O acordo de fusão anunciado nesta quarta-feira (2) pela Oi e a Portugal Telecom pode ajudar a reduzir as dívidas da companhia e tornar a operadora brasileira mais competitiva. Por outro lado, a criação da multinacional CorpCo sepulta definitivamente o projeto de criar uma "supertele verde e amarela", com sócios majoritários brasileiros, segundo analistas do setor ouvidos pelo G1.
"O projeto como foi concebido inicialmente pelo governo, de uma tele puramente brasileira, 100% nacional, com ambições internacionais, isso foi enterrado hoje", avalia Ari Lopes, da Informa Consultoria. "O que vem no lugar, entretanto, é algo bem mais realista, factível e positivo, pois a Portugal Telecom é o único sócio do grupo de controle que é do ramo, e é uma empresa que conhece o Brasil e tem visão de longo prazo", completa.

Em 2008, a Oi (antiga Telemar), uniu-se à Brasil Telecom. Para que a operação fosse realizada, porém, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) precisou alterar o Plano Geral de Outorgas de Serviços de Telecomunicações (PGO). Além disso, o governo federal mobilizou bancos estatais e fundos de pensão, que ajudaram a financiar a reestruturação acionária da empresa, que tem como maiores acionistas nacionais, a Andrade Gutierrez e a La Fonte, de Carlos Jereissati.
Para o consultor de telecomunicação Virgilio Freire, ex-presidente de Vésper, a ideia de supertele começou a ruir em 2010, quando a Portugal Telecom adquiriu uma participação de 22,4% do capital da Oi, num negócio estimado em R$ 8,4 bilhões.

"Essa ideia que o Lula tinha de campeões nacionais foi literalmente para o brejo. A Oi nunca esteve bem e em condições de se internacionalizar. Não tem operação boa e está nas mãos de grupos privados que só entraram lá para ter lucro", critica o consultor.
Para Ari Lopes, a fusão deverá trazer mais estabilidade para a gestão da Oi e maior tranquilidade ao mercado. "Os sócios estavam ali basicamente querendo retorno sobre o investimento. Reflexo disso é que mesmo com a receita caindo e lucro baixo, a Oi nunca nunca mudou a política de pagamento de dividentos, o que é problematíco num setor que precisa investir capital intensivo", diz.
Setores do mercado já especulavam sobre a união das duas companhias, em apostas que foram reforçadas depois de de junho, quando o executivo Zeinal Bava deixou o comando da Portugal Telecom para presidir a Oi.
Empresa brasileira ou portuguesa?
O acordo anunciado nesta quarta prevê um aumento de capital de pelo menos R$ 13,1 bilhões na operadora brasileira e a criação de uma operadora multinacional com operações envolvendo uma população de 260 milhões de pessoas e mais de 100 milhões de clientes, incluindo Brasil, Portugal e países da África.
Para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a maior parte do capital da nova empresa vai continuar na mão de investidores brasileiros. Os analistas consultados pelo G1, porém, afirmam que ainda há dúvidas sobre a divisão acionária da companhia.
"Como vai ter capital dos dois lados, não está claro. Mas eu diria que se vai ser uma empresa luso-brasileira", analisa Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, destacando que o acordo de fusão prevê aumento de capital, o que pode diluir participação de alguns dos atuais acionistas. "O grande desafio da nova empresa será o mercado brasileiro, que é grande, exige altos investimentos, e a Oi tem um endividamento alto", completa.
O ex-ministro das Comunicações e sócio da Orion Consultores, Juarez Quadros, avalia que, por enquanto, a maior parcela de ações da futura nova empresa pende mais para o lado brasileiro. "Como a companhia será listada no segmento Novo Mercado da Bovespa, as ações serão muito pulverizadas. Mas eu diria que se trata agora de uma supertele luso-brasileira", afirma.
Para ele, o discurso em defesa de uma supertele nacional foi feito muito mais com o objetivo de garantir a fusão entre a Oi e a Brasil Telecom. "É impossível garantir uma empresa genuinamente nacional, exceto em países muito fechados", diz Quadros, que considerou a nova união positiva.
"A Oi passará a ter agora uma projeção multinacional, vai passar a operar além da fronteira e tem a seu favor o fato do Brasil ser a principal aposta para novos aportes e o mercado que a Portugal Telecom mais vê potencial de crescimento", avalia.
Capital pulverizado e gestão 'mais portuguesa'
As companhias afirmaram que os atuais acionistas da TelPart (Telemar Participações), controladora da Oi, e um veículo de investimento administrado e gerido pelo BTG Pactual, participarão da operação de aumento de capital com subscrição de cerca de R$ 2 bilhões. Ao final do processo, acionistas da Portugal Telecom terão 38,1% da CorpCo.
Para Ari Lopes, apesar da pulverização do capital, a gestão e direção estratégica da nova companhia deve acabar sendo definida pela parte portuguesa. "É preciso aguardar para ver como é que os parceiros e fundos de pensão vão se posicionar, mas se será mais brasileira ou mais portuguesa é mais ou menos como perguntar hoje se a InBev (empresa resultante da fusão entre a belga Interbrew e a brasileira AmBev) é brasileira", compara o consultor.
Em entrevista, Zeinal Bava, que será o CEO da CorpCo e suas subsidiárias, afirmou que foi identificado na operação de fusão "mais de R$ 5 bilhões em sinergias".
O consultor Virgilio Freire afirma ter dúvidas de que a união, mesmo após a reestruturação das companhias e provéveis cortes, resultará em aumenta da lucratividade. "É uma fusão do coxo com o manco, não pode dar uma boa coisa", opina.
Para Lopes, da Informa, além dos ganhos operacionais, a união também poderá ajudar as companhias na relação com os seus credores. "Os dois grupos estão com problemas de dívidas. Separados e endividados, poderiam seguir o caminho de uma Telecom Itália, com alguma gigante chegando para comprar os pedaços. Juntos, começam a dar uma resposta mais forte para o mercado e se começa a ter uma perspectiva de redução de custos", conclui.

Do G1