinceramente, também compartilhamos um monte de valores democráticos que, acredito eu, transcendem qualquer controvérsia", acrescentou.
Diante do dilúvio de documentos vazados pelo ex-consultor americano da NSA Edward Snowden, a UE ameaçou inclusive com possíveis consequências sobre a negociação de uma zona de livre comércio transatlântica.
"Se for confirmado que os americanos espionaram seus aliados, teremos consequências políticas. Isto supera de longe as necessidades da segurança nacional. É uma quebra de confiança", disse à AFP uma fonte europeia.

Fonte: Terra