Nei Brasil, da Flight, que faturou R$ 6 milhões em 2012: "Neste ano vamos crescer ainda mais, só não sei ainda quanto"

Em 2005 o engenheiro gaúcho Nei Brasil havia concluído seu mestrado no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), morava em São José dos Campos - onde se situa a prestigiada escola - e tinha uma oferta de emprego na Embraer, uma das maiores fabricantes de aviões do planeta, e cuja sede também fica nessa cidade do interior paulista. Tudo indicava que ele seguiria a tendência natural de quem se forma no ITA, ou seja, ingressar na Embraer. Mas não. Ele resolveu arriscar e junto com seu colega engenheiro Benedito Maciel abriu negócio próprio.

Deu certo. No ano passado a Flight Technologies, mesmo ainda novata, já era reconhecida pelo no mercado e chegava a um faturamento de R$ 6 milhões. Focada no desenvolvimento de sistemas aeronáuticos, a empresa foi o primeiro empreendimento apoiado pela incubadora de negócios do ITA. "Em 2013 vamos crescer ainda mais, só não sei ainda quanto", brinca.

Desde a sua criação, a Flight atuou para dar suporte ao desenvolvimento de sistemas robóticos em projetos do Ministério da Defesa. A partir de 2007 a companhia passou a praticar uma estratégia de negócios mais ampla e especializou-se na fabricação de veículos aéreos não tripulados (Vants) - também chamados de drones - e passou a atuar no desenvolvimento de equipamentos eletrônicos (aviônicos) integrados a esses aparelhos. Ainda em 2007 conquistou contratos com o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) e com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Na visão do empresário, o plano Inova Aerodefesa vai permitir consolidar as plataformas tecnológicas da Flight, o que deverá garantir o sua competitividade "nas próximas décadas". Ele diz que a empresa se manterá focada no seu negócio de Vants, ao mesmo tempo em que fortalece os sistemas de navegação e controle (SNC) para plataformas e armas. "Nessas linhas, teremos novos produtos e novas capacitações, o que também embasará diferentes spin-offs [cisão e transferência de tecnologia] para outros setores industriais."

No primeiro semestre de 2012, a Flight venceu uma licitação para desenvolver tecnologias avançadas de decolagem e pouso automáticos para a Aeronáutica, com contrato de R$ 1,3 milhão. Esse contrato está incluído num projeto mais abrangente da Aeronáutica, chamado de Sistema de Decolagem e Pouso Automáticos para Veículo Aéreo não Tripulado (DPA-Vant).

O projeto é gerenciado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos, e conta com o apoio do Ministério da Defesa. O desenvolvimento de um sistema de decolagem e pouso automáticos é uma nova fase do Projeto Vant, iniciado em 2005 pelo departamento aeroespacial. Nei Brasil explica que a Flight foi contratada para fazer toda a parte de inteligência do sistema, ou seja, as leis e algoritmos de controle da aeronave. "Esses são elementos essenciais para o sucesso da técnica de pouso e decolagem automáticos", explica.

O executivo da Flight conta também que a empresa está desenvolvendo e vendendo Vants junto com o Exército. "As Forças Armadas ainda estão engatinhando nessa área, mas a perspectiva futura é positiva", afirma. "Para o Exército desenvolvemos um Vant de 70 quilos para fazer vigilância de fronteira e de alvos como grandes hidrelétricas, e para ser utilizado junto com a artilharia em atividades de "busca de alvo e avaliação de danos", pela qual o Vant determina a posição dos alvos e observa como estão indo os tiros, para a posterior correção", diz, acrescentando - para dar uma base de comparação - que os menores Vants que a Flight fornece para as Forças Armadas têm 2,7 metros de envergadura e pesam 6 quilos.

"Os modelos pequenos são muito usados para fazer vigilância a curta distância, algo como 10 ou 15 quilômetros, principalmente nas fronteiras do país para fazer monitoramento de tráfico de drogas e contrabando", afirma Nei Brasil.

Ele informa ainda que o Exército pode utilizar os Vants para vigilância e monitoramento em grandes eventos. "Na Copa do Mundo de 2014 esses veículos podem dar apoio ao deslocamento de comboios, fazer segurança perimetral de grandes áreas - como alguns hotéis onde vão estar hospedadas as delegações internacionais - e também nas cercanias dos estádios, para dar suporte às operações de garantia da ordem quando houver grande concentração de público", exemplifica.

Fonte: Valor Econômico